UMA BREVE HISTÓRIA DOS QUADRINHOS
O início
A comunicação através das imagens não é coisa recente. Manifestava-se já na Idade da Pedra, com as inscrições rupestres, e posteriormente por intermédio de tapeçarias, vitrais, afrescos, estampas, charges, etc., cujas imagens apresentavam um sentido ou uma narrativa para o receptor.
As histórias em quadrinhos, como produto da comunicação de massa, têm seu desenvolvimento ligado às modificações histórico-culturais, que determinam o surgimento de personagens e o aproveitamento de conteúdos. Denominadas também de narrativas por imagens, literatura de imagens, arte seqüencial ou ainda de 9ª Arte, nasceram na mesma época do cinema e se influenciaram mutuamente. Houve fases em que os quadrinhos contaram com maior criatividade e maior liberdade de expressão, em vista das limitações do cinema. Atualmente, acompanhando a modernização das artes gráficas, as HQ têm procurado reproduzir os efeitos especiais de sua co-irmã, muitas vezes em detrimento do conteúdo das histórias.
Um dos fatores determinantes do surgimento das HQ foi a imensa massa de imigrantes para os Estados Unidos, no final do século 19 (irlandeses, escoceses, alemães, italianos, etc.). Como esse pessoal era semi-alfabetizado em inglês, os grandes empresários da indústria jornalística buscaram criar suplementos dominicais ilustrados, de leitura fácil, a fim de atrair essa massa de novos leitores.
Nessa época, entre 1895 e 1896, nasceu o primeiro personagem oficial das HQs, Yellow Kid, ou Menino Amarelo, criação do desenhista Richard Outcault para o New York World, jornal pertencente a Joseph Pulitzer. O personagem e suas traquinagens caíram no gosto do nascente público leitor e muitos passaram a adquirir jornais apenas para acompanhá-las.
A obra de Outcault (Hogan’s Alley) era anteriormente um único quadro colorido, onde se encontravam todos os personagens. Os diálogos estavam escritos em placas, cartazes e até nas roupas dos personagens, ao invés de no rodapé, ganhando assim mais vida. Chamava a atenção do público o chinesinho de camisolão que sempre aparecia nos quadros. Quando quiseram testar a cor amarela, a única que ainda não haviam conseguido imprimir, os técnicos do jornal de Pulitzer resolveram aplicá-la no menino. Surgiu assim o nome de Yelow Kid. Posteriormente, Outcault aproveitou o espaço dentro do camisolão para escrever mensagens, assim como hoje se encontram em camisetas. Depois que se transferiu para o jornal de William Randolph Hearst, o desenhista ampliou o quadro, utilizando seqüências de vinhetas e balões com diálogo.
Devido a esse sucesso, os líderes da imprensa começaram a procurar desenhistas que lançassem novos personagens. Em 1897 surgiam os Sobrinhos do Capitão, de Dirks, que, com o desaparecimento de Yellow Kid, é considerada a história mais antiga, até hoje existente. Posteriormente, foram lançadas outras histórias cômicas, cujos personagens eram crianças travessas, animais ou estranhos adultos, a exemplo de Buster Brown (no Brasil conhecido como Chiquinho), Krazy Kat, Gato Felix, Pafúncio, Popeye, etc.
Por influencia do teatro, as primeiras tiras apresentavam os personagens de corpo inteiro, ou plano geral, e sempre desenhados como em “câmera fixa”. A partir de Tarzan é que foram utilizados outros planos e ângulos.
Existiam quadrinhos anteriormente? Existia apenas o que se chamava de textos ilustrados, sem dinamismo, que não chamavam a atenção das massas. Além disso, o que passou a caracterizar os quadrinhos foi a continuidade/manutenção de personagens e os balões.
Iniciando-se nas páginas dos suplementos dominicais, as HQ passaram depois às páginas internas dos jornais, em tiras diárias. As tiras diárias foram iniciadas em 1907, com os personagens Mutt e Jeff, de Ham Fischer. No entanto, apenas as grandes cadeias de jornal podiam manter desenhistas exclusivos e essas tiras eram publicadas apenas nos grandes centros. O que deu impulso à divulgação dos gibis em todo o país foi a atuação dos “syndicates”, empresas distribuidoras, que contratavam os artistas e vendiam suas obras para todos os jornais interessados.
Os novos heróis
Por ocasião da quebra da Bolsa nova-iorquina, em 1929, fato que mergulhou o país no caos, os editores encontraram ocasião propícia para lançar no mercado o personagem heróico, aquele que vive em constante luta contra os inimigos, enfrentando situações novas e difíceis, para, ao final, sair vencedor. O povo, deprimido, necessitava de heróis. E os primeiros heróis dessa lavra foram Tarzan, que havia anteriormente estreado no cinema e Buck Rogers, herói espacial de um tempo futuro, aproveitado da obra “Armagedon 2419” de pulp fictions, ou romances populares, muito vendidos na ocasião.
Para que esses heróis tivessem credibilidade junto ao público, não era mais possível que fossem desenhados caricaturalmente como seus antecessores. Nem se poderiam limitar suas aventuras ao espaço de uma tira ou de uma página dominical. Foram, então, introduzidos os desenhos realistas nos quadrinhos, mostrando o herói com características humanas, tal como o Tarzan de Hal Foster, artista que tinha influências dos grandes pintores. Ao mesmo tempo, suas histórias eram publicadas em partes, que continuavam diária ou semanalmente, como acontecera com os folhetins, literatura popular muito em voga no século anterior.
Na época da Lei Seca, quando proliferaram os gângsteres, Chester Gould criou Dick Tracy, personagem que lutava contra o crime de maneira brutal. Um fazendeiro, Fred Harmann, criou o vaqueiro Red Ryder que, juntamente com o Sargento King da Polícia Montada, do escritor Zane Grey, foram os iniciadores das aventuras de faroeste nos gibis.
Mas o ano fértil das HQs foi 1934. Participando do concurso de um dos syndicates que distribuíam e dominavam os quadrinhos, Alex Raymond, de uma fornada só, deu vida a três personagens importantes: Flash Gordon, o herói espacial, Jim das Selvas e Agente X-9. Lee Falk e Jim Davis criaram Mandrake, o mágico, que já antecipava o tipo de herói com poderes acima do homem comum. Nesse ano surgiu também Lil Abner (Ferdinando no Brasil), criação de Al Capp, um dos maiores humoristas satíricos. Também Milton Caniff, um dos grandes criadores de quadrinhos, iniciava, de maneira incipiente, sua série “Terry e os Piratas”, evoluindo seu magnífico traço que influenciaria muitos desenhistas.
Nessa época, e até a década de 50, algumas HQ gozavam de prestígio semelhante ao das novelas atuais da Globo. Como aconteceu com os folhetins do século 19, os leitores que acompanhavam as tiras diárias ou as páginas dominicais buscavam interferir junto ao autor nos destinos das personagens, chegando ao cúmulo de o país entrar em comoção pela morte de uma personagem boazinha da série “Terry e os Piratas”(se Milton Caniff não se cuidasse seria linchado).
Na década de 30 começaram a circular os primeiros comics books, ou revistas que reuniam tiras com as aventuras de determinados personagens. No Brasil, ainda em 1934, Adolfo Aizen editou o “Suplemento Infantil”, encarte do jornal “A Nação” que trazia histórias com os principais personagens americanos. Mais tarde, o jornal “O Globo” também lançou um suplemento, “O Globo Juvenil”, e foi responsável pela criação da revista “Gibi”, nome que se popularizou como sinônimo de revista em quadrinhos. Mas a pioneira no Brasil foi a revista “O Tico Tico”, fundada em 1905, que publicava quadrinhos nacionais e trouxe para cá Buster Brown (Chiquinho), de Outcault, criador de Yellow Kid, apesar de muitos acharem que esse pequeno personagem era brasileiro.
Em 1936, mais um personagem fantástico: o Fantasma, de Lee Falk e Ray Moore. Pela primeira vez, um herói de gibi usava indumentária diferente das outras pessoas, incluindo a máscara. Com o Fantasma é acionado o mito da “missão do herói”, algum fato marcante ocasiona sua férrea disposição de combater o crime. Um ano mais tarde, Hal Foster entregou seu Tarzan nas mãos competentes de Burne Hogarth, considerado o Michelangelo dos quadrinhos, e passou a desenhar sua própria criação, Príncipe Valente, cujo tema eram as aventuras de cavalaria, nos tempos de Rei Artur.
A época de ouro
Até esse momento, os personagens de quadrinhos eram ainda pessoas normais, que contavam somente com uma energia física melhor desenvolvida ou uma inteligência superior. Em 1938, porém, houve uma revolução no mundo das HQs com o aparecimento de um herói de poderes extraordinários. Não era um avião, nem um pássaro, era o Superman, criado por dois jovens estudantes, Jerry Siegel e Joe Shuster, que levaram cinco anos oferecendo-o às editoras, mas essas não “botavam fé” num ser tão fora do comum. Publicado, afinal, na revista “Action Comics”, tornou-se de imediato o sucesso que perdura até nossos dias. Na esteira do Superman vieram outros super-heróis, como Batman, em 1939, e o Capitão Marvel, em 1940, personagens que também tornaram-se populares. Esse último, divertida caricatura do Homem de Aço, desapareceu na década de 50, em virtude de um processo dos detentores dos direitos de Superman.
Com o Superman inicia-se verdadeiramente a Época de Ouro dos Quadrinhos. Os comics books, que agora se alastravam, lançavam novos heróis, como Flash, Homem Submarino, Tocha Humana, Mulher Maravilha, Lanterna Vermelha, etc. Em 1941, sob a ameaça da 2ª Guerra Mundial, criou-se o Capitão América, com o fim específico de lutar contra os inimigos do Eixo. Deflagrada a guerra, atendendo ao pedido do presidente Roosevelt, praticamente todos os heróis dos quadrinhos engajaram-se na luta, incentivando a juventude americana que, ao contrário deles, iria enfrentar batalhas reais, não somente no papel.
Em 1941, os quadrinhos deram um salto qualitativo, com a criação do Spirit, de Will Eissner, que utilizou a técnica expressionista, fazendo magnífico uso de luz e sombra em histórias que pareciam retiradas de contos literários.
Novos caminhos
Com o final da guerra, os leitores achavam-se saturados de super-heróis. Era preciso encontrar novos caminhos para os quadrinhos. Foi nessa época que se transportaram para os comics os caubóis que faziam sucesso no cinema, como Tom Mix, Buck Jones, Roy Rogers, Gene Autry, Rocky Lane e outros que eram as delícias da garotada. Uma editora, a EC Comics, reunindo um seleto grupo de desenhistas e roteiristas, trouxe para os quadrinhos as histórias de horror que já faziam sucesso em revistas populares. Surgiram, assim os “Contos da Cripta”, com desenhos fortes e insólitos para a época. Essa onda de histórias de horror chegou ao Brasil com a revista “Terror Negro”, da Editora LaSelva.
Na década de 50, alguns pais e professores que julgavam as HQs prejudiciais à juventude, encontraram um grande aliado em sua luta para combatê-las: um psiquiatra, Frederic Wertham, escreveu um livro de grande impacto contra os quadrinhos, acusando o excesso de violência e o comportamento de alguns heróis, chegando ao cúmulo de identificar Batman e Robin como homossexuais. Era época da “caça às bruxas”, que tinha à frente o senador McCarthy, e os quadrinhos “entraram no rolo” e passaram a ser discriminados, ao lado de comunistas e anti-americanos. Criou-se um código de ética, como já existia no cinema, e muitas publicações, como os “Contos da Cripta”, foram inviabilizadas.
Na década de 60 iniciou-se o que se conhece como Época de Prata dos quadrinhos. Foi quando aconteceu o relançamento ou a ressurreição de super-heróis de antigamente, a maioria com novo visual. Essa revoada de heróis, que também invadiu a TV, serviu de matriz para as posteriores criações de seres de todo tipo, mutantes, andróides, que dominam as publicações atuais.
Na década de 70 surgiram os quadrinhos “underground”, de contestação, explorando o uso de drogas e o sexo. Gato Fritz (Fritz, the cat), um dos personagens dessa linha, não lembra nem de longe o ingênuo Gato Félix dos primórdios dos quadrinhos. Peanuts (Minduim) de Charles Schultz e Pogo, de Walt Kely, inauguram os quadrinhos para adultos, com pouca ação e conteúdo psicanalítico.
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Se você, leitor, tem interesse pelo assunto, veja neste site meu e-livro (power point) com cerca de 80 slides (imagem e texto): A HIstória dos Quadrinhos"
O início
A comunicação através das imagens não é coisa recente. Manifestava-se já na Idade da Pedra, com as inscrições rupestres, e posteriormente por intermédio de tapeçarias, vitrais, afrescos, estampas, charges, etc., cujas imagens apresentavam um sentido ou uma narrativa para o receptor.
As histórias em quadrinhos, como produto da comunicação de massa, têm seu desenvolvimento ligado às modificações histórico-culturais, que determinam o surgimento de personagens e o aproveitamento de conteúdos. Denominadas também de narrativas por imagens, literatura de imagens, arte seqüencial ou ainda de 9ª Arte, nasceram na mesma época do cinema e se influenciaram mutuamente. Houve fases em que os quadrinhos contaram com maior criatividade e maior liberdade de expressão, em vista das limitações do cinema. Atualmente, acompanhando a modernização das artes gráficas, as HQ têm procurado reproduzir os efeitos especiais de sua co-irmã, muitas vezes em detrimento do conteúdo das histórias.
Um dos fatores determinantes do surgimento das HQ foi a imensa massa de imigrantes para os Estados Unidos, no final do século 19 (irlandeses, escoceses, alemães, italianos, etc.). Como esse pessoal era semi-alfabetizado em inglês, os grandes empresários da indústria jornalística buscaram criar suplementos dominicais ilustrados, de leitura fácil, a fim de atrair essa massa de novos leitores.
Nessa época, entre 1895 e 1896, nasceu o primeiro personagem oficial das HQs, Yellow Kid, ou Menino Amarelo, criação do desenhista Richard Outcault para o New York World, jornal pertencente a Joseph Pulitzer. O personagem e suas traquinagens caíram no gosto do nascente público leitor e muitos passaram a adquirir jornais apenas para acompanhá-las.
A obra de Outcault (Hogan’s Alley) era anteriormente um único quadro colorido, onde se encontravam todos os personagens. Os diálogos estavam escritos em placas, cartazes e até nas roupas dos personagens, ao invés de no rodapé, ganhando assim mais vida. Chamava a atenção do público o chinesinho de camisolão que sempre aparecia nos quadros. Quando quiseram testar a cor amarela, a única que ainda não haviam conseguido imprimir, os técnicos do jornal de Pulitzer resolveram aplicá-la no menino. Surgiu assim o nome de Yelow Kid. Posteriormente, Outcault aproveitou o espaço dentro do camisolão para escrever mensagens, assim como hoje se encontram em camisetas. Depois que se transferiu para o jornal de William Randolph Hearst, o desenhista ampliou o quadro, utilizando seqüências de vinhetas e balões com diálogo.
Devido a esse sucesso, os líderes da imprensa começaram a procurar desenhistas que lançassem novos personagens. Em 1897 surgiam os Sobrinhos do Capitão, de Dirks, que, com o desaparecimento de Yellow Kid, é considerada a história mais antiga, até hoje existente. Posteriormente, foram lançadas outras histórias cômicas, cujos personagens eram crianças travessas, animais ou estranhos adultos, a exemplo de Buster Brown (no Brasil conhecido como Chiquinho), Krazy Kat, Gato Felix, Pafúncio, Popeye, etc.
Por influencia do teatro, as primeiras tiras apresentavam os personagens de corpo inteiro, ou plano geral, e sempre desenhados como em “câmera fixa”. A partir de Tarzan é que foram utilizados outros planos e ângulos.
Existiam quadrinhos anteriormente? Existia apenas o que se chamava de textos ilustrados, sem dinamismo, que não chamavam a atenção das massas. Além disso, o que passou a caracterizar os quadrinhos foi a continuidade/manutenção de personagens e os balões.
Iniciando-se nas páginas dos suplementos dominicais, as HQ passaram depois às páginas internas dos jornais, em tiras diárias. As tiras diárias foram iniciadas em 1907, com os personagens Mutt e Jeff, de Ham Fischer. No entanto, apenas as grandes cadeias de jornal podiam manter desenhistas exclusivos e essas tiras eram publicadas apenas nos grandes centros. O que deu impulso à divulgação dos gibis em todo o país foi a atuação dos “syndicates”, empresas distribuidoras, que contratavam os artistas e vendiam suas obras para todos os jornais interessados.
Os novos heróis
Por ocasião da quebra da Bolsa nova-iorquina, em 1929, fato que mergulhou o país no caos, os editores encontraram ocasião propícia para lançar no mercado o personagem heróico, aquele que vive em constante luta contra os inimigos, enfrentando situações novas e difíceis, para, ao final, sair vencedor. O povo, deprimido, necessitava de heróis. E os primeiros heróis dessa lavra foram Tarzan, que havia anteriormente estreado no cinema e Buck Rogers, herói espacial de um tempo futuro, aproveitado da obra “Armagedon 2419” de pulp fictions, ou romances populares, muito vendidos na ocasião.
Para que esses heróis tivessem credibilidade junto ao público, não era mais possível que fossem desenhados caricaturalmente como seus antecessores. Nem se poderiam limitar suas aventuras ao espaço de uma tira ou de uma página dominical. Foram, então, introduzidos os desenhos realistas nos quadrinhos, mostrando o herói com características humanas, tal como o Tarzan de Hal Foster, artista que tinha influências dos grandes pintores. Ao mesmo tempo, suas histórias eram publicadas em partes, que continuavam diária ou semanalmente, como acontecera com os folhetins, literatura popular muito em voga no século anterior.
Na época da Lei Seca, quando proliferaram os gângsteres, Chester Gould criou Dick Tracy, personagem que lutava contra o crime de maneira brutal. Um fazendeiro, Fred Harmann, criou o vaqueiro Red Ryder que, juntamente com o Sargento King da Polícia Montada, do escritor Zane Grey, foram os iniciadores das aventuras de faroeste nos gibis.
Mas o ano fértil das HQs foi 1934. Participando do concurso de um dos syndicates que distribuíam e dominavam os quadrinhos, Alex Raymond, de uma fornada só, deu vida a três personagens importantes: Flash Gordon, o herói espacial, Jim das Selvas e Agente X-9. Lee Falk e Jim Davis criaram Mandrake, o mágico, que já antecipava o tipo de herói com poderes acima do homem comum. Nesse ano surgiu também Lil Abner (Ferdinando no Brasil), criação de Al Capp, um dos maiores humoristas satíricos. Também Milton Caniff, um dos grandes criadores de quadrinhos, iniciava, de maneira incipiente, sua série “Terry e os Piratas”, evoluindo seu magnífico traço que influenciaria muitos desenhistas.
Nessa época, e até a década de 50, algumas HQ gozavam de prestígio semelhante ao das novelas atuais da Globo. Como aconteceu com os folhetins do século 19, os leitores que acompanhavam as tiras diárias ou as páginas dominicais buscavam interferir junto ao autor nos destinos das personagens, chegando ao cúmulo de o país entrar em comoção pela morte de uma personagem boazinha da série “Terry e os Piratas”(se Milton Caniff não se cuidasse seria linchado).
Na década de 30 começaram a circular os primeiros comics books, ou revistas que reuniam tiras com as aventuras de determinados personagens. No Brasil, ainda em 1934, Adolfo Aizen editou o “Suplemento Infantil”, encarte do jornal “A Nação” que trazia histórias com os principais personagens americanos. Mais tarde, o jornal “O Globo” também lançou um suplemento, “O Globo Juvenil”, e foi responsável pela criação da revista “Gibi”, nome que se popularizou como sinônimo de revista em quadrinhos. Mas a pioneira no Brasil foi a revista “O Tico Tico”, fundada em 1905, que publicava quadrinhos nacionais e trouxe para cá Buster Brown (Chiquinho), de Outcault, criador de Yellow Kid, apesar de muitos acharem que esse pequeno personagem era brasileiro.
Em 1936, mais um personagem fantástico: o Fantasma, de Lee Falk e Ray Moore. Pela primeira vez, um herói de gibi usava indumentária diferente das outras pessoas, incluindo a máscara. Com o Fantasma é acionado o mito da “missão do herói”, algum fato marcante ocasiona sua férrea disposição de combater o crime. Um ano mais tarde, Hal Foster entregou seu Tarzan nas mãos competentes de Burne Hogarth, considerado o Michelangelo dos quadrinhos, e passou a desenhar sua própria criação, Príncipe Valente, cujo tema eram as aventuras de cavalaria, nos tempos de Rei Artur.
A época de ouro
Até esse momento, os personagens de quadrinhos eram ainda pessoas normais, que contavam somente com uma energia física melhor desenvolvida ou uma inteligência superior. Em 1938, porém, houve uma revolução no mundo das HQs com o aparecimento de um herói de poderes extraordinários. Não era um avião, nem um pássaro, era o Superman, criado por dois jovens estudantes, Jerry Siegel e Joe Shuster, que levaram cinco anos oferecendo-o às editoras, mas essas não “botavam fé” num ser tão fora do comum. Publicado, afinal, na revista “Action Comics”, tornou-se de imediato o sucesso que perdura até nossos dias. Na esteira do Superman vieram outros super-heróis, como Batman, em 1939, e o Capitão Marvel, em 1940, personagens que também tornaram-se populares. Esse último, divertida caricatura do Homem de Aço, desapareceu na década de 50, em virtude de um processo dos detentores dos direitos de Superman.
Com o Superman inicia-se verdadeiramente a Época de Ouro dos Quadrinhos. Os comics books, que agora se alastravam, lançavam novos heróis, como Flash, Homem Submarino, Tocha Humana, Mulher Maravilha, Lanterna Vermelha, etc. Em 1941, sob a ameaça da 2ª Guerra Mundial, criou-se o Capitão América, com o fim específico de lutar contra os inimigos do Eixo. Deflagrada a guerra, atendendo ao pedido do presidente Roosevelt, praticamente todos os heróis dos quadrinhos engajaram-se na luta, incentivando a juventude americana que, ao contrário deles, iria enfrentar batalhas reais, não somente no papel.
Em 1941, os quadrinhos deram um salto qualitativo, com a criação do Spirit, de Will Eissner, que utilizou a técnica expressionista, fazendo magnífico uso de luz e sombra em histórias que pareciam retiradas de contos literários.
Novos caminhos
Com o final da guerra, os leitores achavam-se saturados de super-heróis. Era preciso encontrar novos caminhos para os quadrinhos. Foi nessa época que se transportaram para os comics os caubóis que faziam sucesso no cinema, como Tom Mix, Buck Jones, Roy Rogers, Gene Autry, Rocky Lane e outros que eram as delícias da garotada. Uma editora, a EC Comics, reunindo um seleto grupo de desenhistas e roteiristas, trouxe para os quadrinhos as histórias de horror que já faziam sucesso em revistas populares. Surgiram, assim os “Contos da Cripta”, com desenhos fortes e insólitos para a época. Essa onda de histórias de horror chegou ao Brasil com a revista “Terror Negro”, da Editora LaSelva.
Na década de 50, alguns pais e professores que julgavam as HQs prejudiciais à juventude, encontraram um grande aliado em sua luta para combatê-las: um psiquiatra, Frederic Wertham, escreveu um livro de grande impacto contra os quadrinhos, acusando o excesso de violência e o comportamento de alguns heróis, chegando ao cúmulo de identificar Batman e Robin como homossexuais. Era época da “caça às bruxas”, que tinha à frente o senador McCarthy, e os quadrinhos “entraram no rolo” e passaram a ser discriminados, ao lado de comunistas e anti-americanos. Criou-se um código de ética, como já existia no cinema, e muitas publicações, como os “Contos da Cripta”, foram inviabilizadas.
Na década de 60 iniciou-se o que se conhece como Época de Prata dos quadrinhos. Foi quando aconteceu o relançamento ou a ressurreição de super-heróis de antigamente, a maioria com novo visual. Essa revoada de heróis, que também invadiu a TV, serviu de matriz para as posteriores criações de seres de todo tipo, mutantes, andróides, que dominam as publicações atuais.
Na década de 70 surgiram os quadrinhos “underground”, de contestação, explorando o uso de drogas e o sexo. Gato Fritz (Fritz, the cat), um dos personagens dessa linha, não lembra nem de longe o ingênuo Gato Félix dos primórdios dos quadrinhos. Peanuts (Minduim) de Charles Schultz e Pogo, de Walt Kely, inauguram os quadrinhos para adultos, com pouca ação e conteúdo psicanalítico.
XXXXXXXXXXXXXXX
Se você, leitor, tem interesse pelo assunto, veja neste site meu e-livro (power point) com cerca de 80 slides (imagem e texto): A HIstória dos Quadrinhos"