Conteúdo Impróprio
Atualmente, as pessoas estão sendo massacradas pelas mídias sociais e a difusão dos avanços tecnológicos. Na década de 1990, ter um telefone celular era um artigo de luxo e os acessos a internet eram lentos e esporádicos para conferir a caixa de emails. As redes sociais existentes eram aquelas que as pessoas cultivavam por anos à fio pelo intermédio das correspondências, dos círculos de amigos e parentes, nas atividades em alguma agremiação ou entidade e no constante contato pessoal seja nas visitas de domingo ou pedindo uma xícara de açúcar na vizinhança. No século XXI, as pessoas tem aversão às pessoas, desenvolvem síndromes e doenças psicossomáticas pela fobia às multidões ou porque não conseguem lidar com seus traumas. É comum escutar: “Gosto mais de bicho do que de gente!” Um especismo às avessas, a negação da própria espécie. Seria uma contradição histórica ou uma tentativa de extinção? Com mais de 7 bilhões de habitantes, os seres humanos exploram e degradam seu habitat na volúpia do consumismo e do acúmulo de capital. Todas as formas de vida são suprimidas em prol do “ego” humano.
As pessoas são reconhecidas por seus números, lembrando os clássicos “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” do escritor Aldous Huxley. Não são os números de identidade ou CPF (cadastro de pessoa física), mas os números de senhas, contas bancárias e dos celulares. A impessoalidade racionalista ganha o espaço da pessoalidade humanizada. Há duas características inerentes da sociedade contemporânea: a violência e a genitalização. A veiculação exagerada de conteúdos impróprios para o desenvolvimento das virtudes humanas com a superexposição de cenas de agressividade e de teor pornográfico. As redes sociais estão banalizando, ou melhor “viralizando”, a pornografia e a violência como se fosse um cartão de visitas. Em mensagens instantâneas aparecem sexo explícito e imagens amadoras de casais transando ao mesmo tempo em que surgem as “decapitações em massa” promovidas pelo Estado Islâmico ou os homicídios e assassinatos decorrentes da barbárie urbana. As grandes mídias elevam ao nirvana padrões de “beleza” elegendo seus ícones a serem idolatrados pautados na sensualização dos gestos, das músicas e do enredo. Não é a toa que no cenário desportivo uma das mais promissoras modalidades é o sangrento MMA.
As crianças e os jovens não desenvolveram sua capacidade cognitiva para refletir e assimilar os conteúdos polêmicos das redes sociais. Cabe aos pais e educadores orientar e prevenir as novas gerações para os perigos escondidos na obscuridade da imediata comunicação em rede. Por intermédio dos conteúdos inadequados arquivados nos celulares dos pais, as crianças assistem abismados tudo aquilo que poderá corromper sua infância ou estimular uma precocidade desnecessária. A questão de gênero é evidente, quando no seio familiar, desentendimentos entre os casais são por causa de vídeos perniciosos compartilhados nos “grupos do wats”. Pernicioso porque corroe a relação matrimonial com o ciúmes (salvo as relações abertas de comum acordo e outras relações que tenham como base o sexismo), estimula os pedófilos e estupradores e rebaixa a nobre condição das mulheres a puro objeto de prazer e satisfação sexual. Enquanto banalizarmos os atos de violência não haverá paz, como também não há valorização dos seres humanos se concebermos nossa existência pela ótica da prevaricação e perversidade imposta pelos nossos instintos animalescos. A união, o amor entre as pessoas é mais sublime que o entra e sai dos órgãos genitais, o disfarce dos fetiches e fantasias e a sonoplastia dos filmes pornôs. O que antes era considerado conteúdo adulto, agora é acessível a todas as idades.
As crianças devem ser privadas dessas influências para poderem construir suas personalidades e formarem seu caráter fundamentado no respeito mútuo, na solidariedade e nos princípios de paz. As redes sociais estão influenciando as novas gerações e qual é a mensagem que será ecoada no futuro?
Publicado no Jornal Litoral Norte RS e Jornal A Folha.