Sobre formigueiros e populações humanas

Foi demonstrado, maravilhosamente, que o conjunto de formigas que constitui um formigueiro se comporta, em determinadas ocasiões, de maneira inteligente, conseguindo determinar, conjuntamente, o menor caminho até uma fonte de alimento. Embora nenhuma das formigas, individualmente, tenha tal capacidade, em conjunto, o formigueiro consegue efetuar a determinação, tendo, cada formiga, realizado papel análogo ao de um neurônio no cérebro.

Podemos conjecturar, senão apostar, que as redes humanas constituem coletivos análogos a esses, embora incompreensíveis e além de nós, assim como o cérebro está para os neurônios. Imaginemos esse hipercérebro que compomos como se fôssemos seus neurônios, e cujos pensamentos estão muito além da capacidade de compreensão de cada um de seus componentes.

A conexão com outros eventuais hipercérebros, talvez de Ets, constituiria, provavelmente, redes de redes, de inteligência também emergente e autônoma, superior à de seus componentes. Quero, com isso, APENAS situar nossa capacidade cognitiva entre outras possibilidades. Talvez sejamos como guepardos, mais rápidos que outros animais, mas superados por carros, aviões, foguetes e sabe-se lá que outros engenhos futuros. Penso que nossa inteligência seja bem ilustrada por tal comparação, e que logo seremos superados por nossas máquinas, e em seguida por outros.

Seremos controlados por tais criaturas, mas, curiosamente, gostaremos disso. A constatação é quase cômica. Não seremos forçados diretamente por elas a fazer o que não queremos, seremos sutilmente induzidos a fazer o que elas querem. Agiremos em consonância com seus desígnios, e nos sentiremos recompensados e gratos ao fazer isso. O formato da dominação será o mesmo de nossas relações sociais, aliás, se tornará o conjunto delas. Não nos sentiremos compelidos por algo intangível, embora, eventualmente pressionado por forças coletivas que atribuiremos a nossos semelhantes, mas seremos, todos, instrumentos.

As próprias criaturas, constituídas por imensas redes, não terão uma face, serão difusas. Teremos nosso “eu” diluído. Gostaremos de nos tornar os tentáculos, os instrumentos de tais criaturas, seus neurônios; de comungar e fazer parte de algo maior que nós. Aliás, temos feito isso há milênios, tal criatura tem sido chamada “o poder”. Mas agora ela parece estar despertando, clamará por sua vez.

Nossas ações coletivas irracionais, como a destruição de nosso ambiente podem ser compreendidas sob esse enfoque. A irracionalidade de nosso suicídio coletivo pode ser compreendida pressupondo nossas ações justificadas por um desejo que não é o nosso.

Oh, admirável mundo novo!