Ecologia dos seres relacionais

As coisas em geral, ou coisas materiais, existem por si, isto é, têm existência material.

Há um outro nível de existência, o da existência relacional. Seres relacionais não têm uma existência independente, constituem relações entre outros seres. Irmãos, por exemplo, ilustram uma relação; não existe, propriamente, uma irmandade, esse é um modo como seres existentes se relacionam.

Isso pode fazer parecer que os seres relacionais existam de uma forma incompleta, mais etérea, ou menos real, o que me parece um erro. De fato, os seres mais poderosos atuando no planeta hoje possuem natureza relacional, e vêm crescendo de maneira avassaladora. Países, corporações, instituições, associações em geral são desse tipo; não possuem existência material, mas correspondem às maiores e mais poderosas forças em ação no planeta. Note que enquanto as pessoas, os indivíduos, permanecem basicamente similares ao longo do tempo, tais entidades vêm crescendo imensamente.

Apesar da aparência tênue dessa forma de existência, os seres constituídos desse modo podem adquirir uma influência extraordinária, um poder sem precedentes. De fato, somos comandados por tais seres durante toda a nossa existência, somos moldados por eles, controlados. Há muito eles se libertaram de nós e inverteram os papéis, controlando-nos muito mais do que nós a eles. De fato, estamos enredados uns nos outros, aliás, é essa a essência desses seres, são relações, redes; encontram-se entrelaçados entre os indivíduos, conectando-nos a todos, controlando-nos em vasta medida.

Vejamos sua origem, nos primórdios da vida animal.

Ao se organizar em uma rede, ou grupo, indivíduos podem usufruir de diversos tipos de colaboração, aumentando, assim, sua aptidão individual. A rede mais simplificada imaginável é constituída pelo mero agrupamento de indivíduos. Uma quantidade exorbitante de ovos despejada em um único local pode saciar o apetite dos predadores, permitindo a sobra de grande quantidade de ovos incólumes após um ataque; peixes costumam usar tal estratégia.

Indivíduos em bandos podem colaborar uns com os outros mesmo utilizando técnicas vis. Ao se perceber perseguido diretamente pelo predador, o indivíduo pode acelerar e se inserir entre os outros membros do bando, deixando um ou mais parceiros entre ele e o predador. A atitude aparentemente vil pode ter uma espécie de justificativa moral. Seja como for, a ação aparentemente deletéria de atração do predador para o centro do bando pode resultar no seguinte modo de colaboração: perseguida, a presa acelera e se insere entre os outros membros do bando, retornando então à velocidade usual, pouco cansativa. Tendo perdido a presa de vista, o predador mira a seguinte, que executa idêntica ação de fuga, acelerando e se camuflando entre os membros do bando, deixando indivíduos, descansados, sob a mira do predador.

Individualmente, assim, a tática consiste em se safar a qualquer preço, escondendo-se na multidão, e jogando os parceiros no fogo. Enfocando-se o grupo, no entanto, podemos descrever a mesma cena de uma forma colaborativa. Vemos então o predador a perseguir um indivíduo do bando, que acelera e se cansa, mas desaparece no meio da multidão. O perseguidor repete a ação, obrigando outro indivíduo a acelerar fortemente antes de se confundir com o bando. Dessa maneira, o aconchego do bando permite que os indivíduos recém perseguidos descansem e recobrem as forças para nova, eventual, fuga do predador, oferecendo apenas indivíduos descansados à perseguição. Isolados do bando, os mesmos indivíduos seriam presas fáceis para o predador devido ao cansaço decorrente da manutenção da alta velocidade por longo tempo; o bando ampara o indivíduo permitindo o seu descanso. Muitos animais utilizam a estratégia de agrupamento para fugir de predadores. Esse modo parece natural por consistir na consequência imediata da tentativa de salvar a própria pele.

Por diversas razões, recém-nascidos costumam ser frágeis, sujeitos a altíssimas taxas de mortalidade. O cuidado com a prole, efetuado pelos progenitores, permitiu o aumento significativo da taxa de sobrevivência dos indivíduos, favorecendo a disseminação dessa forma de colaboração. Quanto mais efetivo o cuidado, mais eficiente o seu resultado, e maior a quantidade de indivíduos resultantes do processo, fechando o ciclo e realimentando o sistema.

Essa forma de cooperação abriu caminho para outra, ainda mais complexa e efetiva. Consistiu na união do bando para o enfrentamento de inimigos comuns, constituindo o passo seguinte na evolução das redes.

Pequenos bandos formam coalizões complexas capazes de se impor sobre outros. Animais relativamente pequenos conseguem, quando reunidos em bandos, atacar, ou resistir a ataques de animais muito maiores, ou de outros bandos coordenados.

A formação de bandos ocorre há longas eras; uma modalidade radicalmente nova, no entanto, surgiu uns 100.000 anos atrás, revolucionando todo o planeta. O evento chave que disparou o incrível fenômeno foi o desenvolvimento da linguagem. Até então, a comunicação mais tradicional entre os indivíduos de uma rede consistia na informação de ângulos e distâncias entre os elementos do grupo, levando-os a se realinhar constantemente, mantendo a formação ideal. Sinalizações de alerta foram posteriormente incluídas, utilizadas, fundamentalmente, para alertar a presença de predadores.

A linguagem promoveu o enriquecimento extraordinário das redes, tornando-as muito mais complexas em dois níveis: ampliando a quantidade e diversidade de informações entre os indivíduos, os nodos da rede, e aumentando a quantidade de nodos. A diversidade da informação linguística possibilitou a formação de redes surpreendentemente complexas, e capazes de reter, de conservar novidades eventualmente adquiridas, permitindo assim o acúmulo de descobertas de todos os tipos.

Convém salientar que por esse tempo, 100.000 anos atrás, nossa espécie era apenas uma entre outras, sem nada que nos distinguisse especialmente de outros primatas. Gostamos de nos acreditar criaturas muito especiais, dotadas de virtudes formidáveis, cada uma de nós. Por essa época, no entanto, nossos ancestrais dividiam apenas um trecho da África, com outras tantas criaturas, muitas delas mais promissoras que nossos ancestrais, sob vários aspectos. Gostamos de acreditar que possuímos um cérebro primoroso e ímpar que nos torna muito especial entre todos os animais. É muito provável, no entanto, que, individualmente, sejamos especiais apenas a nossos próprios olhos.

A formação de grandes redes, no entanto, alterou significativamente as coisas. Embora continuemos individualmente pouco promissores, incorporamo-nos a redes sem precedentes.

Inicialmente, agrupamo-nos em famílias. Nossa infância retardada impõe o prolongamento das obrigações parentais e favorece a coesão dos grupos familiares, sugerindo a evolução subsequente de bandos compostos por extensões da família.

A linguagem propiciou, não apenas, uma comunicação muito mais rica e diversa entre os membros do bando, mas a manutenção de laços e de comunicação entre bandos fisicamente desconectados. A rede resultante da conexão entre bandos não tinha precedentes nem limites. Coalizões momentâneas entre bandos aparentados, aliados, impuseram a hegemonia sobre bandos rivais, conquistando-lhes os territórios. Essa dinâmica, bastante natural, possibilitou a rápida difusão da linguagem por toda a extensão de ocupação humana. Bandos isolados, desconectados da rede, dificilmente conseguiam se opor à expansão dos falantes. Junto com a usurpação de territórios dominados por grupos isolados, ocorria a expansão da área total ocupada.

Perceba a importância desse fato: um grupo humano tinha um poder comparável ao de um grupo de chipanzés. Conectados em rede, um conjunto de grupos humanos tinha um poderio muito superior ao de qualquer outra força animal.

A linguagem, cada vez mais viva, e mais constantemente exercitada entre os homens primitivos foi se enriquecendo, ganhando vocabulário e precisão. A expansão da linguagem permitiu também sua diferenciação, surgiram as diferentes línguas e os diferentes povos, guardiões de diferentes culturas. A estruturação das sociedades possibilitada pelo desenvolvimento da linguagem, permitiu também a exploração dos grupos periféricos por grupos centrais. Iniciou-se a centralização política, a cobrança de impostos.

No interior das sociedades já politicamente estruturadas em redes de comando e captação de recursos, surgiram sub-redes parciais e complementares de serviços, comércio e outras obrigações. As redes foram então ganhando complexidade e se multiplicando. Competindo com outras redes análogas, formaram coalizões; surgiu a diplomacia, a conexão em rede de redes já estruturadas.

Comparemos a situação da espécie humana antes e depois do surgimento dessas conexões. Imaginemos um grupo humano, uma família, que descobrisse pegadas de um leopardo nos arredores, rondando seu território. A situação era desesperadora. Talvez, reunidos, conseguissem fazer frente ao predador. A ameaça permaneceria à espreita, no entanto, cerceando as ações do grupo, limitando seus deslocamentos. A eventual captura de um membro do bando pela fera pioraria a situação, rotulando o grupo, inequivocamente, como estoque de alimento do animal. Talvez o medo compelisse a família a se deslocar e invadir território desconhecido e já ocupado por outro grupo que o defenderia. Se ficar o bicho come...

O desenvolvimento da rede humana de conexões passou a permitir que o bando amedrontado se deslocasse e comunicasse seu temor aos vizinhos. O perigo comum sugeria alianças. Um grande grupo pode se mobilizar para fazer frente à ameaça comum. Poderosos bandos de leões puderam ser confrontados e expulsos com essa mesma tática. Estratégias vencedoras eram disseminadas oralmente ao longo das redes até ao longe. As vitórias decantadas, analisadas, replicadas. Muitos temores superados.

Juntamente com a força adquirida com a coalizão, a capacidade de acumular inovações prévias permitiu uma sobreposição inesperada e inaudita sobre todos os outros animais. Note que não há, propriamente, uma supremacia individual do homem sobre os animais; o que supera todos os animais é a rede humana.

Tendemos a menosprezar esse fato, tendemos a exaltar a nós mesmos e a nossos próprios feitos. Gostamos de nos sentir criaturas dominadoras, muito superiores aos animais; creio que não o sejamos. Mas, analisemos as razões.

Antes, no entanto, analisemos uma rede análoga. Cérebros são constituídos por neurônios, uma infinidade deles. Neurônios são células conectivas, compõem redes. Cada neurônio é capaz de executar ações muito simples, fundamentalmente as de mudança de estado e de comunicação desse fato. Assim, o que cada neurônio individual faz é perceber uma informação, mudar, ou não, de estado em resposta à informação percebida, e comunicar a mudança de estado a outros pontos da rede. Isso é, fundamentalmente, o que faz toda a profusão de neurônios em um cérebro, como como pontos luminosos de um pisca-pisca numa imensa árvore de natal.

Pode-se considerar que o cérebro seja um imenso aglomerado de neurônios; sua massa, de fato, não passa disso. Se dissecarmos um cérebro em um laboratório, encontraremos nele um imenso amontoados de neurônios. O funcionamento do cérebro, no entanto, nos garante que ele seja, em outro sentido, muito mais que isso. Podemos considerar que ele seja apenas a massa de neurônios, mas nesse caso não teremos nenhuma pista sobre seu funcionamento. Também podemos considerar que o cérebro, ou melhor, a mente, seja uma imensa rede autônoma, importando pouco, nesse caso, se composto por neurônios ou fiações elétricas.

Seja como for, o cérebro constitui uma imensa rede, extremamente rica, capaz de ações incrivelmente complexas como representar o mundo, exprimir sensações, emoções, planejar, e executar toda a infinidade de ações que compõem aquilo a que chamamos vida. Note que, em certo sentido, pode-se dizer que todas essas são ações dos neurônios, sendo também verdadeira, paradoxalmente, a afirmação de que tudo o que um neurônio faz é comutar seu estado.

A elucidação do paradoxo consiste em considerar a rede uma entidade autônoma. As miríades de neurônios compõe a rede, mas não a controlam, são, ao contrário, controladas por ela. Penso que a concepção de uma entidade autônoma chamada rede, ou mente, seja muito mais esclarecedora das atividades mentais que a consideração de seus componentes elementares, os neurônios. Em algum instante do desenvolvimento fetal, os feixes de neurônios passam a agir em conexão, como partes de algo maior. Nesse sentido, parece muito mais esclarecedor considerar que seja o cérebro que controla os neurônios, e não o contrário, ainda que, originalmente, o cérebro possa ter sido composto pela aglomeração de neurônios.

Analogamente, embora a rede humana tenha surgido como uma coalizão de indivíduos, há muito inverteu a situação original, controlando-nos muito mais que nós a ela.

A evolução da rede humana processou-se através de subdivisões políticas, precursores de países e nações, de coalizões diplomáticas entre tais entidades, da exploração de indivíduos através da cobrança de impostos, da exploração de sociedades subjugadas, do comércio interno às sociedades, do comércio externo, dos serviços, das intermediações.

Vivemos hoje em uma sociedade complexa definida, fundamentalmente, pelas ramificações da grande rede, controlada por ela. Quando crianças vamos para a escola, uma rede formadora de componentes da rede, regulamentada por normas do estado, a grande rede local, regulamentadora de todas as sub-redes locais. Vivemos uma enorme parte de nossa vida, nas escolas, sendo moldados, adequados à inserção em outras redes. Tendo sido moldados e adequados nas escolas, nos inserimos em outras redes, de comércio, serviços, de modelagem de indivíduos, de regulamentação de sub-redes... existe uma infinidade de sub-redes, todas elas interconectadas umas com as outras, como em um imenso cérebro.

Todo o nosso mundo visa a satisfação das redes, vivemos para elas. O sentido de nossa existência tem sido alimentar e satisfazer as redes, é a elas que temos dedicado nossas vidas. Conformamo-nos a nosso papel de partes, de pedaços de algo maior, a exemplo dos neurônios, componentes do cérebro. Por essa razão, nossas vidas não costumam ter o menor sentido, sendo cinzentas, opacas e automáticas; sem colorido nem vida. O sentido de nossas vidas não é mais dado por nossa existência individual, o sentido de nossas vidas é dado pelas redes, vivemos para elas.

Note que os meios de comunicação, esses pontos nodais centrais da imensa rede humana são também controlados por redes, e financiados por elas. Recentemente vimos, no Brasil, claramente exposto, o lamentável espetáculo da parcialidade inequívoca com que os meios de comunicação apresentam suas notícias políticas. Mostravam invariavelmente apenas um lado das notícias, ocultando sistematicamente um lado dos fatos, amplificando o outro a extremos. A observação desse processo deixou claro não haver nenhum compromisso dos meios de comunicação com a informação da população; toda a preocupação, todo o seu compromisso é com a dominação, com o controle do mundo, nada mais lhes interessa. A constatação pode parecer banal, mas suas consequências são radicais: após séculos de bombardeamento de mentiras divulgadas com o propósito da dominação, encontramo-nos drasticamente, todos nós, delineados por tais mentiras, estruturados sobre elas. Repetimos hoje, todos nós, as mentiras espalhadas descaradamente décadas, ou séculos atrás. Somos vítimas, coletivamente, de nossas próprias armadilhas, de nossas próprias mentiras.

E enquanto nos deixamos levar pelas mentiras, vamos sendo esmagados, vamos cedendo o espaço individual que nos foi dado um dia, entregando-os às redes, essas criaturas relacionais, sem existência material, existindo apenas enquanto relações, mas poderosíssimas, governando todo o nosso mundo, nossos desejos, nossas vidas.

Atente a todas as coisas que nos comandam, são todos eles seres relacionais, nenhum deles tem existência real, material. São os países, criaturas formadas por decretos; associadas a um território, é fato, mas independentes deles; as grandes corporações. Também as empresas possuem prédios e símbolos, mas também elas não se confundem com uns, nem outros. Todas as pessoas jurídicas, todas as entidades coletivas, tudo o que tem poder tem existência apenas relacional, são fantasmas.

Criamos esses fantasmas um dia, mas eles são autônomos e nos comandam em grau cada vez maior. A energia que consumimos hoje é umas 25 vezes maior que a necessária para nossa replicação, o restante é usado para a replicação desse imenso leviatã autônomo que nos controla, é o alimento que o faz crescer. Esse número fornece uma estimativa de seu poder relativo ao nosso. Lembremos que o crescimento acelerado desse monstro está nos levando ao suicídio coletivo, à inviabilização de nossas condições de sobrevivência. Seus motivos nos são alheios, nossa presença lhe é contingente, tolerada enquanto útil e necessária.

Temos certa dificuldade em focalizar tais fantasmas que nos parecem nebulosos. Tendemos a nos considerar coisas materiais, e a supor uma existência mais palpável, mais real, de fato, das coisas materiais, contrastando com existências fugidias e por isso consideradas tênues, forte erro. Constatemos o imenso poder das criaturas relacionais como os países, as corporações, os tribunais de justiça, e todas as entidades que, de fato, compõem o mundo em que vivemos, já que, de fato, pautamos, mapeamos, planejamos nossas vidas muito mais no mundo relacional que no material. Tomamos diariamente, e de maneira automática, em geral, as providências para a manutenção de nossas vidas; assim, nos alimentamos, dormimos, tomamos remédios quando necessário, mas, voltamos uma parte considerável de nossa consciência para o mundo relacional. Ou seja, nossa atenção, nossas vidas, se concentram muito mais nesse mundo.

Recentemente, a rede de computadores ampliou tremendamente a complexidade e a coesão da rede humana. Ambas as redes mesclaram-se, enredaram-se uma na outra. O poder resultante foi multiplicado.

Ainda temos certa individualidade, certa independência; ainda tem sentido nos considerarmos pessoas, indivíduos. Caminhamos, no entanto, a passos largos, para nossa diluição na grande rede. Ocorrerá de forma repentina, como em uma transição de fase instantânea. Logo seremos como neurônios, criaturas sem um sentido individual, partes componentes de um cérebro. Como neurônios, agiremos sem nenhuma consciência de nossas ações, sem a menor pista de seus propósitos. Seremos controlados, comandados automaticamente pela grande rede, teremos perdido nossas almas. Entregaremos nossas almas a algo maior, desconhecido, incompreensível, mas sedutor. Estamos profundamente enredados, entranhados em uma imensa rede, presos a ela, dependentes dela. Nossas almas estão sendo sugadas e se esvaem, logo as perderemos. Pertenceremos então a uma única e imensa alma coletiva, todos nós; restam-nos ainda umas décadas.

https://www.youtube.com/watch?v=XROxpVE5rEg

Quando nasci, vivia em um mundo povoado por jardins, ruas, árvores e bichos. Esse mundo ainda se encontra no mesmo local, mas já me parece distante. O mundo em que me encontro imerso hoje parece saído de páginas de ficção científica; não foi imaginado por nenhuma mente brilhante, no entanto, foi sendo engendrado pela imensa mente coletiva, pela imensa rede que nos encanta e domina. Nossas palavras ainda são as que usávamos para descrever jardins, nossa compreensão também quase se limita a isso. Mas nos enredamos em uma rede imensa; como neurônios em um cérebro, somos parte dela. Sinta o aconchego das fibras que o acolhem, amparam, e imobilizam, mas não tente libertar seus braços ou agonizará com o incômodo dos loucos atados a camisas de força. Tarde demais, resigne-se à imobilidade e ao controle.

Recapitulando: estamos atados a uma teia imensa que nos controla e que dá sentido às nossas ações, razão pela qual nossas vidas parecem não ter sentido. Perdemos nossa individualidade, não vivemos mais para nós mesmos; compomos, conjuntamente, uma grande mente coletiva, uma imensa rede autônoma a cujos desígnios nos submetemos. Entregamos nossas almas.