Ética e Psicanálise
COSTA, Irene Cristina dos Santos
Basicamente, a questão da Ética na Psicanálise define-se como o comprometimento do indivíduo e o respeito consigo próprio, já que Lacan propõe “não te afastes do teu desejo”. E mais, ele diz que “cada um se module de acordo com sua própria história pessoal, indo um pouco mais além”. Também Kant afirma que a ética trata-se “de uma transformação pessoal, de uma necessidade subjetiva de ir além de si mesmo.”
Essa teoria vai de encontro ao que os filósofos revelam como atitude ética, isto é, a relação com o objeto, não com o sujeito, em função da valorização da virtude e não do desejo e sua realização. Assim, nota-se que boa parte da filosofia toma a ética sob a noção de conjuntos de regras que norteiam a conduta do cidadão frente à sociedade, regras e princípios que determinam o que é ou não virtuoso.
Para a Psicanálise, no entanto, a questão Ética define a relação do indivíduo consigo mesmo como pessoa, com atitude de subjetivação em função de suas zonas erógenas e todas as pequenas partes de seu ser, de descoberta pessoal confronto com seu eu.
A Psicanálise, nesse sentido, diferente das ciências exatas e biológicas define como noção de experiência o fato dela começar pela implicação subjetiva em direção a uma objetivação. Ou seja, a experiência analítica se estabelece frente ao se tomar o conteúdo da verbalização do indivíduo e a significação dos símbolos baseado nos mitos segundo Freud ou na linguagem de acordo com Lacan, não ao que pode ser mensurado, experimentado cientificamente. E, conforme Levi-Strauss, o papel do o mito, nesse caso é de um esboço que se articula para suportar certas contradições psíquicas, mas que não estabelece explicações científicas, apenas representações simbólicas das forças do inconsciente, que burlam os mecanismos de defesa e vêm à tona em forma de atos falhos, negações, repetições, etc.
Conclui-se dessa forma que o inconsciente, segundo a teoria psicanalítica, não é um lugar das trevas, porém algo parecido a dinâmica das águas do mar, onde as forças subjetivas do eu se fixam enquanto não conseguem vir à tona. Para Lacan, o inconsciente está estruturado como uma linguagem que precisa passar do simbólico para o real embora muitas vezes o real seja impossível ao sujeito; o objeto do desejo se estabelece no equilíbrio entre o real, o imaginário e o simbólico, na estrutura de suas ressignificações.
Logo, seja na experiência ética da Psicanálise proposta por Freud ou Lacan o indivíduo é um ser em metamorfose, ou seja, em transformação pessoal, em busca de sua subjetividade o que não caracteriza como um ser passivo, mas ao contrário, um ser que estará sempre em busca da realização do desejo que se concretiza no gozo, o que determinará suas ações e atitudes e o seu comportamento ético.