PRA VIDA, TUDO. PRA MORTE, O NADA
PRA VIDA , TUDO . PRA A MORTE, O NADA
Quanto mais eu vivo e me aproximo da morte, mais fortalece a minha convicção de que todas as categorias do real, aristotélicas ou não, portanto, lógicas ou metafísicas, incluindo a própria condição do irreal, em suma, tudo o que é e até o que não é, estão subordinadas ao processo existencial, mais especificamente o ¨DASÉIN¨ (Ser aí - Heidegger), o ser pensante que se arroga capaz de compreender e dar conta do universo ou de qualquer outra dimensão criada ou descoberta.
Nessa perspectiva, a morte também se inclui como condição exequível de dominação racional... e também prática, visto que a facticidade, que representa a condição humana pela qual cada ente já se encontra comprometido com uma situação não escolhida, tratou de inclui-la na sua vida, como se para lembra-lo, enquanto existente, das suas limitações.
Portanto, a relação vida - morte não é uma relação harmônica, de equilíbrio. É como uma relação dialética hegeliana sem síntese. Podemos dizer que este propalado equilíbrio está posto na relação viver - morrer, afinal o morrer é que faz parte da vida, não a morte. Invariavelmente quem está morto já não é mais para si (Sartre). Quem está morto só continua sendo para aqueles que existem.
Todos nossos pensamentos e valores em relação à morte, mormente a nossa, só tem validade em vida. Muitas vezes ficamos a imaginar nossa morte, os sentimentos das pessoas que nos conheceram em vida, nosso enterro ou cremação e a forma como gostaríamos que fosse realizado, como Machado de Assis que criou, de forma genial, o seu Brás Cubas, que dedicou como saudosa lembrança, ao verme que primeiro roeu as frias carnes do seu cadáver, as memórias póstumas.
Assim foi, é e será com todos que já deram ou vão dar o grande salto para o nada.
Lembrando Michael Jackson que, enquanto existente, viveu tudo o que a vida humana em sociedade proporciona, do céu ao inferno, passando pelo crematório, imaginou sua morte e escreveu seu testamento, na ânsia de se perceber após mais este evento. Deixou-nos, entretanto, sua arte (que é imortal e eterna), obra, influência e sua saudosa lembrança.
E assim também será com todos que, como eu, continuam essa jornada existencial, a qual somente poderá ser considerada venturosa e feliz quando vivida e sentida pelo tempo momento.
Marco Antônio Abreu Florentino