Reengenharia zumbi, ou como controlar mentes? Pensando ao contrário
Reúna grupos de crianças. Estimule-as à padronização, a serem todas iguais. Estimule-as a, elas mesmas, reconhecer e punir diferenças individuais. Diferenças devem ser apontadas, execradas e excluídas. Imponha que elas cresçam assim, em meio a grupos intolerantes, promotores de intolerância. A punição interna do próprio grupo é muito mais efetiva, legitima-se a si mesma. Tenderão a crescer copiando uns aos outros e se dissolvendo no bando. Individualidades devem ser expurgadas.
A medida resulta em inação. Qualquer ação se arrisca à diferenciação. Mas o controle exige ação controlada. Jogos de macaquear devem ser exercitados. Devem ser habituados a assistir TV, e a ler jornais; a fazer compras e a sentir prazer em comprar. Devem sentir prazer em possuir. Devem reconhecer e desejar possuir “instrumentos de poder”, amuletos portadores de marcas divulgadas pelos meios de comunicação e reverenciados pelo bando. Devem compartilhar hábitos e desejos.
Habitue suas cobaias a seguir o rebanho, assim o controle ficará bem mais fácil. Puna dissidentes, diferenças, premie a dissolução no bando, aniquile individualidades. Desligue a racionalidade da cobaia, mantendo ativo seu sistema de sobrevivência. A cobaia deve respirar, se alimentar, se cuidar e se desvencilhar autonomamente dos afazeres do dia a dia. Suas vontades e necessidades básicas devem ser satisfeitas por elas mesmas. Habituadas a isso, as cobaias se sentirão satisfeitas e dóceis. Mas não devem exercitar o raciocínio, não devem reconhecer a lógica.
Repita palavras de ordem, constituirão as crenças das cobaias. Desprovidas de raciocínio, incoerentes, as cobaias se curvarão à verdade do hábito, venerarão a repetição. A lógica e o raciocínio são inflexíveis, independentes e autônomos, não se curvam ao poder, devem ser abafados. Coerências devem ser desencorajadas, o poder deve ser louvado sobre todas as coisas. Deve-se cultuar ídolos idiotas e irracionais. O culto pelo culto, para a coesão do bando. Não se reconhece a lógica, a repetição determina a verdade. A verdade é aquilo que todos repetem, será ensinada pela TV.
Tem-se assim um grupo perfeito e já pronto para receber e cumprir qualquer ordem. Cada membro do bando está apto a reconhecer, divulgar e comprar os objetos-símbolo de poder exibidos na TV. Construirão suas hierarquias com base nesses símbolos, instituirão, conforme a posse dos símbolos, a ordem das bicadas. Bicarão os que estiverem abaixo. Viverão suas vidas tentando galgar posições no grupo com base nos símbolos impostos. Punirão todas as diferenças. Reproduzirão a geração seguinte do grupo.
A retroalimentação é a chave para a manutenção do sistema: a compra de um símbolo de poder favorece a ascensão social que induz o aumento na renda, que permite a compra de mais símbolos de poder. O processo se autoalimenta, se reproduz e se perpetua. Nada tem o menor sentido, tudo se justifica por si mesmo: a acumulação pela acumulação, o poder pelo poder. Raciocínio e lógica são inflexíveis e não se curvam ao poder, devem ser negados e abolidos, e nunca exercitados.
Etapa 2, parte final
Criam-se máquinas capazes de analisar rostos, expressões, perceber frustrações, desgostos, raivas, satisfações, desejos... capazes de recolher e analisar dados comportamentais passados das criaturas. Induzem-se os elementos do bando a seguir as ordens às quais já foram previamente amestrados. Satisfazem-se os desejos por objetos de poder, e premia-se sua acumulação. A máquina, em rede sem fio, é acoplada ao corpo das criaturas que percorrem o mundo sob suas diretrizes. Seguem as direções impostas, habituam-se a seguir os caminhos impostos. Agem conforme as determinações e são premiados, rebelam-se e são punidos.
Há um caminho predeterminado para os rebeldes. Deverão cumprir as mesmas regras, mas por caminhos alternativos. Deve haver um caminho já pronto para os rebeldes, ou alguns se desgarrarão. Pode-se confundir os rebeldes induzindo-os a negar a lógica e o raciocínio. Devem se habituar a esse caminho. Lógica e raciocínio são inflexíveis e não se curvam ao poder, não se entregam à verdade do hábito. A verdade é o hábito.
Tudo pronto para a neuronização. (A neuronização corresponde à transformação de indivíduos em neurônios de uma grande rede).