Orlando Furioso, Vivaldi - Óperas, guia para iniciantes.
Autoria – Vivaldi (Antonio – 1678-1741 – Itália).
Libreto – Grazio Braccioli
Personagens
Orlando (Roland, em francês) – cavaleiro cristão, sobrinho de Carlos Magno. Interpretado por uma Mezzo Soprano (papel/travesti).
Alcina – feiticeira e usurpadora da ilha de sua irmã Logistilla que é o símbolo da Verdade e da Razão. Magicamente, Alcina transfigura-se em jovem e bela e, assim, seduz os cavaleiros que chegam ao seu reino. Possuidora das cinzas do célebre Mago Merlin, detém, por isso, um imenso poder. Interpretada por uma Mezzo Soprano.
Angélica – filha de Galarone, rei de Cataio (antigo nome da China), é apaixonada por Medoro, embora seja noiva de Orlando que a raptou de sua casa. Interpretada por uma Soprano.
Medoro – jovem herói sarraceno, de humilde origem. É amado por Angélica e lhe corresponde o sentimento. Interpretado por um Tenor ou por um Contralto (castrato).
Astolfo – primo de Orlando e como ele, um Cavaleiro Cristão. Interpretado por um Baixo.
Ruggiero – Cavaleiro Cristão e considerado o fundador da famosa “Casa D´Este”, reinante na proto Itália, que na vida real foi homenageada por Leonardo Da Vinci que pintou o célebre retrato de Beatriz D´Este. Interpretado por um Barítono.
Bradamante – a grande heroína cristã, sobrinha de Carlos Magno e irmã do Cavaleiro Rinaldo. É apaixonada por Ruggiero e, segundo a tradição, foi o casamento de ambos o ponto inicial da citada “Casa D´Este”. Interpretada por um Contralto (castrato).
Época e Local
Nalgum ponto da Europa, durante a invasão moura ao continente.
Prefácio
Lodovico Ariosto (1474-1533 – Itália) o autor do poema que serve de base para a Ópera de Vivaldi inicia o seu épico com os seguintes versos: “Eu canto sobre as damas, os cavaleiros, as armas, os amores e os feitos audazes que tiveram lugar quando os mouros cruzaram os mares vindos da África e tanto mal fizeram à França. Ao mesmo tempo, falarei de Orlando, de algo jamais mencionado em prosa ou verso; de Orlando, que em sua fúria enlouqueceu de amor, um homem antes considerado sábio e sensato...”.
E, realmente, o delírio por amor que acomete o herói Orlando foi a faceta mais explorada por Vivaldi, que através desse artifício sublinhou o aspecto sentimental, tornando o grande herói cristão mais próximo do homem comum, sempre sujeito às artimanhas do Cupido. E ao lhe dar essa face mais humanizada, tornou-o mais amado pelo público, bem ao estilo do que se espera dos protagonistas de uma Ópera.
Outro ponto a ser observado é a manutenção do clima fabuloso, mítico, fantástico, onde os poderes metafísicos convivem pari passu com as idiossincrasias dos herois e dos vilões da época: cristãos versus pagãos.
É, em suma, um espetáculo que resgata a grandeza tipicamente humana e, simultaneamente, o mundo misterioso de bruxos, feiticeiras, sortilégios etc. e que, principalmente, coloca-se à altura o enorme talento de Vivaldi.
E, realmente, o delírio por amor que acomete o herói Orlando foi a faceta mais explorada por Vivaldi, que através desse artifício sublinhou o aspecto sentimental, tornando o grande herói cristão mais próximo do homem comum, sempre sujeito às artimanhas do Cupido. E ao lhe dar essa face mais humanizada, tornou-o mais amado pelo público, bem ao estilo do que se espera dos protagonistas de uma Ópera.
Outro ponto a ser observado é a manutenção do clima fabuloso, mítico, fantástico, onde os poderes metafísicos convivem pari passu com as idiossincrasias dos herois e dos vilões da época: cristãos versus pagãos.
É, em suma, um espetáculo que resgata a grandeza tipicamente humana e, simultaneamente, o mundo misterioso de bruxos, feiticeiras, sortilégios etc. e que, principalmente, coloca-se à altura o enorme talento de Vivaldi.
Enredo
Ao se abrirem as cortinas, o público vislumbra um belo cenário que sugere a proximidade do mar.
Em cena apenas Orlando, que, entoando uma vigorosa ária, fala de sua paixão pelas glórias bélicas e de sua esperança de vencer as adversidades e encontrar a plena felicidade junto com Angélica, o seu grande amor.
Porém, logo a seguir, na segunda cena, num cenário que reproduz um jardim a beira-mar, Angélica entoa um triste lamento por ter sido separada de seu verdadeiro amor: o jovem mouro, Medoro.
É um cantar nostálgico, triste, comovente e que só é interrompido pelos esplêndidos efeitos teatrais que simulam ondas violentas e a chegada dos restos de um navio naufragado.
Atônita, Angélica assiste à chegada dos destroços e de alguns náufragos, dentre os quais reconhece o seu amado. Mas o que seria motivo de júbilo e contentamento, de chofre se transforma em pavor, quando ela percebe que ele está entre a vida e a morte. Enlouquecida, ela abandona qualquer cautela e implora desesperadamente por socorro.
Presto, acode-lhe Alcina, sua amiga e poderosa feiticeira, que graças aos seus poderes sobrenaturais reanima o combalido Medoro, que, então, relata as aventuras e desventuras que viveu até aquele momento.
Nesse ínterim, Orlando surge em cena e ao presenciar os cuidados que Angélica dispensa ao mouro, sente o ciúme dominar-lhe por inteiro e investe ferozmente contra o jovem com o claro objetivo de matá-lo.
Alcina, porém, pressentindo o perigo interpõe-se entre ambos e hábil e ardilosamente convence Orlando de que Medoro é irmão de Angélica.
Constrangido, o agressor pede desculpas a Angélica que, tão ardilosa e falsa quanto a Alcina, aceita-as, após fingir certa relutância, e lhe jura eterno amor. É a vez, então, de Medoro sentir-se enciumado, mas sem que o demonstre.
Na sequência, a cena passa a ser ocupada apenas pela feiticeira que assiste deslumbrada à chegada de um “cavalo voador”. E mais deslumbrada fica com o cavaleiro que o cavalga: o guapo Ruggiero.
Sem disfarçar o seu interesse, Alcina enfeitiça-o com a água das duas fontes do Jardim, que ele bebe sofregamente. Logo em seguida, acolhe-o nos braços, mas esse terno enlace é quebrado com a chegada de Bradamante, que se irrita ao ver o seu amado nos braços de outra mulher.
Ruggiero, por sua vez, foi de tal modo afetado pelo encantamento que sequer reconhece Bradamante e ela, para não agravar a situação, assume uma falsa identidade.
E assim termina o primeiro ato.
Em cena apenas Orlando, que, entoando uma vigorosa ária, fala de sua paixão pelas glórias bélicas e de sua esperança de vencer as adversidades e encontrar a plena felicidade junto com Angélica, o seu grande amor.
Porém, logo a seguir, na segunda cena, num cenário que reproduz um jardim a beira-mar, Angélica entoa um triste lamento por ter sido separada de seu verdadeiro amor: o jovem mouro, Medoro.
É um cantar nostálgico, triste, comovente e que só é interrompido pelos esplêndidos efeitos teatrais que simulam ondas violentas e a chegada dos restos de um navio naufragado.
Atônita, Angélica assiste à chegada dos destroços e de alguns náufragos, dentre os quais reconhece o seu amado. Mas o que seria motivo de júbilo e contentamento, de chofre se transforma em pavor, quando ela percebe que ele está entre a vida e a morte. Enlouquecida, ela abandona qualquer cautela e implora desesperadamente por socorro.
Presto, acode-lhe Alcina, sua amiga e poderosa feiticeira, que graças aos seus poderes sobrenaturais reanima o combalido Medoro, que, então, relata as aventuras e desventuras que viveu até aquele momento.
Nesse ínterim, Orlando surge em cena e ao presenciar os cuidados que Angélica dispensa ao mouro, sente o ciúme dominar-lhe por inteiro e investe ferozmente contra o jovem com o claro objetivo de matá-lo.
Alcina, porém, pressentindo o perigo interpõe-se entre ambos e hábil e ardilosamente convence Orlando de que Medoro é irmão de Angélica.
Constrangido, o agressor pede desculpas a Angélica que, tão ardilosa e falsa quanto a Alcina, aceita-as, após fingir certa relutância, e lhe jura eterno amor. É a vez, então, de Medoro sentir-se enciumado, mas sem que o demonstre.
Na sequência, a cena passa a ser ocupada apenas pela feiticeira que assiste deslumbrada à chegada de um “cavalo voador”. E mais deslumbrada fica com o cavaleiro que o cavalga: o guapo Ruggiero.
Sem disfarçar o seu interesse, Alcina enfeitiça-o com a água das duas fontes do Jardim, que ele bebe sofregamente. Logo em seguida, acolhe-o nos braços, mas esse terno enlace é quebrado com a chegada de Bradamante, que se irrita ao ver o seu amado nos braços de outra mulher.
Ruggiero, por sua vez, foi de tal modo afetado pelo encantamento que sequer reconhece Bradamante e ela, para não agravar a situação, assume uma falsa identidade.
E assim termina o primeiro ato.
§§§
O segundo ato tem início com Bradamante quebrando o encantamento de Ruggiero, graças ao seu “Anel Mágico”. Contudo, ao invés do que se poderia esperar, o fato de ele ter agido mal apenas por estar sob a influência do feitiço de Alcina, não diminui a fúria de Bradamante, que o deixa dizendo palavras causticas e irônicas.
Sem compreender o motivo de ter sido o alvo daquela fúria, Ruggiero permite que o abatimento da alma transpareça em seu semblante e, por isso, o recém-chegado Orlando condoi-se de sua dor e tenta consolá-lo dizendo que “a bonança sempre sucede à tempestade”.
Na sequência, assiste-se à chegada de Astolfo e ao seu deslumbramento por Alcina, transfigurada em um jovem formosíssima, que ridiculariza a sua tentativa de seduzi-la.
Enquanto isso, na quarta cena, Bradamante e Ruggiero voltam a se encontrar e se reconciliam, entoando um belíssimo Dueto que exalta a felicidade que os domina.
Na cena seguinte, a quinta, Angélica expõe a Medoro o plano que engendrou para livrar-se de Orlando. Ele admira a sua sagacidade, mas reluta em atender ao seu pedido para agir sozinha, pois crê ser perigoso que ela enfrente tamanho desafio sem o seu auxílio. Todavia, Angélica insiste nesse ponto e termina por convencê-lo, após uma mutua e renovada jura de eterno amor.
Logo em seguida surge Orlando e ela começa a concretizar o macabro estratagema convencendo-o a escalar uma íngreme e perigosa montanha - dominada pela feiticeira Alcina – sob o falso pretexto de que há no cimo da mesma, guardada por um terrível dragão, a “Fonte da Juventude” que dará vida eterna a todos que dela beberem.
Ansioso para demonstrar a sua coragem e o amor que lhe devota, Orlando se dispõe a escalar o precipício e trazer-lhe a água milagrosa para que juntos possam viver eternamente jovens e felizes.
Ingênuo, sequer imagina que a sua amada possa estar traindo-lhe e com a máxima audácia inicia a escalada enquanto brada contínuos desafios ao dragão que acredita existir.
Todavia, ao chegar ao centro de uma caverna, uma enorme pedra cai e lhe veda a saída. A bruxaria de Alcina fê-lo prisioneiro, mas com o poder dos “Cavaleiros Sagrados”, Orlando despedaça a rocha e reconquista a liberdade, embora tenha perdido a lucidez, pois, num átimo, compreendeu a farsa de Angélica e o choque emocional levou-lhe a razão.
Possuído por imensa fúria, e apenas por instinto, jura vingar-se e os elementos da natureza parecem retrair-se ante a sua explosão de cólera e de dor.
Entrementes, Angélica e Medoro comemoram o suposto fim de Orlando, já que não podem crer que ele tenha conseguido escapar da prisão que lhe armaram. E, como parte da comemoração, celebram o próprio matrimônio, escrevendo seus nomes nas árvores e trocando mil caricias, sob as benções da feiticeira Alcina, que ainda se ressente do desaparecimento de seu amado Ruggiero.
Mas a tristeza da bruxa não é a única, pois ao chegar ao local das celebrações, Orlando vê que a perda de sua adorada Angélica está consumada.
Louco de ódio, amargura e ciúme, observa os nomes do casal inscritos nas árvores e não se contendo desnuda-se e destroça os velhos e sólidos pinheiros.
É o fim do segundo ato.
Sem compreender o motivo de ter sido o alvo daquela fúria, Ruggiero permite que o abatimento da alma transpareça em seu semblante e, por isso, o recém-chegado Orlando condoi-se de sua dor e tenta consolá-lo dizendo que “a bonança sempre sucede à tempestade”.
Na sequência, assiste-se à chegada de Astolfo e ao seu deslumbramento por Alcina, transfigurada em um jovem formosíssima, que ridiculariza a sua tentativa de seduzi-la.
Enquanto isso, na quarta cena, Bradamante e Ruggiero voltam a se encontrar e se reconciliam, entoando um belíssimo Dueto que exalta a felicidade que os domina.
Na cena seguinte, a quinta, Angélica expõe a Medoro o plano que engendrou para livrar-se de Orlando. Ele admira a sua sagacidade, mas reluta em atender ao seu pedido para agir sozinha, pois crê ser perigoso que ela enfrente tamanho desafio sem o seu auxílio. Todavia, Angélica insiste nesse ponto e termina por convencê-lo, após uma mutua e renovada jura de eterno amor.
Logo em seguida surge Orlando e ela começa a concretizar o macabro estratagema convencendo-o a escalar uma íngreme e perigosa montanha - dominada pela feiticeira Alcina – sob o falso pretexto de que há no cimo da mesma, guardada por um terrível dragão, a “Fonte da Juventude” que dará vida eterna a todos que dela beberem.
Ansioso para demonstrar a sua coragem e o amor que lhe devota, Orlando se dispõe a escalar o precipício e trazer-lhe a água milagrosa para que juntos possam viver eternamente jovens e felizes.
Ingênuo, sequer imagina que a sua amada possa estar traindo-lhe e com a máxima audácia inicia a escalada enquanto brada contínuos desafios ao dragão que acredita existir.
Todavia, ao chegar ao centro de uma caverna, uma enorme pedra cai e lhe veda a saída. A bruxaria de Alcina fê-lo prisioneiro, mas com o poder dos “Cavaleiros Sagrados”, Orlando despedaça a rocha e reconquista a liberdade, embora tenha perdido a lucidez, pois, num átimo, compreendeu a farsa de Angélica e o choque emocional levou-lhe a razão.
Possuído por imensa fúria, e apenas por instinto, jura vingar-se e os elementos da natureza parecem retrair-se ante a sua explosão de cólera e de dor.
Entrementes, Angélica e Medoro comemoram o suposto fim de Orlando, já que não podem crer que ele tenha conseguido escapar da prisão que lhe armaram. E, como parte da comemoração, celebram o próprio matrimônio, escrevendo seus nomes nas árvores e trocando mil caricias, sob as benções da feiticeira Alcina, que ainda se ressente do desaparecimento de seu amado Ruggiero.
Mas a tristeza da bruxa não é a única, pois ao chegar ao local das celebrações, Orlando vê que a perda de sua adorada Angélica está consumada.
Louco de ódio, amargura e ciúme, observa os nomes do casal inscritos nas árvores e não se contendo desnuda-se e destroça os velhos e sólidos pinheiros.
É o fim do segundo ato.
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O terceiro ato começa sob o signo da melancolia. Os primos e amigos de Orlando, Astolfo e Ruggiero, choram a sua suposta morte na montanha de Alcina e fazem planos para vingá-lo com o auxílio da boa fada Melissa.
A segunda cena mostra a réplica do frontispício do chamado “Templo Infernal”, onde Ruggiero e Bradamante, disfarçada como o cavaleiro Aldarico, esperam escondidos por Alcina, para atacá-la.
Pouco depois a feiticeira chega e sem notar a presença dos inimigos dirige-se aos “Deuses do Mal”, suplicando pela volta de seu amado Ruggiero.
Nisso, Bradamante, como Aldarico, aproxima-se e imediatamente lhe desperta o interesse e a admiração por sua bela e elegante estampa. Está colocado o momento da vingança.
Porém, antes que a revanche aconteça, Ruggiero e Bradamante, consternados, assistem a chegada do enlouquecido Orlando, que se dirige à feiticeira com frases desconexas e típicas da confusão mental em que vive.
Um quadro doloroso, pungente, que não raramente arranca suspiros e lágrimas do público.
E a cena se faz mais triste quando Angélica entra em cena e os insanos lamentos de Orlando a ela se voltam em uma patética (1) mescla de amor frustrado, saudades, mágoas e recriminações.
Para Bradamante e Ruggiero é o limite e sem poderem se conter, juntam-se ao Coro das recriminações à jovem e acusam-na de deslealdade e crueldade.
Acusações fortes, mas que ela não pode rebater, já que são verdadeiras. Dolorosamente reais. Resta-lhe, pois, chorar amargamente o seu remorso.
Na sequência, Orlando é deixado só e, completamente perturbado, ele vê na estatua do Mago Merlin, que domina a entrada do Templo, a figura de sua amada e com força inumana derruba-a do pedestal e deita-se, abraçado, com a mesma.
Um terrível sacrilégio para os adeptos do Mal e, por isso, o guardião Arontes o expulsa num primeiro momento; mas, ensandecido, Orlando volta à carga e após uma luta brutal consegue matá-lo e regressar para junto da figura que lhe representa o seu grande amor.
A queda da estátua, o seu amuleto mais poderoso, faz com que o “Templo do Mal” soçobre completamente, levando à ruína igual o “Centro de Magia” de Alcina, assim como, todos os seus feitiços e encantamentos.
E Alcina, há pouco retornada, demonstra sentir o peso de sua falência. Contudo, ao ver Orlando, as forças voltam-lhe imediatamente e impetuosamente ela saca um punhal e avança contra o causador de sua queda, mas antes que consiga vingar-se, a mão poderosa de Ruggiero a detém. E para aumentar-lhe o desgosto, Bradamante revela ser Aldarico, o homem que há pouco havia conquistado a sua admiração.
Proferindo mil impropérios, ela só pode lamentar que novamente o Bem triunfasse sobre o Mal.
Enquanto isso, Angélica e Medoro tentam aproveitar a confusão para escaparem, mas Bradamante os impede e torna a culpar a jovem pela insanidade de Orlando.
Enquanto isso, Astolfo chega, acompanhado pelos soldados de Logistilla, para selar o destino de Alcina e Orlando, recuperando milagrosamente a lucidez, compreende que o amor de Angélica e Medoro é puro e não nasceu para lhe afrontar, haja vista que os sentimentos independem da vontade.
Assim, estende-lhes a mão e abençoa a sua união. E desse modo termina a sua desdita.
É o fim da Ópera.
A segunda cena mostra a réplica do frontispício do chamado “Templo Infernal”, onde Ruggiero e Bradamante, disfarçada como o cavaleiro Aldarico, esperam escondidos por Alcina, para atacá-la.
Pouco depois a feiticeira chega e sem notar a presença dos inimigos dirige-se aos “Deuses do Mal”, suplicando pela volta de seu amado Ruggiero.
Nisso, Bradamante, como Aldarico, aproxima-se e imediatamente lhe desperta o interesse e a admiração por sua bela e elegante estampa. Está colocado o momento da vingança.
Porém, antes que a revanche aconteça, Ruggiero e Bradamante, consternados, assistem a chegada do enlouquecido Orlando, que se dirige à feiticeira com frases desconexas e típicas da confusão mental em que vive.
Um quadro doloroso, pungente, que não raramente arranca suspiros e lágrimas do público.
E a cena se faz mais triste quando Angélica entra em cena e os insanos lamentos de Orlando a ela se voltam em uma patética (1) mescla de amor frustrado, saudades, mágoas e recriminações.
Para Bradamante e Ruggiero é o limite e sem poderem se conter, juntam-se ao Coro das recriminações à jovem e acusam-na de deslealdade e crueldade.
Acusações fortes, mas que ela não pode rebater, já que são verdadeiras. Dolorosamente reais. Resta-lhe, pois, chorar amargamente o seu remorso.
Na sequência, Orlando é deixado só e, completamente perturbado, ele vê na estatua do Mago Merlin, que domina a entrada do Templo, a figura de sua amada e com força inumana derruba-a do pedestal e deita-se, abraçado, com a mesma.
Um terrível sacrilégio para os adeptos do Mal e, por isso, o guardião Arontes o expulsa num primeiro momento; mas, ensandecido, Orlando volta à carga e após uma luta brutal consegue matá-lo e regressar para junto da figura que lhe representa o seu grande amor.
A queda da estátua, o seu amuleto mais poderoso, faz com que o “Templo do Mal” soçobre completamente, levando à ruína igual o “Centro de Magia” de Alcina, assim como, todos os seus feitiços e encantamentos.
E Alcina, há pouco retornada, demonstra sentir o peso de sua falência. Contudo, ao ver Orlando, as forças voltam-lhe imediatamente e impetuosamente ela saca um punhal e avança contra o causador de sua queda, mas antes que consiga vingar-se, a mão poderosa de Ruggiero a detém. E para aumentar-lhe o desgosto, Bradamante revela ser Aldarico, o homem que há pouco havia conquistado a sua admiração.
Proferindo mil impropérios, ela só pode lamentar que novamente o Bem triunfasse sobre o Mal.
Enquanto isso, Angélica e Medoro tentam aproveitar a confusão para escaparem, mas Bradamante os impede e torna a culpar a jovem pela insanidade de Orlando.
Enquanto isso, Astolfo chega, acompanhado pelos soldados de Logistilla, para selar o destino de Alcina e Orlando, recuperando milagrosamente a lucidez, compreende que o amor de Angélica e Medoro é puro e não nasceu para lhe afrontar, haja vista que os sentimentos independem da vontade.
Assim, estende-lhes a mão e abençoa a sua união. E desse modo termina a sua desdita.
É o fim da Ópera.
Histórico
Ao completar meio século de vida, Antonio Vivaldi colhia os doces frutos de seu enorme sucesso como compositor de “músicas para Concertos” e, menos conhecido, de “músicas para Teatro”.
Autor de verdadeiras joias como “Glória, o Dixit o Magnificat”; as “Quatro Estações (cuja ‘Primavera’ é especialmente querida no Brasil)” etc., ele não deixou de emprestar ao gênero operístico o seu talento imenso. Gênero, aliás, que lhe agradece a composição de cerca de cinquenta peças, embora ele afirmasse ter composto mais de noventa e três.
Mas, independentemente da divergente quantidade de óperas produzidas, o que é inquestionável é a superior qualidade de seu trabalho, em todas as searas em que laborou.
A presente Ópera, baseada no poema épico de Ariosto, publicado inicialmente em 1516 e revisado em 1532, estreou em 1727 na riquíssima Veneza, onde o patrocínio dos Doges reunia os talentos de Vivaldi, Albignoni, Tiziano, Veroneze e tantos outros mestres das Belas Artes.
Com o tempo, o esplendor de Vivaldi no terreno da música instrumental acabou superando a sua excelência no campo da Ópera, o que explica o fato de ele ser mais conhecido no primeiro que no segundo gênero; porém, todos que são apresentados ao magnífico “Orlando Furioso” não deixam de reconhecer que a sua genialidade foi equinamente repartida, para sorte de todos nós.
Autor de verdadeiras joias como “Glória, o Dixit o Magnificat”; as “Quatro Estações (cuja ‘Primavera’ é especialmente querida no Brasil)” etc., ele não deixou de emprestar ao gênero operístico o seu talento imenso. Gênero, aliás, que lhe agradece a composição de cerca de cinquenta peças, embora ele afirmasse ter composto mais de noventa e três.
Mas, independentemente da divergente quantidade de óperas produzidas, o que é inquestionável é a superior qualidade de seu trabalho, em todas as searas em que laborou.
A presente Ópera, baseada no poema épico de Ariosto, publicado inicialmente em 1516 e revisado em 1532, estreou em 1727 na riquíssima Veneza, onde o patrocínio dos Doges reunia os talentos de Vivaldi, Albignoni, Tiziano, Veroneze e tantos outros mestres das Belas Artes.
Com o tempo, o esplendor de Vivaldi no terreno da música instrumental acabou superando a sua excelência no campo da Ópera, o que explica o fato de ele ser mais conhecido no primeiro que no segundo gênero; porém, todos que são apresentados ao magnífico “Orlando Furioso” não deixam de reconhecer que a sua genialidade foi equinamente repartida, para sorte de todos nós.
Nota do Autor – Patética (1) em seu sentido correto; isto é, “aquilo que comove” e não em sua equivocada versão atual que equipara o termo a “ridículo”.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.