Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 30
Esbarramos em destroços deixados por nossos próprios erros acumulados. Há sempre a chance de voltarmos atrás e refazermos a jornada. É bom conhecermos a teoria para uma vida abençoada. Mas de nada adianta convivermos com os açoites desses conhecimentos teóricos e mantermos, arraigadas nas profundezas do subconsciente, as mesmas ideias, as mesmas convicções, sem que haja o esforço da mudança. De nada adianta, por outro lado, escaparmos desses açoites com uma mudança de atitude, obtermos melhoras significativas, mas continuarmos insatisfeitos por força do velho hábito das comparações. O que importa, de fato, é o que conseguimos ganhar com a nossa mudança, pois é ela que faz mudar o mundo a nossa volta, o qual não passa de um reflexo da nossa própria atitude mental. Esse é o esforço individual que traz a conscientização do que vem a ser o enigma da vida. A filosofia consiste nessa procura despreocupada, mas decidida, pelo caminho que conduz à liberdade eterna. Não é complicar o simples com teorias e mais teorias a respeito de coisas que só fazem perpetuar o medo e a insegurança. É por isso que muitos fogem das explanações filosóficas que só têm por meta conflitar com as explanações já existentes e passam ao largo das reais carências e incertezas das almas viventes.
Não é difícil chegarmos ao conhecimento do que Deus quer de nós se nos dispusermos a isto. O plano de Deus não é individual, mas abrange a humanidade toda. Se ampliarmos esse conceito da vontade de Deus e colocarmos o universo infinito como sendo o próprio ser divino e na verdade, é isto o que acontece e amarmos o planeta em que habitamos atualmente como a nós mesmos, estaremos cumprindo nossa missão verdadeira. Se imaginarmos Deus como o Ser Infinito que nos acolhe em Sua morada e, como hóspedes, cuidarmos e respeitarmos esse local, estaremos amando a Deus, pois Ele é o todo de tudo. ‘Amar ao próximo como a ti mesmo’ é o primeiro dos mandamentos, mas quantos de nós cumprimos, de fato, esta orientação do Cristo? É claro que nos preocupamos com aqueles que nos estão próximos, embora, não sem frequência, ao ponto do apego exagerado. Todavia, é o amor universal o verdadeiro amor. A convivência costuma trazer conflitos e são estes conflitos interpessoais, quase sempre, os responsáveis pelos conflitos internos deflagradores de ações condenáveis do tipo maus tratos para com o outro, para com a sociedade e, a longo prazo, para com o planeta. Tudo isso partiu do sentimento de auto destruição resultante da falta de amor. É por isso que Deus precisa vir em primeiro lugar. Por ser Ele universal, amando-O estaremos amando a nós mesmos e jamais faltaríamos com esse amor a tudo mais.
Deus está em todos os lugares e, principalmente, dentro de cada um de nós. Respeitar esse Deus através de ações altruísticas, que visam exclusivamente o bem, é viver com dignidade. O valor da vida encontra-se em não se desconectar desse Deus universal e onipresente. Por maiores que sejam nossa sabedoria e nossas posses terrenas, sempre vamos depender do divino, que é onde se encontram a causa e o princípio de todas as coisas. Todas as raças, ao longo da história, tiveram suas formas de culto e adoração a Deus. E ainda hoje, mesmo em meio a um mundo modernizado, essas formas de adoração divergem de uma nação para outra, quando não, dentro de uma mesma sociedade. Mas a finalidade precípua nunca irá se alterar, não importa quantos milênios sobreviva a humanidade. A ânsia por conhecimento e a procura por respostas para o vazio da alma que comumente atinge o ser humano é infinita como infinito é o progresso dessa alma. Não sabemos ao certo o quanto nos resta de aprendizado como não fazemos ideia da idade do nosso espirito. Embora o espirito desconheça o que seja passagem do tempo ele tem a noção de onde se encontra na escala evolutiva. É por isso que existe a chance para o arrependimento e, não importa o nível em que se encontra, ele anseia por ela. Mas, voltando a nossa vida prática, no mundo em nos encontramos agora, o que importa é aproveitarmos cada oportunidade que se nos apresenta para alcançarmos, aqui, um patamar de evolução que nos venha a facilitar o progresso na escala cósmica.
Tudo segue uma ideia, previamente elaborada, visando um fim. Guiados pelo interesse ou pela necessidade os homens se predispõem a obedecer o que foi traçado e estipulado. Não pode ser diferente com o destino do mundo. A ideia primária pressupõe um universo ordenado, com toda criatura a desfrutar o seu ambiente, usufruindo de uma felicidade natural e contínua. Cada organismo, dentro das limitações de sua organização mental, extraindo da vida o que ela tem de melhor, sem a necessidade de burlar a lei do amor ao impedir que os outros seres façam o mesmo. A verdadeira harmonia, que resulta da imagem verdadeira da vida não toa com a destruição entre as espécies, mesmo que isto contrarie teorias do tipo ‘lei do mais forte’, ‘lei da seleção natural’ e lei da ‘preservação das espécies’. A Mente global, que é a mente de Deus, destrói, pelo amor, todas as possibilidades de conflito, não importa o que o homem queira explicar através da ciência. Quando atingirmos a compreensão dessa Mente global pela reconciliação com todas as coisas do céu e da Terra tudo que é mal deixará de existir, como nunca existiu, por ser produto da nossa própria ilusão. Aí a convivência do lobo com o cordeiro, a harmonia entre o carnívoro, que deixará de existir, e o vegetariano, que procede segundo a lei da vida, não será sonho nem Utopia.
De tanto vivermos impregnados pelos apelos da matéria, acabamos por achar que tudo aquilo que foge a nossa própria rotina não nos diz respeito. O conceito de loucura está ligado, por mais exagerado que pareça, à acomodação mental; a se achar que é possível obter resultados diferentes, mantendo-se a mesma postura e as mesmas convicções, sem que nada seja feito para uma mudança de situação. Como podemos almejar diferentes resultados se não dermos nenhum passo em direção a isto? O criados utilizou o poder mental para a criação do mundo e espera de nós o emprego sábio dessa ferramenta, que também é nossa, para a manutenção e desenvolvimento desse mundo. Se nos prendermos à Terra, à nossa forma de vida, jamais evoluiremos satisfatoriamente. As provas estão aí, embaixo dos nossos olhos, nos feitos estonteantes deixados pelas civilizações que nos antecederam, de quanto o ser humano é capaz, mesmo não sendo beneficiado pelo anteparo tecnológico.
Hoje, supridos por essa enxurrada de informação e inovação das descobertas cientificas, temos em mãos a chave da evolução completa e definitiva das raças. Mas a materialidade excessiva parece que tem atrofiado o músculo mental; o conforto tem nos afastado do esforço de entender os desígnios da criação. O valor da vida encontra-se além da satisfação pela matéria. Estamos corrompidos pelo apelo de um crescimento unilateral, ilusório. Há muito a ser feito e o primeiro passo está na proteção do planeta, no equilíbrio das ações extrativistas que dependem dele e isto é função dos homens que nos dirigem. Que seja breve a mudança, antes que se volte contra nós o nosso anfitrião e nos expulse de sua casa antes da hora devida.