Sobre a neuronização

Há muitos modos de se enfocar o mundo, que pode ser descrito sob vários ângulos diferentes.

Estamos construindo, compondo, uma imensa rede, a maior delas. Podemos ver a nós mesmos como fazendo parte desse complexo, como neurônios em um cérebro. Esse modo se contrapõe à visão usual de nós mesmos como indivíduos, pode esclarecer algumas peculiaridades de nossas vidas.

Costumamos nos ver como indivíduos, o enfoque parece bom e esclarecedor, e explica uma parte considerável de nossas ações cotidianas. O que chamamos “consciência”, seja o que for, está, de algum modo, associado ao indivíduo, ao eu.

Além de indivíduos, no entanto, somos uma outra coisa: somos partes, ou nodos, de uma imensa rede. Essa rede tem características análogas a um imenso cérebro, do qual nós participamos, ou compomos, de maneira similar a neurônios.

Temos dado relativamente pouca atenção a essa criatura gigantesca cuja existência quase não percebemos devido, paradoxalmente, à sua proximidade e gigantismo. Podemos considerá-la uma criatura viva, com desígnios e desejos próprios. A mim parece bastante óbvio que tal criatura nos controla amplamente, e que boa parte de nossas ações corresponde a seus propósitos, e não aos nossos. Quero dizer: enquanto indivíduos, agimos conforme nossa consciência e desejos; enquanto componentes de uma grande rede, agimos conforme as instruções e desejos desse estranho ser, seja lá o que ele for.

O resultado disso é uma tensão, um embate ocorrendo em nossas mentes entre duas entidades antagônicas: nosso eu e a imensa criatura ubíqua que nos engloba a todos.

Suspeito que uma parte imensa de nossas insatisfações decorra desse embate. Vivemos sob dois comandos antagônicos, o do eu e o da rede.

Quando nos aglomeramos em estádios de futebol, ou manifestações políticas, tendemos a nos entregar à rede. Nesses momentos abdicamos quase completamente de nosso eu e nos deixamos levar pelo fluxo.

Cérebros possuem a capacidade e a tendência de se unificar em redes únicas. Postos em contato, os neurônios se unificam em uma rede cerebral. Bois de canga, conectados apenas por uma trave, fazem o mesmo, ambos os cérebros continuam buscando a conexão em rede. Imersos em uma multidão, fazemos o mesmo.

Há muitos modos de se enfocar o mundo, que pode ser descrito sob vários ângulos diferentes.

Estamos construindo, compondo, uma imensa rede, a maior delas. Podemos ver a nós mesmos como fazendo parte desse complexo, como neurônios em um cérebro. Esse modo se contrapõe à visão usual de nós mesmos como indivíduos, pode esclarecer algumas peculiaridades de nossas vidas.

Costumamos nos ver como indivíduos, o enfoque parece bom e esclarecedor, e explica uma parte considerável de nossas ações cotidianas. O que chamamos “consciência”, seja o que for, está, de algum modo, associado ao indivíduo, ao eu.

Além de indivíduos, no entanto, somos uma outra coisa: somos partes, ou nodos, de uma imensa rede. Essa rede tem características análogas a um imenso cérebro, do qual nós participamos, ou compomos, de maneira similar a neurônios.

Temos dado relativamente pouca atenção a essa criatura gigantesca cuja existência quase não percebemos devido, paradoxalmente, à sua proximidade e gigantismo. Podemos considerá-la uma criatura viva, com desígnios e desejos próprios. A mim parece bastante óbvio que tal criatura nos controla amplamente, e que boa parte de nossas ações corresponde a seus propósitos, e não aos nossos. Quero dizer: enquanto indivíduos, agimos conforme nossa consciência e desejos; enquanto componentes de uma grande rede, agimos conforme as instruções e desejos desse estranho ser, seja lá o que ele for.

O resultado disso é uma tensão, um embate ocorrendo em nossas mentes entre duas entidades antagônicas: nosso eu e a imensa criatura ubíqua que nos engloba a todos.

Suspeito que uma parte imensa de nossas insatisfações decorra desse embate. Vivemos sob dois comandos antagônicos, o do eu e o da rede.

Quando nos aglomeramos em estádios de futebol, ou manifestações políticas, tendemos a nos entregar à rede. Nesses momentos abdicamos quase completamente de nosso eu e nos deixamos levar pelo fluxo.

Cérebros possuem a capacidade e a tendência de se unificar em redes únicas. Postos em contato, os neurônios se unificam em uma rede cerebral. Bois de canga, conectados apenas por uma trave, fazem o mesmo, ambos os cérebros continuam buscando a conexão em rede. Imersos em uma multidão, fazemos o mesmo.

A rede, hoje, controla pelo menos 25 vezes mais energia do que nós, as pessoas. Essa é uma estimativa do poder da rede relativo ao nosso. Individualmente, devemos dividir nossa parte por 7 bilhões.

É provável que o que chamamos “eu” seja apenas um conjunto de estados de uma rede. Se assim for, nosso eu poderá transmigrar para a rede; “viveríamos” ali, como em um filme 8d hiper realista. Poderíamos ser acessados e reacessados como vídeos no you tube. Poderíamos viver e reviver inúmeras outras vidas, tomando nosso eu como pontos de partida, como participantes de videogames.

Também é possível que tudo isso já tenha acontecido, e que estejamos em um futuro longínquo, mas revivendo um mundo retrô, séc. XXI.

Um paradoxo curioso dessa elucubração decorre da necessária aceitação abrupta de todo o pacote. Se aceitamos a possibilidade de construção de um ser inteligente no futuro, e se admitimos que a tecnologia continuará progredindo, concluiremos que a possibilidade de que já estejamos nesse jogo seja imensa. Nesse caso, a probabilidade de sermos, como costumávamos pensar, o indivíduo original, é ínfima. Nesse caso, tudo indica que sejamos algum tipo de cópia. As diferenças são secundárias, em todo caso, de um modo ou outro, estamos aqui.

Mas, que tipo de insanidade levaria algo a criar eventos tão absurdos quanto nossas vidas? Porque vivemos?

Sob o ponto de vista aqui proposto, nossas vidas são como peças de teatro, ou jogos realistas, dramas compostos para iludir o tempo, para enganar a eternidade. Talvez o gênio maligno de Descartes não seja mal, e esteja apenas se empenhando em nos divertir. Vivemos, então, nossas vidas, como se estivéssemos assistindo a um filme. Ao término, carregamos outra vida. Game over. Gostamos de vivenciar dramas. Até o terror proporciona certo tempero à existência, enriquecendo-a. O melhor dos mundos possíveis deve ter momentos muito assustadores. E somos um só, uma totalidade única, multifacetada. O que chamamos “indivíduo” é apenas uma atualização do ser, o mesmo ser uno e múltiplo que percorre e usufrui cada uma das existências.

Mas, atentem, podemos “queimar” nossas vidas, transformar nosso eu em uma parte componente de algo, como um neurônio inconsciente. Podemos entregar nossa individualidade por completo à rede, deixar que ela guie cada um de nossos atos. Podemos permitir que ela defina nossas preferências, nossos desejos, nossas escolhas, nossas vidas. Podemos permitir que ela nos neuronize e componha uma vida vazia, sem nenhum propósito.

Talvez nós, os desse século, estejamos vivendo os dramas mais ricos de todas as existências possíveis. Seríamos, nesse caso, os atores/personagens/roteiristas das histórias mais fantásticas.

Vivamos como se estivéssemos compondo a mais bela história, e permitamos que um riso intenso inunde o momento em que nos conscientizamos da descoberta absurda.