Sobre o controle de mentes
O google é a maior ferramenta de controle humano já idealizada, muitíssimo mais poderosa que o doloroso chicote, ou que a tediosa e amolecedora televisão.
Reconhecemos ter algo a que referenciamos como “mente”, e que compreendemos apenas vagamente. Consideramos que cada pessoa possui sua própria mente. Acreditamos que os animais possuem algo análogo, algo como um esboço de mente, e imaginamos que eventuais ETs tenham suas próprias mentes, assim como seres mitológicos variados o teriam. Desse modo, atribuímos uma mente aos seres animados individualmente, e apenas, talvez, aos mais complexos entre eles.
Assim, não nos parece razoável atribuir uma mente a seres inanimados, como um televisor, um boneco, ou uma casa. Também não parece aceitável supor a existência de mentes coletivas; imaginamos bandos como aglomerações, havendo tantas mentes em cada um deles quantos forem os indivíduos que o compõem.
Esses 2 tipos de mentes, no entanto, se imporão brevemente em nosso mundo, na forma de mentes coletivas e mentes computadorizadas. Há forte conexão entre ambas.
Os computadores estão aprendendo, muito rapidamente, a fazer conexões. Têm ganhado habilidade no reconhecimento de imagens, de padrões linguísticos, estratégicos e muitos outros, em poucas décadas estarão habilitados para realizar, virtualmente, qualquer tarefa humana e, apenas uma teimosia cega e fechada impedirá que reconheçamos a inteligência de suas mentes.
Mentes coletivas são ainda mais estranhas. Convivemos com elas desde sempre, compomos mentes coletivas sempre que nos reunimos em grupos. Sujeitamo-nos radicalmente a elas sempre que criamos estruturas centralizadas de poder.
Ultimamente, temos tecido, diligentemente, os órgãos sensoriais do leviatã, da grande rede coletiva humana, essa entidade autônoma que nos controla em graus cada dia maiores. Seus olhos e ouvidos varrem, hoje, quase todo o planeta, são quase ubíquos e se reproduzem a cada dia. Consistem nas câmeras de vídeo. Possuem um sentido extra com o qual sugam, via download, todo tipo de informação passado na internet. Sua face mais preocupante e nefasta, no entanto, decorre da busca deliberada, explícita, de controle.
O google é a maior ferramenta de controle humano já idealizada, muitíssimo mais poderosa que o doloroso chicote, ou que a tediosa e amolecedora televisão. Este monstro imenso está sendo aprimorado em dois níveis, no de compreensão de nossas mentes, e de compreensão do mundo.
Originalmente, o google era um sistema de espionagem, puro e simples. Consistia em um sistema de buscas capaz de localizar e interceptar conversas e informações potencialmente perigosas. Palavras como “bomba”, quando localizadas, disparavam um alarme sinalizando sua ocorrência. O intuito era descobrir com antecedência a articulação de planos de ação potencialmente perigosos.
Revelou-se multiplamente vantajosa a entrega do poderoso sistema de espionagem aos capitalistas, que o transformaram, de imediato, em um empreendimento absurdamente lucrativo, ao canalizar a multidão de compradores direto para seus produtos. Está procurando um tênis? Veja essa oferta!
O passo seguinte consistiu em descobrir os desejos das pessoas. Este costuma comprar A, B e C, é o que oferecerei para ele. Ah, percebo que os compradores usuais de A, B e C estão se interessando por D. Veja D!
As conexões entre os interesses das pessoas têm sido mapeadas, tanto individual, quanto coletivamente. Nosso padrão de interesses está mais claramente definido na mente eletrônica que em nossas próprias. Talvez o google já saiba, mais precisamente que você, os produtos que você comprará no próximo mês. Sem dúvida, logo o saberá.
Os óculos do google estão chegando. Terão dois papéis iniciais drásticos; informarão à criatura todos os nossos passos (incluindo a atração causada em nós pela visão de cada produto), e rotularão o mundo para nós, desvendando a marca, e o preço de cada objeto que nos chame a atenção, como as roupas nas quais fixamos o olhar.
Acompanharão nossos olhares, nossas pupilas. Perceberão movimentos sutis indicadores de nossos desejos, de nossas disposições futuras. Logo perceberão intimamente todos os nossos sinais vitais, nossa respiração, batimento cardíaco, temperatura do corpo, dilatação da pupila, salivação, sudorese, poderão nos analisar quimicamente também, por todo o tempo.
Uma das habilidades recentes dos computadores consiste em aprender e se tornar exímio em um jogo qualquer. Podem observar um jogo novo, descobrir suas regras, definir estratégias e controlar o joystick passando a vencer qualquer oponente humano. No jogo de xadrez já superaram em muito a habilidade humana. Invertendo papéis tradicionais, usarão as mesmas habilidades para nos controlar wireless.
Imaginemos a jovem senhora rica saindo de casa pela manhã. Ela já se alimentou na medida adequada, saciada o suficiente para sentir fome em um instante planejado. Pega seu carro e vai ao shopping guiada pelo google, que a situa em um imenso tabuleiro de xadrez. Estaciona o carro na vaga indicada por ele. Percorre as lojas guiada por seu mestre, ele sabe “exatamente” o que a atrai, conhece precisamente suas preferências, seu passado, e a conduz conforme suas predileções. Haverá “coincidências”, ela sabe que haverá, costumam dar sorte.
A jovem entra em uma loja onde o google sinalizou a presença de uma blusa interessante, necessária para combinar com uma saia comprada ontem. Depara-se com outras roupas, experimenta uma e outra. O tempo ali está planejado, haverá tantos objetos chamativos quantos forem necessários para a adequação ao plano. Ela acaba por comprar apenas uma blusinha para não passar em branco; deve continuar sua jornada pelo shopping.
O lance de mestre: seu tempo foi calculado e controlado precisamente, sincronizado com o de outra moça que, neste momento, está comprando uma bolsa no outro andar do shopping, mas agora ela sente fome. O google sugere um petisco e a rota até ele; a jovem segue a indicação. Próxima do destino, tendo pontuado o caminho com paradas breves frente às vitrines para apreciar algumas das peças sinalizadas pelo google, ela cruza com a bela moça que acaba de comprar uma bolsa que a encanta profundamente. Todavia, o google não reconhece a bolsa, não a identifica, o que a desconcerta; ela deseja ardentemente a bolsa não identificada. Perplexa, desconsolada com a omissão incompreensível, ela se dirige à mesinha indicada, onde saboreará o petisco consolatório.
A saciedade alcançada logo após a primeira mordida permite que ela relaxe e percorra as vitrines ao redor, com o olhar. Já na última mordida, algo na vitrine em frente a atrai: coincidência admirável! Isso sempre traz sorte! Lá estava a desejada bolsa não identificada, tinha que comprar aquela preciosidade! Sabe, além disso, que a bolsa lhe trará, futuramente, algum golpe de sorte, as coincidências nunca falham, vêm sempre encadeadas umas às outras.
O próximo lance, no tabuleiro, já estará planejado.
E durante cada momento do dia, a moça se deixa guiar pelas indicações precisas do google, será assim a sua vida. Nunca conseguimos controlar ratinhos de laboratório com tamanha precisão. Adoraremos nos transformar em tais criaturas, ficaremos encantados.