O que Deus fazia antes de começar a produzir o universo, perguntam os cientistas? Pois se houve um começo, esse começo precisou ser iniciado de alguma forma. Esse é o problema da ciência. Ela não consegue ir além do átomo inicial, chamado por eles de Grande Singularidade. Esse átomo era, segundo Hawking, era uma região existente no nada cósmico, tão densamente carregada de energia, que um dia explodiu. Essa explosão, ocorrida talvez há uns quinze bilhões de anos é o chamado Big Bang. A partir desse momento, o universo, que estava contido nessa região, tornou-se uma imensa bolha de gás que nunca mais deixou de se expandir.[1]
     Pode ser. Por que não? A Bíblia diz que primeiro Deus criou o céu a terra. (Não seriam o éter e o átomo?) Mas a terra estava vazia e sem forma. Então ele fez a luz, tirando-a das trevas.[2] Haja luz, Ele disse. Isso quer dizer: a luz já existia antes de o  mundo ser feito. Ela estava presa nas trevas. O que Deus fez foi libertar a luz das trevas. 
     Os cientistas inventaram um curioso nome para essa “luz que estava presa nas trevas”, antes do surgimento do universo. Elas a chamam de “luz interdita”. "Luz interdita", cientificamente, é a energia que está presa dentro do núcleo do átomo de um material pesado como o urânio, por exemplo. Não é possível vê-la, nem detectar a sua existência, nem medir a sua potência, mas eles sabem que ela está lá por causa das projeções que emite: radiação, magnetismo, gravidade, etc.  Quando esse núcleo é rompido, a energia liberada solta ondas de calor e radiação tão intensas que queima tudo que existe em quilômetros à sua volta. Isso é que conhecemos como explosão de uma bomba nuclear.
    "Luz interdita" é também a luz que fica presa num buraco negro. Buraco negro é uma região no espaço onde a gravidade é tão forte que nem a luz consegue escapar dela. Hawking diz que existem milhões de buracos negros no universo, feitos de estrelas que já morreram para este mundo há milhões de anos, mas sua luz só está chegando á terra agora..[3]

 
     O que diz a tradição cabalística sobre isso? Em primeiro lugar, para aquilo que os cientistas não ousam nomear, isto é, O Que Deus era Antes De Ser O Universo, os cabalistas têm um nome: Existência Negativa. Eles o representam através de um símbolo  chamado o Grande Imanifesto, a primeira causa de todas as causas, a qual, por si mesma manifestou-se em Luz como diz a Bíblia.[4] Mas antes disso, antes dessa primeira manifestação, Ele era (e ainda é) Existência Negativa, ou seja, Potência, Energia desconhecida e imanifesta, mas existente e real, porque sua influência já podia ser detectada no mundo fenomênico antes mesmo que ele existisse como realidade observável. É como a energia presente dentro do átomo. Não podemos vê-la, não sabemos o que ela é, mas sabemos que ela existe porque seus efeitos são sentidos no mundo da realidade manifesta. Ela emite radiação.
 
     Os cientistas sustentam que toda partícula de matéria (e portanto todas as coisas que existem no mundo) tem um correspondente de anti-matéria em uma outra dimensão do universo. A existência dessa partícula é necessária para o equilíbrio da energia universal. Esse equilíbrio é sustentado por forças iguais e contrárias, mas de forma alguma antagônicas, pois são complementares. Por isso os antigos filósofos gnósticos diziam que o Diabo era a outra face de Deus. (Demo est Deum Inversus).
     Na antiga antfilosofia chinesa essas forças são conhecidas como yang/yin, o positivo e o negativo, o masculino e o feminino. Esse conhecimento foi deduzido a partir de uma intuição matemática, expressa nos números reais, positivos e negativos. Todo positivo tem o seu negativo, expresso em igual medida e potência energética. Assim, na escala universal dos valores, o equilíbrio é alcançado pela equivalência de potência positiva e negativa.
     Para que possamos existir na realidade do mundo físico, nós também temos que ter uma equivalente de nós, na forma de anti-matéria, em alguma dimensão do universo. Como diz Hawking, se dia você encontrar com o seu duplo, não tente apertar a mão dele. Você desapareceria numa explosão luminosa.[5]
   
    Já na mecânica do universo essas forças são a relatividade e a gravidade. Uma faz o universo se expandir, outra o faz se agrupar.
     Segundo a Cabala há quatro planos de manifestação positiva da atividade de Deus e três de manifestação negativa. Os planos de manifestação positiva (depois que Deus começou a criar o mundo físico) são chamados de Atziloth (mundo da origem), Ietzirah (mundo da formação) Briah (mundo da criação), Assiah (mundo da matéria). Os três planos de manifestação negativa (antes de Deus começar a criar o mundo físico) são chamados de Ain (a Existência Negativa, Espírito, Anti-Matéria), Ain Soph, (o Ilimitado, Deus Potência, Energia) e Ain Soph Aur, (a Luz Ilimitada). Desse modo, a Séfira chamada Kether é, ao mesmo tempo, o último plano de Existência Negativa (AinSophAur, Luz Ilimitada) de Deus e o primeiro de Existência Positiva (Atziloth, a Luz Manifestada).

     A Cabala ensina ainda que Deus fez o universo físico com três elementos da sua essência: a luz (sua energia manifestada em forma de eletricidade, magnetismo, calor etc.), o som (a Palavra Sagrada, o Nome Inefável de Deus) e o Número. Daí o fato de o alfabeto hebraico, sistema de escrita que combina letras (som) e valores (números) ser considerado uma escrita sagrada, ensinada aos homens pelos anjos, a mando do próprio Deus. Isso explica também o fato de o Verdadeiro Nome de Deus ser considerada uma palavra sagrada, que nunca deve ser pronunciada em vão. Explica também o fato de alguns povos, como os gregos, na época de Pitágoras, por exemplo, cultivarem o número como sendo, ele mesmo, uma divindade. 
   
        A visão bíblica é análoga ás modernas teorias cientificas que mostram um universo nascendo de um átomo primordial que, não podendo conter em si a formidável densidade energética que acumulou, explodiu, enchendo de luz o vazio cósmico; e a luz, por um processo de condensação, foi se tornando cada vez mais densa, se transformado em massa, dando como resultado o universo como hoje o conhecemos. Daí a formidável intuição de Einstein, que resultou na equação fundamental do universo: E= mc².
     Galáxias, estrelas, planetas, são condensações de luz, formadas pela ação da gravidade. De uma maneira geral, todos os cientistas concordam que se gravidade fosse retirada do universo, a luz também desapareceria e todo o universo desabaria sobre si mesmo.
     Por seu turno, Hawking nos mostra que existem no universo duas leis que regem a sua formação: a lei da expansão e a lei da atração.  Essas duas leis podem ser entendidas com relatividade e gravidade. A primeira se manifesta na forma de eletricidade e a segunda em forma de magnetismo.[7]
      A primeira é a energia primária que emanou do Big-Bang. A explosão inicial faz a energia liberada da explisão inicial viajar em todas as direções e desde então o universo está em constante expansão. Essa força, essa energia inicial, ao mesmo tempo em que fez nascer e faz crescer o universo em sua forma  física,  provoca também um imenso caos, pois essa energia, viajando em todas as direções, não tem direção nem organização. É como uma bomba que explode e atira fragmentos para todos os lados.
       Por isso há uma outra lei que impede que o universo se torne um imenso caos sem sentido nem finalidade. É a lei da gravidade. Se não fosse ela, o universo seria  como uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Graças à gravidade, a força inicial, que impele o universo a uma incontrolável expansão, é controlada através de uma retração, ou seja, uma força que atua no sentido contrário à essa expansão, forçando corpos maiores a reter em suas órbitas os corpos menores, formando assim os sistemas cósmicos, ou seja, as galáxias e os sistemas solares.
      Dessa  maneira a ordem é posta no cosmo, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se organizam. A primeira é feita de átomos, os átomos se juntam para formar moléculas e as moléculas se juntam para formar os elementos químicos. Análogamente, a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar órgãos e estes se reúnem em sistemas.
     Assim, relatividade e gravidade são duas forças contrastantes que “lutam” no infinito cósmico, mas não são conflitantes, pois elas se complementam, promovendo o equilíbrio universal. Na filosofia chinesa essa energia é o chamado Tao, equilíbrio entre masculino/feminino, ou yang/yin, como são conhecidos. Essas forças são como as margens de um rio. Uma precisa da outra para manter a torrente em equilíbrio. Sem duas margens antagônicas não existe rio.
     Isso mostra que só pode haver equilíbrio na presença de duas forças semelhantes. E Criação também. Na dinâmica da Bíblia, o Criador precisou de duas forças contrárias para dar início à criação. A Luz e as Trevas. E simbolizou uma delas como noite, outra como dia. Ou, para dar símbolos mais precisos à essas forças, deu o nome á uma de sol, á outra de lua.

     A ciência só consegue chegar até o “átomo primordial”, ou seja, um “ponto de energia” tão densamente carregado, que dentro dele a relatividade deixa de existir. O Cabalista toma como ponto de partida do inicio do universo material uma séfira chamada Kether. Antes disso era a Existencia Negativa do Grande Imanifesto. Essa séfira também é conhecida como Inteligência Admirável, Primeira Lei, Número Um, Vasto Semblante, Macroprosopo, etc. As tradições religiosas dos povos antigos representavam essa idéia através de uma circunferência cujos raios estão em toda parte e cujo centro está em lugar algum. Nas tradições gnósticas e na religião dos antigos egípcios era o chamado “Ovo Cósmico”.[8]

 
     Dizem ainda os mestres cabalístas que o universo é uma forma mental projetada pela mente de Deus, como se fosse um plano de arquitetura pré-concebido e estruturado com extrema precisão. Esse plano é demonstrado admiravelmente na extraordinária simbologia da Árvore da Vida. Nesse desenho fantástico, onde a intuição dos mestres cabalistas superou seus próprios conhecimentos das manifestações divinas no mundo das realidades observáveis, encontramos um projeto extremamente sugestivo do cosmo, com suas visões passadas, presentes e futuras, com todas as suas especificações e finalidades.
Nessa visão estrutural do plano cósmico, fica mais simples encontrar um lugar para todas as intuições humanas, que a nossa mente, por falta de uma linguagem apropriada, não consegue explicar. As realidades da metafísica, que tanta perplexidade causa aos estudiosos, assumem contornos mais visíveis, mais inteligíveis e mais belos até, porque nesse caso eles vêm vestidos de uma simbologia que nos enche os olhos e uma poesia que nos alegra a alma.
      Não é pois, sem razão, que a Maçonaria ─ aos nossos olhos uma experiência social e espiritual com um pé firmemente apoiado na doutrina cabalística ─ chama Deus de Grande Arquiteto do Universo e a Loja, onde se  reúnem os Irmãos, foi concebida como um simulacro do universo descrito na Árvore da Vida. Nessa visão cósmica do processo de construção do edifício universal, a divindade é vista como um arquiteto que projeta o edifício e depois os seus  mestres construtores, os arcanjos, e os seus pedreiros, os homens, o constroem. Nesse mesmo sentido, a Loja é vista como um laboratório de alquimista, onde o psiquismo dos Irmãos ali reunidos é carregado de energia criadora, catalizadora das melhores virtudes e dissolvente dos maiores vícios.[9]
Essa visão se justifica plenamente, pois na construção de um edifício, quanto mais sofisticado ele for, mais encontraremos noções de ciência aplicada. Nele se aplicam conhecimentos de física, química, geologia, sociologia, matemática, astronomia e muitas outras disciplinas, necessárias á perfeita construção e adequação do edifício às necessidades que ele visa atender. É o que dizia Fulcanelli, por exemplo, quando se referia á catedral gótica, no seu entender, um verdadeiro santuário de tradição e aplicação das ciências físicas e sociais[10] Por outro lado, são muitas as tradições que sustentam ser o organismo humano, integrado á sua parte espiritual, uma cópia do próprio universo, do qual reflete sua formulação mecânica e suas leis de formação e desenvolvimento. Essa analogia entre o homem e o universo se revela no postulado, tão caro aos hermetistas, mas já bem aceito por cientistas de renome, de que no microcosmo (o homem) se repetem as mesmas leis que formatam o macrocosmo (o universo).[11]
 
Se tudo isso é verdade provada ou mera especulação, só  Deus poderia dizer. Nós só podemos deduzir e acreditar ou não. Mas há algumas coisas que não podem ser ignoradas. Uma delas é o que diz a teoria da evolução. Segundo essa teoria, todas as espécies vivas são "fabricadas" pela natureza com um "programa" específico que as submete a um processo evolutivo inexorável. Esse “programa” é necessário tendo em vista as constantes mudanças ambientais a que o universo está sujeito. A espécie que não consegue adaptar-se à essas mudanças acaba sendo substituída por outras mais competentes.
Essa é uma lei existente na vida das espécies, chamada pelos estudiosos de lei dos revezamentos. [12] Ela existe para promover uma necessária evolução nas espécies por ela produzidas, por meio do aperfeiçoamento das suas capacidades. Não se aplica somente ás espécies vivas, mas á toda a realidade universal, inclusive aos elementos químicos e a matéria bruta em geral. Pois todos os elementos químicos e físicos também são obtidos por interação de seus componentes, da mesma forma que as espécies vivas. Quer dizer, repete-se na matéria bruta os mesmos processos que formatam a matéria orgânica e tanto uma quanto a outra estão sujeitas ás mesmas leis de nascimento, formação e desaparecimento, que se dá pelo fenômeno da transformação seletiva.

Por isso, a teoria da evolução é mais inteligível na doutrina da Cabala do que nas outras tradições religiosas. Aqui ela é representada por um desenho mágico ─ filosófico, chamada Árvore Sefirótica, ou Árvore da Vida, esquema místico que representa as manifestações da divindade no mundo das realidades sensíveis. Nesse desenho, cada séfira é uma fase de construção do universo e reflete um processo de evolução perene, constante e ordenado, que serve tanto para explicar o processo de construção das realidades do mundo material, como das realidades do mundo espirituail.
Ela mostra o mundo como se ele fosse um lago que transborda e vaza para outro lago, até formar o grande mar universal, onde todas as formas de existência, físicas e orgânicas, podem ser encontradas. Essa visão não deve ser considerada uma alucinação mística nem apenas uma especulação metafísica. Sabemos que quando dois elementos químicos se juntam eles formam um composto. Conservam suas instâncias particulares, mas também formam um terceiro elemento com diferentes propriedades. O composto, que é o filho nascido dessa união, possui as propriedades dos elementos que o formaram e agrega aquelas que são desenvolvidas por ele próprio. Nisso constitui o segredo da teoria da evolução. Dois átomos de hidrogênio combinados com um de oxigênio formam uma molécula de água. A água é um composto, "filho de H²0," que tem H (hidrogênio) e O (oxigênio) na sua composição, mas também tem outras propriedades que seus "pais", individualmente, não possem. Ela tem a propriedade de gerar a vida. A água é necessária à vida. É o estofo da vida.
Assim também acontece com o restante do universo. Cada fase da evolução é uma combinação de elementos. Cada nova fase desenvolve suas próprias particularidades, que são as propriedades com as quais ela contribui para o desenvolvimento do universo como um todo. Por isso cada fase constitui um passo a mais no processo de evolução, porque o composto que nasce da união dos elementos é sempre um resultado mais complexo dos que os elementos que o formam. Nada se perde do que já foi conquistado, apenas se transforma em algo novo. E o novo é sempre maior que a soma das suas partes.  Novas propriedades são adicionadas ao universo a partir de cada nova interação.
 
Um plano de evolução do mundo físico e da vida em seus aspectos material e espiritual é o que nos proporciona a doutrina da Cabala. Ela oferece uma explicação de como o universo se forma, como se desenvolve e a que finalidade se presta. Da mesma forma a vida que se cria e evolui dentro dele. A missão do homem, nesse esquema, se torna clara e insofismável, sendo ele uma presença indispensável nesse processo.
Assim, não podemos compartilhar dos receios daqueles que temem pelo futuro da humanidade. A humanidade jamais perecerá: ela apenas se transformará. Os cientistas, adeptos da teoria da evolução, dizem que a humanidade evoluiu de uma matriz animal até a configuração que temos agora. Os religiosos, adeptos da teoria da criação, dizem que nós nascemos perfeitos, mas nos tornamos imperfeitos por força de uma série de quedas e ascensões em nosso processo evolutivo. São duas teorias diametralmente opostas. Uns dizendo que já fomos piores do que somos hoje e outros sustentando que já fomos melhores. Mas no fundo elas se completam, pois ambas sustentam que a vida está submetida á um processo de evolução que é inexorável. Se nascemos rastejantes como répteis e num processo de evolução nos alçamos até a altura dos céus, ou se nascemos nos céus e por um motivo qualquer descemos á terra e agora estamos nos esforçando para voltar ao céu, são apenas formas diferentes de ler o mesmo processo. Uma vai do pé para a cabeça, outra da cabeça para o pé. Aceitar uma ou outra depende da crença de cada um.
Para nós não importa saber quem tem razão. Na verdade, o que nos parece tão assustador com os rumos que a humanidade vem tomando é resultado apenas da nossa ignorância. Não temos como saber o que poderá acontecer a cada nova experiência interativa que os elementos do universo promovem. Isso porque Deus colocou nesse processo uma lei chamada “principio da incerteza” (em física, chamado de Princípio de Heisenberg). Segundo esse princípio, é impossível prever o que acontecerá no futuro porque não temos como saber qual a posição e a velocidade que as partículas de energia que formam a massa física do universo assumirão no momento seguinte da sua aceleração. Como tudo no universo é formado por interação de partículas (quantas de energia), não há como saber como ele se apresentará em cada momento no seu futuro. Só podemos estudar as tendências que ele tem de acontecer de certo modo, mas nunca uma certeza de que será exatamente assim. As tendências de uma partícula se comportar desta ou daquela maneira só podem ser deduzidas a partir dos seus comportamentos no momento em que são observadas, isto é, no presente. E como seus movimentos são influenciados pelo comportamento do próprio observador, o futuro será sempre imprevisível para o homem, conquanto possa estar já perfeitamente delineado na mente divina.
Isso é válido para o mundo da física quântica e também para a nossa vida em geral. Essa é uma boa sabedoria que a moderna física nos dá. E a Cabala também.  A ciência nos diz que por mais que o nosso medo, ou os nossos melhores desejos, queiram prever o que virá no futuro, essa projeção será sempre uma mera conjectura, seja ela obtida por meios científicos ou por visões intuitivas.
A sabedoria da Cabala nos diz que o universo sempre existirá porque ele sempre existiu, mesmo antes de se manifestar na forma como hoje o conhecemos. Ele era o “Espírito de Deus”, conforme diz a Bíblia. Ele era um “campo de energia que existia de outro modo”, dizem os cientistas.  Por isso é que os textos cabalísticos dizem que antes de Ele se manifestar como realidade positiva ele era uma “Existência Negativa”, que já continha em si todos os germes das vidas futuras. [13]  Ele era energia latente, condensada, densa, presa dentro de um espaço-zero absoluto, sujeito á mais extrema pressão. E foi pela força dessa pressão que Ele “vazou” para além de si mesmo, se tornando Existência Positiva.[14]
Se o universo futuro será bom ou ruim para nós, isso não importa. Primeiro porque isso não nos será dado saber á nível de consciência humana. Segundo, porque bem e mal são conceitos puramente humanos. Quando não formos mais o que somos hoje, talvez não precisemos mais desses conceitos para justificar os nossos sentimentos a respeito. Dessa forma, o que podemos dizer com certeza é que o mundo só não teria futuro se Deus não existisse. Mas Ele existe.

 
 
[1] Stephen Hawking- . Uma Breve História do Tempo. São Paulo, Círculo do Livro, 1998.― O Universo Em uma Casca de Nóz- ARX, São Paulo, 2002
[2] - Gênesis 1:1, 2
[3] Idem, Stephen Hawking, op citado, pg.
[4] Gênesis, 1:3
[5] Ibidem, pg. Na Bíblia essa dualidade é referida em várias de suas histórias. Satanás e Jeová, Miguel e Lúcifer, Cain e Abel, Esaú e Jacó, Saul e Davi, Jesus e Judas Iscariotes, são exemplos dessa dualidade, sem a qual a
própria História não pode acontecer.
[6] “De fato”, escreve Stephen Hawking (Uma Breve História do Tempo, pg 22) “ parece que houve um tempo, em torno de dez ou vinte bilhões de anos atrás, em que os átomos estavam todos no mesmo lugar e a densidade do universo era infinita. Essa descoberta trouxe a questão do começo ao domínio real da ciência.” 
[7] Idem, op citado, pg.
[8] A visão de que o universo saiu de um “ovo” era conhecida no antigo Egito e na Índiamuito antes de ser admitida na tradição gnóstica.
 
[9]Que na Maçonaria se traduz pela expressão “ Levantar templos á virtude e cavar masmorras ao vício.”
[10] Fulcanelli. O Mistério das Catedrais. Lisboa, Ed. Esfinge, 1964
[11] Em linguagem hermética, “o que está em cima é igual ao que está em baixo.”
[12] Lei dos revezamentos, em antropologia, é a lei segundo a qual os organismos que não desenvolvem uma estrutura capaz de sobreviver em ambientes diferentes daqueles nos quais vivem, fatalmente serão substituídos por outros mais competentes. Com isso a natureza mantém o processo da vida sempre ativo e com claro sentido evolutivo. Ver, nesse sentido, Teilhard de Chardin - O Fenômeno Humano, Ed. Cultrix, 1968.
[13] Como diz um formidável poema hindu: “No intervalo da criação Vixenu-Xiva estava latente de energia, prenhe de suas vidas futuras”.
[14] Existência Negativa” é um conceito cabalístico que designa a existência de Deus antes de Ele se manifestar como “Existência Positiva", ou seja, antes de Ele começar a “construir” o universo físico.  É um conceito de difícil entendimento, mas numa simplificação podemos dizer que significa entender Deus como uma espécie de energia que existia antes do universo material ser feito.  Na física atômica esse conceito é definido como "o nada negativamente carregado", que é a definição científica da energia antes de ela se manifestar no campo das realidades observáveis e mensuráveis.