DR. FAUSTO, Gounod - Óperas, guia para iniciantes.
Autoria – Gounod (Charles – 1818-1893 – França).
Libreto – Jules Barbier e Michel Carré
Personagens
Mefistófeles – o demônio. Interpretado por um Baixo.
Wagner – jovem amigo de Valentino. Interpretado por um Baixo.
Margarida – a mais bela jovem da aldeia, seduzida por Fausto. Interpretada por uma Soprano.
Valentino – irmão de Margarida. Interpretado por um Barítono.
Siebel – jovem namorado de Margarida. interpretado por uma voz Mezzo Soprano.
Marta – vizinha de Margarida. Interpretada por uma Mezzo Soprano.
Local e época
Alemanha, meados da Idade Média.
Enredo
O primeiro ato é encenado na réplica de um sombrio laboratório onde o velho e sábio cientista e filósofo, Dr. Fausto, estuda e trabalha.
Uma dura rotina que praticamente permeou toda a sua existência sem lhe trazer reconhecimento, fama e fortuna. Uma vida sem aventuras, sem prazeres, compensações, amores, amizades e outras maneiras de satisfação.
Apenas trabalho e um enorme acúmulo de saber que, segundo ele, a rigor, de nada lhe serviu.
A baixa iluminação indica que a noite avança célere e a sensação de inutilidade, de amargura e de frustração já não lhe cabe no peito e ele expressa toda a sua triste condição ao entoar a sofrida ária em que questiona a validade de tanto conhecimento, de tanto labor.
Dolorosos suspiros encerram a sua melodia e ele leva aos lábios o veneno com que pretende terminar os seus dias infelizes, mas o alegre alarido que lhe chega das ruas, por conta dos cantos e risos das belas jovens que festejam a nascente manhã de Páscoa, faz com que seu gesto fique suspenso por instantes, nos quais ele sente aumentar o seu rancor em face da alegria alheia. Tanta juventude, tanto vigor, tanta felicidade para todos os outros, menos para si.
Amarga constatação que o leva a blasfemar e a invocar as “Forças das Trevas”, pois já não pode acreditar nas virtudes do Bem.
E a resposta chega imediatamente através de um grande estrondo que anuncia a chegada de Mefistófeles, transfigurado em um elegante cavaleiro.
Fausto não consegue conter um grito de pavor e resgatando um resto de princípios religiosos tenta expulsar o “Anjo das Trevas” com insistente “sinais da cruz” e orações, mas Mefistófeles se recusa rudemente a partir, alegando ter vindo de tão longe apenas porque foi chamado e que, portanto, não admite ser enxotado daquela maneira.
Depois, de modo mais polido, oferece-se a Fausto como um “amigo” capaz de lhe proporcionar todos os prazeres desse mundo, como rejuvenescimento, beleza, saúde, fortuna, amores etc., desde que ele lhe entregue a alma ao fim da vida.
Fascinado com a perspectiva de obter tanto prazer o velho cientista não mensura as terríveis consequências de sua opção e pede: “juventude e prazer”.
Mefistófeles não perde tempo e magicamente faz materializar no despojado quarto a figura radiosa de Margarida, a mais bela jovem da cidade.
Fausto entusiasma-se com a aparição e com a demonstração de poder do “Emissário do Inferno” e este não perde a oportunidade de lhe oferecer o contrato em que Fausto lhe cede a alma em troca dos prazeres mundanos.
Após uma breve hesitação, o velho cientista assina o terrível documento e Mefistófeles lhe dá uma estranha bebida, que o torna jovem, belo e rico. Um verdadeiro cavaleiro da mais alta estirpe.
Eufórico com a sua nova estampa e condição, Fausto aceita de bom grado ao convite do “Anjo Maligno” para saírem em busca dos prazeres do mundo.
Caminham felizes como uma dupla de ébrios e Fausto entoa a ária “Moi Les Plaisirs (A mim, os prazeres)”, encerrando o primeiro ato.
Uma dura rotina que praticamente permeou toda a sua existência sem lhe trazer reconhecimento, fama e fortuna. Uma vida sem aventuras, sem prazeres, compensações, amores, amizades e outras maneiras de satisfação.
Apenas trabalho e um enorme acúmulo de saber que, segundo ele, a rigor, de nada lhe serviu.
A baixa iluminação indica que a noite avança célere e a sensação de inutilidade, de amargura e de frustração já não lhe cabe no peito e ele expressa toda a sua triste condição ao entoar a sofrida ária em que questiona a validade de tanto conhecimento, de tanto labor.
Dolorosos suspiros encerram a sua melodia e ele leva aos lábios o veneno com que pretende terminar os seus dias infelizes, mas o alegre alarido que lhe chega das ruas, por conta dos cantos e risos das belas jovens que festejam a nascente manhã de Páscoa, faz com que seu gesto fique suspenso por instantes, nos quais ele sente aumentar o seu rancor em face da alegria alheia. Tanta juventude, tanto vigor, tanta felicidade para todos os outros, menos para si.
Amarga constatação que o leva a blasfemar e a invocar as “Forças das Trevas”, pois já não pode acreditar nas virtudes do Bem.
E a resposta chega imediatamente através de um grande estrondo que anuncia a chegada de Mefistófeles, transfigurado em um elegante cavaleiro.
Fausto não consegue conter um grito de pavor e resgatando um resto de princípios religiosos tenta expulsar o “Anjo das Trevas” com insistente “sinais da cruz” e orações, mas Mefistófeles se recusa rudemente a partir, alegando ter vindo de tão longe apenas porque foi chamado e que, portanto, não admite ser enxotado daquela maneira.
Depois, de modo mais polido, oferece-se a Fausto como um “amigo” capaz de lhe proporcionar todos os prazeres desse mundo, como rejuvenescimento, beleza, saúde, fortuna, amores etc., desde que ele lhe entregue a alma ao fim da vida.
Fascinado com a perspectiva de obter tanto prazer o velho cientista não mensura as terríveis consequências de sua opção e pede: “juventude e prazer”.
Mefistófeles não perde tempo e magicamente faz materializar no despojado quarto a figura radiosa de Margarida, a mais bela jovem da cidade.
Fausto entusiasma-se com a aparição e com a demonstração de poder do “Emissário do Inferno” e este não perde a oportunidade de lhe oferecer o contrato em que Fausto lhe cede a alma em troca dos prazeres mundanos.
Após uma breve hesitação, o velho cientista assina o terrível documento e Mefistófeles lhe dá uma estranha bebida, que o torna jovem, belo e rico. Um verdadeiro cavaleiro da mais alta estirpe.
Eufórico com a sua nova estampa e condição, Fausto aceita de bom grado ao convite do “Anjo Maligno” para saírem em busca dos prazeres do mundo.
Caminham felizes como uma dupla de ébrios e Fausto entoa a ária “Moi Les Plaisirs (A mim, os prazeres)”, encerrando o primeiro ato.
§§§
O segundo ato é ambientado na praça do mercado de uma típica cidade medieval alemã, onde uma quermesse congrega quase todos os aldeões.
À esquerda do cenário, avista-se a reprodução de uma taberna, cujo letreiro é composto pela imitação de uma barrica de vinho, abaixo do nome do estabelecimento.
No centro da cena, camponeses brincam e dançam, sem, no entanto, olvidarem completamente de um triste acontecimento que irá modificar a suas pacíficas rotinas, vez que um destacamento de filhos da terra foi convocado para a guerra.
Acontecimento, aliás, que faz com o jovem Valentino entoe a sofrida ária “Avant de Quitter ces Lieux (Antes de deixar estes lugares)”, pois, sendo um dos convocados, mais que a morte, teme a sorte de sua irmã, a bela Margarida.
E tão grande é a preocupação e a angústia que demonstra, que o jovem Siebel, namorado da moça, promete-lhe cuidar da mesma como se ela fosse a sua própria irmã. Outro amigo, Wagner, também o tranquiliza e ao cantar uma alegre canção consegue amenizar o clima pesado.
Pouco depois, um cavaleiro, elegantemente trajado, interrompe a canção de Wagner, dizendo saber outra música que mais alegrará o ambiente; e sem esperar o consentimento dos demais, inicia “Le Veau D´or (O bezerro de ouro)”, que faz grosseiras críticas à fé cristã, enquanto exalta as virtudes do ouro.
O teor da ária causa estranheza e repulsa nos ouvintes, mas, ainda assim, as pobres almas, presas aos liames da ignorância e da superstição, permitem que o “Enviado de Lúcifer” “leia-lhes a sorte”.
São vaticínios sombrios, aziagos, funestos, mas quando Mefistófeles faz jorrar vinho da figura no letreiro da taverna e com ele propõe um indecente brinde à Margarida, a multidão esquece-se dos maus prognósticos e volta a festejar alegremente.
Contudo, nem todos participam daquele momento alvissareiro, pois Valentino não pode aceitar o ultraje feito, naquele brinde, à reputação de sua irmã Margarida e desafia o cavaleiro insultante para um duelo. É o bastante para que o “Príncipe do Mal” use os seus poderes infernais e quebre a espada do desafiante em vários pedaços.
É um claro sinal de que o estranho não é um homem comum e os camponeses recuam aterrorizados, pois percebem estarem diante de um “Ser Infernal”. Valentino, por sua vez, recorre à arma que lhe resta, a fé cristã, e faz o tradicional “sinal da cruz”, sendo imitado por todos.
Ante aquela demonstração de crença no Poder de Deus, Mefistófeles se desconcerta e não vê alternativa que não seja retirar-se.
A festa, então, recomeça e a orquestra executa uma valsa. Fausto aproxima-se de Margarida e a convida para dançar, porém a timidez da moça faz com que recuse o convite, apesar de ter-se encantado com a bela estampa e com a fidalguia de seu pretendente.
Fausto, por sua vez, fica ainda mais encantado com a beleza e graciosidade da jovem e expressa toda essa paixão na ária “O Belle Le Enfant! Je T´aime”, que encerra o segundo ato.
À esquerda do cenário, avista-se a reprodução de uma taberna, cujo letreiro é composto pela imitação de uma barrica de vinho, abaixo do nome do estabelecimento.
No centro da cena, camponeses brincam e dançam, sem, no entanto, olvidarem completamente de um triste acontecimento que irá modificar a suas pacíficas rotinas, vez que um destacamento de filhos da terra foi convocado para a guerra.
Acontecimento, aliás, que faz com o jovem Valentino entoe a sofrida ária “Avant de Quitter ces Lieux (Antes de deixar estes lugares)”, pois, sendo um dos convocados, mais que a morte, teme a sorte de sua irmã, a bela Margarida.
E tão grande é a preocupação e a angústia que demonstra, que o jovem Siebel, namorado da moça, promete-lhe cuidar da mesma como se ela fosse a sua própria irmã. Outro amigo, Wagner, também o tranquiliza e ao cantar uma alegre canção consegue amenizar o clima pesado.
Pouco depois, um cavaleiro, elegantemente trajado, interrompe a canção de Wagner, dizendo saber outra música que mais alegrará o ambiente; e sem esperar o consentimento dos demais, inicia “Le Veau D´or (O bezerro de ouro)”, que faz grosseiras críticas à fé cristã, enquanto exalta as virtudes do ouro.
O teor da ária causa estranheza e repulsa nos ouvintes, mas, ainda assim, as pobres almas, presas aos liames da ignorância e da superstição, permitem que o “Enviado de Lúcifer” “leia-lhes a sorte”.
São vaticínios sombrios, aziagos, funestos, mas quando Mefistófeles faz jorrar vinho da figura no letreiro da taverna e com ele propõe um indecente brinde à Margarida, a multidão esquece-se dos maus prognósticos e volta a festejar alegremente.
Contudo, nem todos participam daquele momento alvissareiro, pois Valentino não pode aceitar o ultraje feito, naquele brinde, à reputação de sua irmã Margarida e desafia o cavaleiro insultante para um duelo. É o bastante para que o “Príncipe do Mal” use os seus poderes infernais e quebre a espada do desafiante em vários pedaços.
É um claro sinal de que o estranho não é um homem comum e os camponeses recuam aterrorizados, pois percebem estarem diante de um “Ser Infernal”. Valentino, por sua vez, recorre à arma que lhe resta, a fé cristã, e faz o tradicional “sinal da cruz”, sendo imitado por todos.
Ante aquela demonstração de crença no Poder de Deus, Mefistófeles se desconcerta e não vê alternativa que não seja retirar-se.
A festa, então, recomeça e a orquestra executa uma valsa. Fausto aproxima-se de Margarida e a convida para dançar, porém a timidez da moça faz com que recuse o convite, apesar de ter-se encantado com a bela estampa e com a fidalguia de seu pretendente.
Fausto, por sua vez, fica ainda mais encantado com a beleza e graciosidade da jovem e expressa toda essa paixão na ária “O Belle Le Enfant! Je T´aime”, que encerra o segundo ato.
§§§
O terceiro ato é ambientado na réplica do jardim da casa de Margarida, onde se pode avistar, por certo ângulo, a residência em si e, por outro, a torre de uma igreja. Em primeiro plano, avista-se um belo roseiral.
De início a orquestra executa um breve prelúdio e logo em seguida surge Siebel, que do alto de sua pureza juvenil pede às flores que trouxe que digam à namorada, o quanto ele a ama (Faites lui mes aveux), retirando-se em seguida.
Na sequência entram Fausto e Mefistófeles e enquanto o primeiro entoa a ária “Salut! Demeure Chaste et Pure (Salve, lar casto e puro)”, o segundo sai de cena para retornar pouco depois com um luxuoso estojo com várias joias, para que Fausto presenteie Margarida, garantindo-lhe que ela irá recebê-las com muito mais prazer, que às pobres flores deixadas por Siebel.
Sem questionar, Fausto ajuda-o a acomodar o rico presente à porta da casa, rente às flores, e ambos saem de cena.
Instantes depois, Margarida vai ao jardim e se põe a divagar sobre aquele estranho que mexeu com as suas emoções e ao cantar a bela ária “Balada do Rei de Thule” deixa claro o quanto ele lhe agradou.
Finda a ária, ela levanta-se da roca de fiar, onde estivera, e descobre as flores e as joias. Exultante, não reprime a vaidade e se orna com as últimas, admirando-se em um pequeno espelho. Sem poder conter-se, ri de si mesma e entoa a ária “Je Ris de me Voir” e acaba sendo surpreendida por Marta, sua vizinha, que não regateia elogios à sua beleza, aumentada pelo esplendor das ricas peças de ouro e de diamante.
É um momento de comunhão e de alegria para ambas, mas a descontração do momento logo é interrompida pela chegada de Fausto e de Mefistófeles.
Enquanto o “Anjo do Mal” procura afastar Marta, usando delicados subterfúgios, Fausto aproxima-se de Margarida, a quem cobre de elogios e galanteios.
Nisso, a noite começa a cair e Mefistófeles entoa a ária “Oh Nuit Étend Sur Eux ton Ombre (Oh, noite estende o seu manto sobre eles)”, procurando acender a paixão no casal, que passeia pelo jardim. E, com efeito, a paixão entre ambos já não pode ser negada ou ocultada e o dueto “Laisse Moi Contempler ton Visage (Deixa-me contemplar o teu rosto)” parece, ingenuamente, celebrar a pureza de um novo amor.
Contudo, apesar da força de sua paixão, Margarida ainda é prisioneira dos costumes da época e por isso impede que Fausto avance além de certo limite, despedindo-se do mesmo sob o argumento de que é chegada a hora de se recolher.
Uma atitude que em nada desagrada ao apaixonado Fausto, que vê em seu recato e em sua meiguice mais motivos para desejá-la. Sentindo-se leve e feliz, despede-se e se prepara para partir quando é rudemente interpelado por Mefistófeles que lhe acusa de ser um tíbio que não ousa aproveitar as oportunidades que surgem.
Desconcertado, Fausto aceita a crítica e a sugestão de permanecer oculto no jardim para que possa ouvir Margarida confessar o amor que lhe dedica.
E, com efeito, através da ria “Il M´Aime – que o grande compositor Berlioz classificou como o ápice da obra”, ela expõe, sem pudor, todo o afeto que sente pelo recém chegado.
Para Fausto é o bastante e com o vigor que a nova juventude lhe deu, salta pela janela e a beija e abraça apaixonadamente, para contentamento de Mefistófeles, que com uma cínica gargalhada encerra o terceiro ato.
De início a orquestra executa um breve prelúdio e logo em seguida surge Siebel, que do alto de sua pureza juvenil pede às flores que trouxe que digam à namorada, o quanto ele a ama (Faites lui mes aveux), retirando-se em seguida.
Na sequência entram Fausto e Mefistófeles e enquanto o primeiro entoa a ária “Salut! Demeure Chaste et Pure (Salve, lar casto e puro)”, o segundo sai de cena para retornar pouco depois com um luxuoso estojo com várias joias, para que Fausto presenteie Margarida, garantindo-lhe que ela irá recebê-las com muito mais prazer, que às pobres flores deixadas por Siebel.
Sem questionar, Fausto ajuda-o a acomodar o rico presente à porta da casa, rente às flores, e ambos saem de cena.
Instantes depois, Margarida vai ao jardim e se põe a divagar sobre aquele estranho que mexeu com as suas emoções e ao cantar a bela ária “Balada do Rei de Thule” deixa claro o quanto ele lhe agradou.
Finda a ária, ela levanta-se da roca de fiar, onde estivera, e descobre as flores e as joias. Exultante, não reprime a vaidade e se orna com as últimas, admirando-se em um pequeno espelho. Sem poder conter-se, ri de si mesma e entoa a ária “Je Ris de me Voir” e acaba sendo surpreendida por Marta, sua vizinha, que não regateia elogios à sua beleza, aumentada pelo esplendor das ricas peças de ouro e de diamante.
É um momento de comunhão e de alegria para ambas, mas a descontração do momento logo é interrompida pela chegada de Fausto e de Mefistófeles.
Enquanto o “Anjo do Mal” procura afastar Marta, usando delicados subterfúgios, Fausto aproxima-se de Margarida, a quem cobre de elogios e galanteios.
Nisso, a noite começa a cair e Mefistófeles entoa a ária “Oh Nuit Étend Sur Eux ton Ombre (Oh, noite estende o seu manto sobre eles)”, procurando acender a paixão no casal, que passeia pelo jardim. E, com efeito, a paixão entre ambos já não pode ser negada ou ocultada e o dueto “Laisse Moi Contempler ton Visage (Deixa-me contemplar o teu rosto)” parece, ingenuamente, celebrar a pureza de um novo amor.
Contudo, apesar da força de sua paixão, Margarida ainda é prisioneira dos costumes da época e por isso impede que Fausto avance além de certo limite, despedindo-se do mesmo sob o argumento de que é chegada a hora de se recolher.
Uma atitude que em nada desagrada ao apaixonado Fausto, que vê em seu recato e em sua meiguice mais motivos para desejá-la. Sentindo-se leve e feliz, despede-se e se prepara para partir quando é rudemente interpelado por Mefistófeles que lhe acusa de ser um tíbio que não ousa aproveitar as oportunidades que surgem.
Desconcertado, Fausto aceita a crítica e a sugestão de permanecer oculto no jardim para que possa ouvir Margarida confessar o amor que lhe dedica.
E, com efeito, através da ria “Il M´Aime – que o grande compositor Berlioz classificou como o ápice da obra”, ela expõe, sem pudor, todo o afeto que sente pelo recém chegado.
Para Fausto é o bastante e com o vigor que a nova juventude lhe deu, salta pela janela e a beija e abraça apaixonadamente, para contentamento de Mefistófeles, que com uma cínica gargalhada encerra o terceiro ato.
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O quarto ato é encenado na reprodução do interior de uma igreja.
Algum tempo já transcorreu desde o primeiro beijo entre Fausto e Margarida. Depois, ela se entregou completamente a ele, que, uma vez saciado, desinteressou-se e a abandonou.
Execrada pela comunidade, afastada da família, a pobre Margarida busca através de orações e penitencias o perdão dos homens e o de Deus, mas, ainda que seu arrependimento seja sincero, ela não encontra paz, sendo constantemente atormentada pela maligna voz de Mefistófeles, que repete continuamente que a sua Alma já está condenada ao fogo do Inferno.
Extra cena, um Coral entoa o vigoroso hino “Dies Irae” e um segundo Coro canta músicas com teor demoníaco. A eterna luta entre o Bem e o Mal, em meio a qual se eleva a voz angustiada de Margarida em contínua oração, contra a de Mefistófeles em perpétua condenação.
É um momento tenso, pesado e num crescente de excitação, culpa e busca pela redenção, Margarida perde as forças e após um grito lancinante cai desacordada ao solo, do qual só é erguida quando outros devotos da congregação chegam ao Templo para os ofícios religiosos.
E assim termina a primeira cena.
A segunda cena é ambientada na réplica da praça fronteira à casa de Margarida.
Ao fundo se escuta as fanfarras militares e os gritos do povo que saúda os soldados retornados da guerra.
Liderando o batalhão, Valentino, o irmão de Margarida, marcha gloriosamente. Desfilam garbosamente até que em certo ponto estacionam e a soldadesca entoa o famoso “Coro dos Soldados”, dispersando-se em seguida.
Ansioso, Valentino busca Siebel e o interroga sobre a irmã, mas a resposta vaga e hesitante do ex-namorado deixa-o preocupado e ele parte apressadamente à procura de Margarida.
Nesse momento, Fausto e Mefistófeles chegam à praça e o “Anjo do Mal”, com o seu habitual sarcasmo, entoa a célebre “Vous que faites l´endormite (Ó, tu que finges dormir)”, acompanhando-se em uma guitarra, numa clara alusão ao triste destino da jovem irmã de Valentino. E como se não bastasse o deboche da música, ele tripudia ao terminar a canção com uma sonora e cínica gargalhada.
O jovem herói de guerra não pode suportar tamanho ultraje e já com a espada desembainhada, volta à praça e avançado furiosamente contra Mefistófeles quebra-lhe a guitarra em mil pedaços. Depois, percebendo a presença de Fausto, ataca-o vigorosamente, mas, este, ajudado pelo “Príncipe do Mal” repele a sua investida e acaba ferindo-o gravemente.
O alarido do combate atrai inúmeros populares e a dupla de malfeitores foge apressadamente, enquanto, Valentino, com as suas últimas forças, amaldiçoa a irmã por ter deflagrado toda aquela funesta sequência, dando, logo depois, o último suspiro nos braços do povo, que o lamenta sentidamente.
Margarida, atraída pelo barulho, ao ver o irmão morto se desespera e sobre o corpo inerte do irmão encerra o quarto ato com lágrimas copiosas.
Algum tempo já transcorreu desde o primeiro beijo entre Fausto e Margarida. Depois, ela se entregou completamente a ele, que, uma vez saciado, desinteressou-se e a abandonou.
Execrada pela comunidade, afastada da família, a pobre Margarida busca através de orações e penitencias o perdão dos homens e o de Deus, mas, ainda que seu arrependimento seja sincero, ela não encontra paz, sendo constantemente atormentada pela maligna voz de Mefistófeles, que repete continuamente que a sua Alma já está condenada ao fogo do Inferno.
Extra cena, um Coral entoa o vigoroso hino “Dies Irae” e um segundo Coro canta músicas com teor demoníaco. A eterna luta entre o Bem e o Mal, em meio a qual se eleva a voz angustiada de Margarida em contínua oração, contra a de Mefistófeles em perpétua condenação.
É um momento tenso, pesado e num crescente de excitação, culpa e busca pela redenção, Margarida perde as forças e após um grito lancinante cai desacordada ao solo, do qual só é erguida quando outros devotos da congregação chegam ao Templo para os ofícios religiosos.
E assim termina a primeira cena.
A segunda cena é ambientada na réplica da praça fronteira à casa de Margarida.
Ao fundo se escuta as fanfarras militares e os gritos do povo que saúda os soldados retornados da guerra.
Liderando o batalhão, Valentino, o irmão de Margarida, marcha gloriosamente. Desfilam garbosamente até que em certo ponto estacionam e a soldadesca entoa o famoso “Coro dos Soldados”, dispersando-se em seguida.
Ansioso, Valentino busca Siebel e o interroga sobre a irmã, mas a resposta vaga e hesitante do ex-namorado deixa-o preocupado e ele parte apressadamente à procura de Margarida.
Nesse momento, Fausto e Mefistófeles chegam à praça e o “Anjo do Mal”, com o seu habitual sarcasmo, entoa a célebre “Vous que faites l´endormite (Ó, tu que finges dormir)”, acompanhando-se em uma guitarra, numa clara alusão ao triste destino da jovem irmã de Valentino. E como se não bastasse o deboche da música, ele tripudia ao terminar a canção com uma sonora e cínica gargalhada.
O jovem herói de guerra não pode suportar tamanho ultraje e já com a espada desembainhada, volta à praça e avançado furiosamente contra Mefistófeles quebra-lhe a guitarra em mil pedaços. Depois, percebendo a presença de Fausto, ataca-o vigorosamente, mas, este, ajudado pelo “Príncipe do Mal” repele a sua investida e acaba ferindo-o gravemente.
O alarido do combate atrai inúmeros populares e a dupla de malfeitores foge apressadamente, enquanto, Valentino, com as suas últimas forças, amaldiçoa a irmã por ter deflagrado toda aquela funesta sequência, dando, logo depois, o último suspiro nos braços do povo, que o lamenta sentidamente.
Margarida, atraída pelo barulho, ao ver o irmão morto se desespera e sobre o corpo inerte do irmão encerra o quarto ato com lágrimas copiosas.
§§§
O quinto ato é encenado em uma suja e horrenda cela de prisão, onde a alucinada Margarida jaz sobre uma tosca cama de palha.
Algum tempo já é passado desde a morte de Valentino. Nesse ínterim, Margarida gerou o filho que Fausto lhe fez quando a seduziu e, depois, num acesso de loucura, matou-o; razão, aliás, pela qual se encontra presa e condenada a morrer enforcada na manhã seguinte.
Se a culpa por ter-se deixado seduzir e pela morte do irmão já a tinham abalado profundamente, o infanticídio que cometeu eliminou qualquer laço com a lucidez e, por isso, quando Mefistófeles e Fausto entram na sua cela – após embebedarem o carcereiro – ela se alegra enormemente, achando que Fausto ainda é o mesmo amor de antes.
E, realmente, ele ainda tem algum interesse por ela, principalmente por compaixão e por culpa. Em relação a Mefistófeles, porém, nada de bom se pode dizer, pois o que lhe interessa é apenas levar a Alma da pobre coitada para o “Fogo do Inferno”, tão logo se consume a sua morte na forca.
Nesse ponto a orquestra executa vários trechos de Árias que marcaram os momentos felizes que o casal viveu e ela, envolta nesse delírio, abandona a cama e vai em direção ao seu antigo amado; porém, quando percebe a presença do “Príncipe das Trevas” junto dele, sente uma enorme repugnância e um grande temor e essas novas sensações despertam-lhe relances de Razão, que a fazem compreender que ele é um “emissário do Inferno”, cujo único objetivo é fazê-la purgar por toda a eternidade.
Horrorizada, ela grita de pavor e usa a única arma que conhece: as rezas, as preces e o pedido de socorro a Deus. Ajoelhada, reza devotamente e implora pelo socorro divino, ignorando a pressão contrária que Fausto e Mefistófeles fazem, na tentativa de que ela fuja com eles.
É um momento tenso, dramático e que mais se acentua graças ao Trio que os três entoam, onde a voz de Margarida canta “Anges Purs, Anges Radieux (Anjos puros, Anjos radiosos)” e a dos inimigos, cantos blasfemos e pervertidos.
Por fim, seus rogos são atendidos e anjos descem à Terra e cantando o célebre “Hino da Redenção” elevam a sua alma ao Paraíso.
Ao infernal Mefistófeles só resta a frustração por tê-la perdido. Irritado, entre muitas blasfêmias, segura Fausto firmemente e, com ele, segue em direção ao “Reino de Lúcifer”.
É o fim da Ópera.
Algum tempo já é passado desde a morte de Valentino. Nesse ínterim, Margarida gerou o filho que Fausto lhe fez quando a seduziu e, depois, num acesso de loucura, matou-o; razão, aliás, pela qual se encontra presa e condenada a morrer enforcada na manhã seguinte.
Se a culpa por ter-se deixado seduzir e pela morte do irmão já a tinham abalado profundamente, o infanticídio que cometeu eliminou qualquer laço com a lucidez e, por isso, quando Mefistófeles e Fausto entram na sua cela – após embebedarem o carcereiro – ela se alegra enormemente, achando que Fausto ainda é o mesmo amor de antes.
E, realmente, ele ainda tem algum interesse por ela, principalmente por compaixão e por culpa. Em relação a Mefistófeles, porém, nada de bom se pode dizer, pois o que lhe interessa é apenas levar a Alma da pobre coitada para o “Fogo do Inferno”, tão logo se consume a sua morte na forca.
Nesse ponto a orquestra executa vários trechos de Árias que marcaram os momentos felizes que o casal viveu e ela, envolta nesse delírio, abandona a cama e vai em direção ao seu antigo amado; porém, quando percebe a presença do “Príncipe das Trevas” junto dele, sente uma enorme repugnância e um grande temor e essas novas sensações despertam-lhe relances de Razão, que a fazem compreender que ele é um “emissário do Inferno”, cujo único objetivo é fazê-la purgar por toda a eternidade.
Horrorizada, ela grita de pavor e usa a única arma que conhece: as rezas, as preces e o pedido de socorro a Deus. Ajoelhada, reza devotamente e implora pelo socorro divino, ignorando a pressão contrária que Fausto e Mefistófeles fazem, na tentativa de que ela fuja com eles.
É um momento tenso, dramático e que mais se acentua graças ao Trio que os três entoam, onde a voz de Margarida canta “Anges Purs, Anges Radieux (Anjos puros, Anjos radiosos)” e a dos inimigos, cantos blasfemos e pervertidos.
Por fim, seus rogos são atendidos e anjos descem à Terra e cantando o célebre “Hino da Redenção” elevam a sua alma ao Paraíso.
Ao infernal Mefistófeles só resta a frustração por tê-la perdido. Irritado, entre muitas blasfêmias, segura Fausto firmemente e, com ele, segue em direção ao “Reino de Lúcifer”.
É o fim da Ópera.
Histórico
A lenda do cientista que vende a sua alma ao Demônio em troca dos prazeres mundanos foi uma das mais populares da Idade Média e, ainda hoje, é muito conhecida e citada, enquanto metáfora condenatória da ganância excessiva, que não mede consequências para satisfazer de bens materiais ao ganancioso.
Como toda lenda, a de Fausto não foi gerada apenas por alguma imaginação fértil, sendo, em verdade, derivada de alguns fatos e personagens que existiram realmente.
Primeiramente foi associada a Johan Faustus, que teria vivido na Alemanha e que era dado a práticas de feitiçaria, sendo, por isso, associado ao Diabo, razão que o levou a ser linchado. O próprio Martinho Lutero, fundador da Reforma Protestante, chegou a citá-lo como exemplo das “Forças do Mal”.
A história do trágico personagem foi escrita pela primeira vez em 1587, em Frankfurt, por Spiess e desde então todo indivíduo dotado de luzes acima da média passou a ser considerado um signatário de “Pactos com o Demônio”, como ocorreu, por exemplo, com Johnn Fust de Mongúcia, principal auxiliar de Gutenberg, em razão de seu extraordinário conhecimento em tipografia.
Tempos depois, o grande romancista e poeta Goethe, fascinado pela história desde a tenra infância, escreveu a grande obra “Fausto e Margarida”, ao qual dedicou nada menos que trinta e quatro anos, já que o iniciou aos vinte e seis anos de idade e só o terminou sexagenário.
Goethe deu à lenda ares mais sofisticados e eruditos e foi em seu Romance (novela, para o público em espanhol) que Charles Gounod se baseou para escrever a sua grande Ópera.
A riqueza dramática e filosófica da obra do romancista alemão foi o primeiro atrativo a seduzir o compositor; assim como, como o de um vasto e variado grupo de pintores e musicistas, dos quais vale citar: “Doktor Faust”, de Busoni; “A Danação de Fausto”, de Berlioz; “Petit Fausto”, opereta-paródia; a grande música sinfônica e incidental para a peça de Wagner e, por fim, a esplêndida composição sinfônica de Liszt.
A Ópera de Gounod começou a ser planejada em 1856 e após três anos estreou em Paris, que a consagrou. Na noite inaugural, enriqueceram a plateia os gênios de Berlioz, Delacroix, Perrin e mais uma centena de figuras proeminentes no campo das Artes que, junto a grandes banqueiros e políticos, atestaram o prestígio da peça e o sucesso de seu criador.
E o êxito inaugural solidificou-se continuamente.
Dez anos depois, 1887, Gounod revisou-a para a apresentação no “Grande Ópera”, quando o compositor comemorou, com uma legião de fãs e amigos, as quinhentas apresentações de sua obra. Oito anos depois, a celebração foi pela milésima apresentação, sempre em Paris. Ademais, coube-lhe, ainda, a honra de inaugurar o “Metropolitan Ópera House” em New York, EUA, em 1883.
Sucesso merecido para o jovem compositor de apenas quarenta e um anos de idade e que perdura até os dias atuais.
Como toda lenda, a de Fausto não foi gerada apenas por alguma imaginação fértil, sendo, em verdade, derivada de alguns fatos e personagens que existiram realmente.
Primeiramente foi associada a Johan Faustus, que teria vivido na Alemanha e que era dado a práticas de feitiçaria, sendo, por isso, associado ao Diabo, razão que o levou a ser linchado. O próprio Martinho Lutero, fundador da Reforma Protestante, chegou a citá-lo como exemplo das “Forças do Mal”.
A história do trágico personagem foi escrita pela primeira vez em 1587, em Frankfurt, por Spiess e desde então todo indivíduo dotado de luzes acima da média passou a ser considerado um signatário de “Pactos com o Demônio”, como ocorreu, por exemplo, com Johnn Fust de Mongúcia, principal auxiliar de Gutenberg, em razão de seu extraordinário conhecimento em tipografia.
Tempos depois, o grande romancista e poeta Goethe, fascinado pela história desde a tenra infância, escreveu a grande obra “Fausto e Margarida”, ao qual dedicou nada menos que trinta e quatro anos, já que o iniciou aos vinte e seis anos de idade e só o terminou sexagenário.
Goethe deu à lenda ares mais sofisticados e eruditos e foi em seu Romance (novela, para o público em espanhol) que Charles Gounod se baseou para escrever a sua grande Ópera.
A riqueza dramática e filosófica da obra do romancista alemão foi o primeiro atrativo a seduzir o compositor; assim como, como o de um vasto e variado grupo de pintores e musicistas, dos quais vale citar: “Doktor Faust”, de Busoni; “A Danação de Fausto”, de Berlioz; “Petit Fausto”, opereta-paródia; a grande música sinfônica e incidental para a peça de Wagner e, por fim, a esplêndida composição sinfônica de Liszt.
A Ópera de Gounod começou a ser planejada em 1856 e após três anos estreou em Paris, que a consagrou. Na noite inaugural, enriqueceram a plateia os gênios de Berlioz, Delacroix, Perrin e mais uma centena de figuras proeminentes no campo das Artes que, junto a grandes banqueiros e políticos, atestaram o prestígio da peça e o sucesso de seu criador.
E o êxito inaugural solidificou-se continuamente.
Dez anos depois, 1887, Gounod revisou-a para a apresentação no “Grande Ópera”, quando o compositor comemorou, com uma legião de fãs e amigos, as quinhentas apresentações de sua obra. Oito anos depois, a celebração foi pela milésima apresentação, sempre em Paris. Ademais, coube-lhe, ainda, a honra de inaugurar o “Metropolitan Ópera House” em New York, EUA, em 1883.
Sucesso merecido para o jovem compositor de apenas quarenta e um anos de idade e que perdura até os dias atuais.
Produção e divulgação de Vera L. M. Teragosa.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.