RETOMANDO, PARA BUSCAR SOLUÇÕES _ÁLCOOL _ II
Meu último texto, uma crônica, por mais despretensioso e leve que pretendeu ser, talvez tenha causado algum desconforto, ou ainda possa causar, naqueles que ainda vão lê-lo, e o tema é realmente sério; daí que pretendo aqui prosseguir com aquela reflexão, para ir amenizando aquela dor ou olharmos juntos, eu e meus leitores, para as soluções, porque acredito que possa haver, para todos aqueles que realmente quiserem olhar para elas e buscá-las, talvez até como metas em suas vidas: soluções para o que aí está.
E todos podemos achar que realmente é muita pretensão minha pensar que possa haver mudanças, mesmo porque muitos não querem mudar nada, têm medo de mudar, pois todos tememos o desconhecido, e mudanças nos tiram da zona de conforto. Conforto, quando há sofrimento?
É mais ou menos como diz o dito hoje popular, ‘Está ruim, mas está bom’, e as pessoas vão vivendo, sem mais pretensões; sempre foi assim, todos vivem assim, os fins de semana são chatos para os que se incomodam, mas durante a semana as coisas entram nos eixos, eu não sei como mudar isso...
Pessoas vivem, na maioria das vezes; poucas vivem e analisam ou se auto-analisam; pessoas vivem por viver, e isto é o que sabem fazer. Na verdade são pessoas boas, de boas famílias que prosperam nas áreas a que se dedicam e se divertem como sabem, como aprenderam, sem muito questionarem ou se questionarem.
Mais ou menos assim: vivemos, a vida é curta, trabalhamos toda a semana, vamos agora nos divertir. E as pessoas se unem, em família, com os amigos; antes até vão talvez às suas igrejas, cumprem suas obrigações e agora querem as diversões dos justos: risos, descontração, alegria, e claro, bebida. É assim, porque, como vão conseguir descontração sem o álcool?
Então todos vão aprendendo, pelo exemplo, que o papai, os titios, os amigos do papai, todos bebem para se descontraírem. Papai, logo que bebe, faz uma cara muito legal, álcool deve ser bom, cerveja deve ser bom, quando eu crescer vou ser alegre como todos. Papai, titios são sérios e tensos; quando bebem, ficam felizes. Isto ainda sem contar que hoje em dia a bebida está disseminada e popular entre as mulheres, que também aprendem e querem ser como os homens e fazer o que os homens fazem.
Há os que exageram ou se tornam dependentes, mas as pessoas não estão muito preocupadas com isso, isso não vai acontecer com elas, elas só querem se descontrair e sabem parar quando quiserem. Têm controle no volante e podem voltar dirigindo. Conversam, brincam, discutem, brigam, mas não passam dos seus limites e vão saber sempre os seus limites.
E realmente o álcool dá a sensação de liberdade, de descontração, e é justamente isso que as pessoas estão buscando! A semana foi árdua demais, o trabalho foi extenuante, a firma, a empresa, o chefe, os problemas... e tudo parece ir embora com um pouco, e, com o tempo, muita cerveja.
Até vêm uns problemas: a mulher começa a dizer que o homem exagerou, que falou ou fez o que não devia, que o hálito está ruim, que ‘quando você bebe assim , melhor ir dormir no outro quarto, você ronca muito, eu não tenho vontade de ficar com você...’ vão uns dias, os trabalhos são extenuantes, o chefe, as contas, tudo fica pesado novamente, vem o fim de semana, ninguém é de ferro, temos o direito de viver, a vida passa, e o que levo? Vamos mesmo nos descontrair, beber, rir, gozar e viver a vida !
Então, tudo o que queremos é liberdade, viver a vida, descontração, diversão; estamos certíssimos nisso tudo! A vida tem mesmo que ser vivida, tem mesmo que haver alegria entre irmãos, amigos, família, e vamos aos clubes, à pesca, e em tudo tem que haver cerveja, álcool, senão, como começar tudo isso, como ficarmos alegres?
Então, misericórdia, Senhor! As pessoas só querem se distrair, só querem liberdade, querem um pouco de paz, de esquecimento _por um, nem que seja breve, período _dos problemas diários! Este é o ganho que querem! É isto o que buscam no álcool! Nada parece unir mais as pessoas interessadas em diversão e sensação de liberdade do que o álcool!!
Pelo menos elas não conhecem nada que as leve tão rápido a essa descontração. É verdade que às vezes o que bebiam há uns anos já não é suficiente; hoje elas precisam beber um pouco mais para alcançarem a boa sensação; e os efeitos colaterais elas até os percebem, são inteligentes, mas todo mundo vai morrer mesmo; nem importa tanto que as mulheres reclamem, que os filhos tenham vergonha ou preocupação, ah, sim, agora eles sentem culpa pelos transtornos que causam e também, mágoa de não serem compreendidos, além do vazio que antes já sentiam, que, com o álcool, parecia mais leve... agora há mais motivos para beber...
Voltando, as pessoas têm uns ‘ganhos’; por pior que fiquem ou deixem as coisas à sua volta, têm ‘recompensas’, devem mesmo beber, para conseguirem esses ganhos, essas recompensas, esse alívio temporário e fugaz; que venham todos os efeitos colaterais, mas, por favor, não venham com críticas, com encheção; não venham, não; eles, esses homens, vão, sim, encontrar os amigos, os irmãos; amigo é pra isso, bebida também, aliás, nesse estágio, não conseguem mais, e talvez nunca conseguiram, dissociar amizade e fraternidade dos copos e garrafas!
Tal como os bebês muito pequenos, que não sabem até onde vão eles e onde começam suas mães e os seios que os alimentam, esses homens já não separam amigos de seus copos; copos parecem parte desses amigos; tirados os copos, as mesas do bar, do rancho, da casa da praia, acaba toda a graça, ninguém quer mesmo pensar nisso! Deus nos livre de tamanho desconforto, o álcool é tudo, ninguém sabe viver sem o álcool, ninguém quer regulagem nisso, tudo menos isso; não tentem tirar ou diminuir o álcool , ninguém em sã consciência queira fazer isso!
As famílias sentem-se impotentes, não falam sobre isso, colocam os problemas debaixo do tapete, os amigos, se os dependentes se tornam inconvenientes, se afastam, as reuniões tornam-se fardo, vergonha; alguns homens dormem antes da ceia, de a reunião realmente começar, e se ouvem algumas mulheres desses homens dizerem _ ‘deixe que durma; pelo menos pára de dar trabalho’!
Isso é vida, é a tão sonhada liberdade? ‘Cada um sabe o que faz’, ‘melhor não dar palpite’, ‘ele é assim, mas é bom’, ‘é o pai de vocês’, ‘é ele que traz o pão, a comida’, ‘é ele que nos sustenta’, dizem, e todos agora vão empurrando, tocando a vida. ‘Meu pai foi desse jeito; essa é a vida que minha mãe levou’, e as pessoas vão se conformando, se adequando para também sobreviverem.
Mas havia ganhos, recompensas, que chamamos de ‘ganhos secundários’: todos, no fundo só queriam amenizar sofrimentos, queriam liberdade, queriam viver! Concentremo-nos nisso!
Que outras formas há de conseguir tudo isso, sem os efeitos colaterais que vêm junto desses ganhos? Que outras formas de unir as pessoas, de achar graça na vida, de esquecer por um pouco as agruras da vida, sem que precisemos levar a vida a esses termos a que muitas vezes chegam as famílias?
Em toda a nossa existência será que vimos pessoas que foram ou são alegres, têm verdadeiro ânimo ou prazer genuíno, daquele prazer ou ânimo que se sente internamente, que brota dentro e se espalha aos outros e é contagiante de um jeito bom ?
Na nossa cultura, certos hábitos estão tão arraigados e levamos a vida tão por viver, que não atentamos para outras coisas que não aquelas que conhecemos, e assim não temos condições de mudarmos, quanto mais, mudarmos o mundo a nossa volta! Mas insisto, haveria alguém nesta presente vida ou desde que o mundo é mundo, que já encontrou verdadeiros prazeres? Existem ou já existiram pessoas que superaram crises, ambientes de duro convívio, e sobreviveram e se alegraram e buscaram fontes de verdadeiras alegrias para si e para os seus?
Você, querido e paciente leitor, conhece pessoas, culturas, povos que vivem e sobrevivem porque encontraram novas ou velhas soluções para se reabastecerem e encontrarem, aqui mesmo nesta vida, um jeito saudável e sábio de unir as pessoas em ricos e inteligentes relacionamentos? Lugares, pessoas, ambientes, culturas, povos que deixaram e deixam suas marcas de interessante, alegre, vivificante convívio?
Bem verdade que não existem sociedades perfeitas; pessoas são imperfeitas, insatisfeitas, não estão prontas, desafios são imensos; tudo o que seja diferente do que aí está parece e talvez seja utopia, mas valeria a pena procurar ou querer construir algo melhor para deixar algo melhor do que o que aí está?
Não, meu amigo, também eu não tenho as soluções, soluções são para cada caso, soluções têm que ser buscadas juntamente com quem tem ideais de mudança, de mudança de comportamento, vontade de construir algo melhor.
Eu creio em algo melhor, em um mundo melhor. Pessoas estão infelizes demais, sofridas ao extremo; famílias, grupos, culturas, povos, a humanidade toda está se dizimando, e eu não acredito que o melhor seja deixar tudo como está.
Escrevo aqui neste Recanto das Letras, que é onde publico e guardo meus textos, minhas ideias. Pouca gente vai me ler. Pouca gente quer mudar. Talvez muita gente queira mudar, mas nem sempre essas pessoas se encontram. Escrevo aqui, como se fosse deixar uma mensagem dentro de uma garrafa e soltar no mar. Tomara que esta minha garrafa, e não outra, chegue às mãos de algumas pessoas que partilhem desta mesma vontade de construir algo melhor para deixar como legado. Tomara que eu leve esperança para algumas pessoas da construção de uma nova fraternidade, uma nova rede de amigos. Melhor: que eu e esta minha intenção nos juntemos, de alguma forma, a tantas outras boas que já existem, a tantas pessoas e intenções que querem fazer algo poderoso e bom para o nosso mundo, e que Deus nos veja e acolha neste nosso empenho e faça o Seu Impossível, aproveitando-nos, nesta nossa impotência, como canais de Sua Luz, para as coisas que aí estão.
Isto não é tudo, não termina aqui. Não houve neste texto pretensão de abordagem científica, mas foi um olhar real sobre uma pequena amostra, um minúsculo recorte da realidade, com a crença de que crenças negativas podem ser substituídas por outras positivas, mais poderosas que as anteriores.
Se alguém bebe porque quer ser feliz, há outras maneiras de ser feliz, que não essa de estragar a longo prazo o que se é e o que se tem a sua volta?
Porque, se encontramos outra crença melhor e mais positiva em que nos firmarmos, daí podemos mudar. Nós não mudamos para melhor, até que tenhamos algo forte, melhor e bom; quando encontramos algo melhor, que nos dê as mesmas coisas boas que nós queríamos e tínhamos, no caso, a vontade de ser feliz, a vontade de viver bem, mas sem os efeitos ruins, então nós mudamos o nosso comportamento! Quando encontramos esses, para nós, novos (talvez velhos) valores, nós mudamos e mudamos para melhor, com o nosso exemplo, o mundo à nossa volta!
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Esta escritora é Terapeuta, practitioner em PNL e Coach e usou recursos advindos dessas áreas (Terapia, PNL e coaching), para escrever este texto. Palavras são ditas, e, se nos acrescentam algo, já não podemos mais nos dizer que isso não é conosco; palavras levam, lembram e dão-nos responsabilidades e às vezes, nos conduzem a pensar em nossas competências, em recursos que já temos ou que podemos buscar para atender à urgência e à necessidade de mudanças onde quer que elas existam.