Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 24

A prática resume a filosofia

Quando falamos em filosofia, logo nos vem a ideia de ponderações teóricas a respeito das questões fundamentais da vida humana e é isto que obsta o verdadeiro deleite em se dedicar com mais atenção a esse estudo tão primordial a nós. Filosofar não pode limitar-se a ponderar, discordar ou aceitar ideias preconcebidas. Vai muito além disso, pois abrange vida em toda sua totalidade. Viver a filosofia é muito mais eficaz e sadio do que simplesmente filosofar sobre problemas da vida. No dia a dia deparamos com situações que nos fazem pensar, mas por estarmos habituados, não damos a esses pensamentos a continuidade que se faz urgente. É de crucial importância nos aprofundarmos nos entraves que nos fazem pensar, mas isto é apenas o começo. Não pode passar de um estímulo ao verdadeiro exercício da filosofia. Este vem pelo amor à prática de ações do bem, que deve ser seguida das ações que nos são alcançáveis. O mundo é feito de indivíduos e é pela evolução individual que atingiremos a verdadeira evolução planetária. Não pode se restringir às religiões a prática do bem e da caridade. Conceituando-se o bem à nossa própria melhora, entenderemos que todo esforço pelo outro vem a ser, em última análise, o esforço por nós mesmos; pois quem, além de nós, gostaríamos de ver beneficiado pela prática do bem? É uma conclusão lógica a de que o bem que faço pelo outro é o bem que estou procurando para mim do fundo da minha alma.

Ficamos perplexos diante de atos que presenciamos, onde o valor à vida alcança escalas degradantes de desamor e desonra a um filho de Deus, nosso igual. “Se Deus existe de fato, porque permite que tais atos ocorram diante dos nossos olhos”? é a pergunta corrente. É de onde vem, muitas vezes, a descrença em um Ser superior. Mas quanto de nós estamos dispostos a oferecer para desacelerar, até parar de vez, a onda do mal? Até que patamar esperamos alcançar o descaso para que iniciemos a doação de nossos esforços? É onde entra em cena a prática da filosofia. Continuar enxergando o mundo tal como se apresenta e manter a ideia de que ele é assim mesmo e que nada podemos fazer para uma mudança que traga a paz verdadeira é o mesmo que assistir confortavelmente aquilo que, embora real, ‘não está-me atingindo, portanto vou continuar tocando a minha vida’. É a conscientização do mundo perfeito, criado por Deus que faz com que não vivamos tranquilos enquanto presenciamos fatos que contrariam essa verdade. Isto nos torna merecedores de uma missão relevante sobre o planeta, totalmente destituída do egoísmo de querer, única e exclusivamente, a própria felicidade. Se perpetuarmos a crença de que Deus permite o mal, que Ele se alegra com o mal por que é por seu intermédio que Ele castiga os que O desobedecem, criaremos uma visão deturpada do mundo, a visão de um Deus tirano e vingativo. E a ampliação dessa visão deturpada é que faz do mundo o que ele tem se mostrado a nós.

O conceito de mal é um conceito ultrapassado e poderá ser vencido ou, se preferir, superado por um outro conceito muito mais inteligente e prático que vem a ser a suprema bondade de Deus. Como seria esse Deus? Quanto maior for o ideal de vida de um ser humano, maior e mais sublime será a ideia que ele faz de Deus. No próprio “Livro dos livros” encontramos inúmeras passagens que falam e descrevem esse Deus perfeito e eternamente bom. Penso que levar isso ao maior número possível de pessoas seria o ápice de uma vida realmente pragmática. Muitos já o fizeram e outros tantos continuam fazendo e a vida dessas pessoas, que não deveriam ser consideradas especiais posto ser essa a verdadeira missão de todos, torna-se uma prova inequívoca do verdadeiro caminho.

Crescemos com a ideia de pecado e punição, imposta a nós pela educação tradicional. Isto está impregnado no subconsciente da humanidade como uma mancha inapagável e dolorosa, mas não precisa ser assim. Não temos que comungar com as mesmas ideias estereotipadas ao longo dos séculos. A modernidade nos impõe mudanças e elas abrangem todo e qualquer tipo de ação norteada pela sinceridade e desejo de evolução. Conhecer o Deus verdadeiro passa pelo esforço da meditação e assimilação de tudo que é vigente. O respeito às normas, à tradição e ao empenho de gerações não desvincula o raciocínio lógico, que visa o esclarecimento. Não se trata de desobediência, mas de anseio a uma verdade que satisfaça plenamente o espirito. Por que somos pecadores se o próprio filho de Deus nos afirmou o contrário? Se Ele morreu por nossos pecados também foram, os pecados, mortos e extintos, ou seja, expiraram juntos sobre a mesma cruz da salvação eterna.

Não temos mais que nos preocupar com isto, mas viver uma vida que condiz com esse tipo de ensinamento, o da inexistência do pecado e do mal.Há, contudo um ponto a ser esclarecido e é justamente aí que atropelamos a verdade ao nos precipitarmos ante a ideia da inexistência do pecado. Objetivar à vida plena e feliz é reconhecer a possibilidade de um mundo paradisíaco ou melhor, é admitir que esse mundo já existe aqui e agora. Ele não está, obviamente na dor e no sofrimento que presenciamos na rotina da vida, mas na conscientização e no despertar de cada um de nós. E é por isso que a ação pragmática em direção ao nosso próximo se faz urgente e primordial. Se este paraíso já se encontra no meu interior é plenamente possível que o meu irmão, que ainda não despertou para essa verdade, possa também compartilhar e usufruir comigo dessa mesma alegria. Por que continuo pecando se já me conscientizei de que o pecado não é uma existência real? O que me falta para penetrar nesse mundo maravilhoso isento de pecado e sofrimento? Penso que é o despertar. É uma mudança no meu conceito de vida. É minha forma de encarar o mundo que vejo com a visão dos meus cinco sentidos. O cego que nunca viu a luz do dia nem a escuridão da noite desconhece completamente a existência desses fenômenos. Da mesma forma, abrindo minha visão espiritual para o mundo perfeito criado por Deus, que é perfeição, é esse mundo que irá surgir diante de mim. Então a vida passa a ter mais sabor e sentido.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 27/06/2015
Reeditado em 27/06/2015
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