Irracionalismo e razão

Houve um tempo longo e tenebroso, na Europa, em que as respostas a todas as inquirições eram dadas pelo poder religioso. Padres, bispos e papas fingiam pertencer a uma hierarquia que prosseguia acima deles com santos, anjos e um deus supremo, mantendo, com base em tais crendices, o povo em ignorância extrema. Sob a tutela da cristandade imperavam as trevas e as superstições obtusas.

Consistiu em enorme revolução no pensamento, em vívida libertação, a redescoberta da razão. Reestabelecia-se a possibilidade de construção de um conhecimento próprio, baseado no pensamento, nas razões. Não mais na autoridade. Eram as luzes de um novo tempo.

As trevas, no entanto, nunca foram definitivamente varridas. O poder sempre se valeu da ignorância; o poder pode curvar quase todas as coisas, mas não pode curvar a razão; ousadia perigosa pela qual o poder não perdoa. Impossibilitado de curvar a razão, o poder a nega e a degreda.

Quando as luzes da razão pareciam já iluminar quase tudo o que fosse objeto de curiosidade humana, o século XX reabriu as portas ao irracionalismo. Suspeito ter sido obra do fascismo, expressão do poder sem limites.

Tendo engolido as ciências humanas, o irracionalismo imiscuiu-se na física moderna, enquistou-se nela e lá perdura.

Contradições evidenciam o absurdo da argumentação, bem sabem os matemáticos; a aceitação de uma contradição impõe a aceitação de todas as outras. A se admitir o irracionalismo, deve-se fazê-lo por completo, e abdicar de toda a razão, de qualquer argumentação racional. A admissão de irracionalismos tópicos, convenientes, é desonesta, é parcial. Agrada aos fascistas, satisfaz sua ânsia pelo poder, e apenas a eles.