Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 25
Infelizmente existem bloqueios a esse verdadeiro despertar, que somente a devoção e perseverança conseguem minimizar. Encarar o mundo como um palco eterno de lutas é admitir a existência de adversários que se oporão aos desejos de uma alma sedenta de justiça e paz. As perseguições fizeram parte de um mundo vencido pela escuridão onde a verdade escondia-se resignada. Mas hoje tudo é diferente. Creio que Jesus não seria crucificado na era em que vivemos. Por outro lado, quem pode nos garantir que o mundo continuaria a existir se o próprio Deus não interviesse da forma que o fez, mesmo ciente de que, na escuridão, o desconhecimento de suas leis seria o maior empecilho? Mesmo assim, a verdade, lançada sobre os escombros da incredulidade, vigorou e seus rastros se encontram aí para que todos dela possam se beneficiar. As perseguições tomaram outro aspecto, felizmente, diverso das ações violentas que assassinaram o Cristo. Contudo, existem, e nas cabeças e nas mentes dos que pecam pela falta de esclarecimento. O religioso de hoje diverge do puramente seguidor de ritos e liturgias. A perseguição se faz pela confusão mental, esmaecida pelo esclarecimento e acesso às ferramentas da modernidade.
Mas no âmbito espiritual o homem de hoje não difere em nada do homem que viveu há milênios, por serem, todos, parte da mesma criação divina eivada de perfeição. Se nos deixarmos levar pelas mudanças impostas pela mente falta de esclarecimento do homem primitivo e confrontá-la com o pensamento hodierno, não existirão limites a termos de comparação que darão origens a dúvidas e críticas infindáveis, mas se focalizarmos no homem eterno e perfeito criado por Deus a nossa mente não discriminatória, não nos deixaremos levar por essas mudanças. Aí é que se encontra o valor da entrega e da meditação em Deus. À medida que avança o mundo parece que diminui o esforço para o aprimoramento espiritual. Não é, em absoluto, culpa de Deus o atraso em nossa evolução. Se Ele nos deu a capacidade pensante por que não a utilizarmos em nosso benefício no que tange ao progresso de nós mesmos? Enquanto mantivermos o conceito arraigado na mente e nas ações humanas de que crescer significa possuir bens materiais em detrimento da educação do espirito, o mundo permanecerá nesse estágio repleto de discrepâncias sociais e ambientais. Basta um pequeno despertar da ignorância quanto ao objetivo de Deus para o mundo. As pessoas tornam-se melhores na medida em que decidem dar um passo a mais para o desenvolvimento de si mesmas. Mesmo uma semente que parecia infértil, atirada entre rochas indigentes consegue, por um esforço invisível, lançar-se ao mundo e desenvolver-se, dando prova da pujança da vida onde quer que seja.
Assim deveria ser o ser humano; e ele o é, na verdade. A conscientização de que Deus já nos criou perfeitos e completos já é uma prova inquestionável do Seu poder. Imaginemos a perfeição de um ser criador de outros seres perfeitos. Se há limites para a perfeição esses são desconhecidos por nós, visto que para Deus tudo é possível. O auge do amor de Deus nos permite conhecer a glória do mundo em que vivemos; e este não passa de uma pequena demonstração dos mundos criados por Deus. Somente a prática do amor e da elevação dos pensamentos irá permitir que adentremos nas ideias de Deus em relação ao mundo. Cada dia torna-se uma oportunidade de aprendizado à cerca das coisas da vida e não o viver colimado exclusivamente aos benefícios da matéria, posto que o homem não é matéria. São inumeráveis a chances que podemos colher no dia a dia para aprimorar o espirito. O esforço deve ir além das teorias filosóficas para o foco nas necessidades primordiais do mundo ao nosso redor. Fala-se muito em contendas religiosas, em desregramentos de líderes e dirigentes dessas instituições, o que faz com que os possíveis interessados no aprofundamento dessa área se vejam cingidos pelas críticas, que não são poucas e adiam, cada vez mais, a sua decisão de pesquisar sobre o espirito. Mas Deus não se encontra nas religiões, tampouco nas palavras ou nos atos de alguns dissidentes de Sua verdadeira doutrina. Quanto maior a pureza de nossa alma e a sinceridade nos nossos atos, maior será a atuação desse Deus verdadeiro. É por isso que há, no mundo, religiões incríveis, que primam pelo verdadeiro amor aos seus semelhantes. Ali, sim, se encontra Deus.
Tudo parte do auto aprimoramento. Quase a totalidade do que opinamos, as nossas críticas e os nossos conceitos sobre o mundo partem de um reflexo daquilo que nós próprios vivenciamos. Então, se almejamos vivenciar bons acontecimentos e usufruir um estilo de vida que traz paz e felicidade urge procurar o melhor caminho e este passa pelo aprimoramento da alma; não há outro meio para uma vida de liberdade. Quantos de nós não esbarramos em paredes que bloqueiam o cumprimento dos nossos anseios? Ainda que isto faça parte da vida e parte do aprendizado, a persistência desses encontros e esbarrões indica uma alma imatura que precisa de um auxílio maior. É onde a premência de Deus se faz presente. Os que escolhem esse caminho de Deus e o seguem são os que colherão os melhores frutos na jornada da vida.
Todavia, é por trabalharmos pela felicidade do maior número de pessoas que as recompensas nos chegam em forma de verdadeira felicidade, é colocar a filosofia em prática; vivenciar experiências, cuja observância fomente o desejo de aprender a lidar com o divino e o humano ao mesmo tempo. De que adianta teorias aprofundadas, opiniões sábias e conclusões acertadas a respeito das questões da vida e da morte se, no exercício dessas ponderações não estiverem presentes as ações de limpar do mundo o enxame de pensamentos e ideias que levam à destruição?
É por isso que cabe a cada um de nós dar os passos necessários à prática exclusiva do bem, deixando de lado os conceitos preconcebidos, a imposição de opiniões próprias e as críticas ao que quer que seja. Seria o despertar, seria a conscientização de que todos somos um só ser diante de Deus e o que vale mesmo é o bem universal. Essa é a visão pragmática da filosofia: ações do bem em prol de um mundo de bem absoluto.
Aqui cabe a questão da existência ou não do mal no mundo criado por Deus. Seria ele, o mal, produto dos nossos atos errados? Seria criação de Deus para punir o homem? Ou castigo para fazer despertar a consciência de quem governa a tudo e a todos?
Creio que não há nada tão importante quanto a mente humana. O homem é resultado dos seus pensamentos mais arraigados, é através da mente que tomamos consciência da nossa existência, das coisas que acontecem, tanto ao nosso redor quanto no mundo. Então, formamos conceitos, ideias e opiniões. Ora, não vamos pretender que todo e qualquer acontecimento ocorra por acaso, por capricho do destino ou porque Deus assim o permitiu. Onde ficam, então, a nossa força pensante, os nossos mais enraizados sentimentos? Se todo efeito parte de uma causa que o deflagrou, não deve ser diferente com a mente humana. Tudo parte de nós e a nós retorna. Não há como fugir desse processo. Isto, sim, foi projetado por Aquele que nos criou. Quem não quiser acreditar que assim seja, que continue com suas ideias materialistas, pois também isto já foi planejado por Aquela inteligência superior. O que não se pode deixar de admitir é o cumprimento da lei que diz: “colherás aquilo que semeares”. A lei é universal e funciona tanto para os crentes como para os descrentes. É só compararmos isto aos fenômenos físicos como os da eletricidade e da gravidade, por exemplo.
Nesse sentido, o bem e o mal vêm a ser resultado de nossas ações e de nossos pensamentos. Sem mencionar leis eternas e imutáveis como a lei do carma e a lei da atração dos semelhantes, e baseando-nos apenas na vida que levamos atualmente já podemos fazer uma ideia inquestionável dos efeitos do processo mental. Todos já passaram por situações que, ao serem examinadas, deixam evidentes que foram a crença, a convicção, a fé entre outros sentimentos ligados à influência mental que permitiram àquelas situações surgirem da forma que surgiram. Não foi o acaso, tampouco a sorte ou a falta dela. É neste sentido que se torna essencial a transformação interior para ver unicamente o bem, não só nas pessoas, individualmente, mas no mundo, de uma forma global e esperançosa. Não vamos fechar os olhos às mazelas e aos sofrimentos dos irmãos mundo afora; para isso existem ao nosso dispor a força da oração, quando a medida física se mostrar inexequível. Urge a conscientização espiritual de cada governante, por ter ele nas mãos o destino de um povo, mas isto é parte do processo, apenas. A real mudança tem que ser pessoal muito mais do que entregue a líderes políticos porque esses também mudam, mas por eleições e interesses afins.