Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 23

A afirmação de que a humanidade vive em um mundo ilusório não contradiz a ciência que se esforça para estudar esse mundo e nos beneficiar com suas pesquisas. Se ciência e religião andarem de mãos dadas em benefício da sociedade como um todo, certamente o cenário da vida mostrará toda sua intensidade, em cor, luz e alegria. Parece ser próprio do homem, surgido em algum ponto do passado, o amor ao conflito e à discórdia. Este é mais um fator forte de ilusão ao se pensar que, cedendo, estar-se-á diminuindo.

O conflito não faz parte da natureza da alma humana; esta é divina, logo é urgente verificar onde está a falha e corrigi-la. É evidente, pela apreciação dos fatos, que ela se encontra na grande predileção pelas coisas visíveis, que são exatamente aquelas que possuem caráter passageiro e ilusório. Os cinco sentidos físicos veem o mundo tal qual ele se apresenta diante dos olhos, mas é um equívoco pensar que esta seja a realidade. Só o fato de o homem buscar a paz, ansiar pela paz com todas as suas forças traz a noção de que a paz verdadeira é inerente a ele. Combater violência com violência; ataque com contra ataque é o meio mais seguro de perpetuar o conflito e gerar o ódio que resultará em mais conflito, distanciando ainda mais o mundo ideal, que é o anseio de todos.

O que falta às nações reconhecer é a inutilidade de guerrear. Levando-se em conta o desperdício de vidas, e vidas na flor da idade, ceifadas no auge dos seus ideais; e das cifras exorbitantes empregadas em armamentos e estratégias de guerra, chega-se à conclusão de que não pode partir de cabeças sadias a ideia de que, guerreando obtém-se alguma vantagem. É tão descomunal o prejuízo acarretado por uma guerra, tanto para o vencedor quanto para o derrotado que ultrapassa a nossa compreensão. Ele não se resume às perdas físicas, que já são monstruosas, mas à perda de identidade; à depauperação corrosiva que se perpetua ao longo de gerações. Ilusão é pensar que a vingança e a retaliação trarão benefícios.

Todas as crises estão dentro da mente do próprio homem e se manifestam segundo a crença. Isto está para o individual assim como para o coletivo. Apenas o fato de olhar o outro como inimigo desencadeia uma onda de pensamentos hostis que vão de encontro a uma linha afim de pensamentos e isto pode gerar um confronto. A partir do momento em que cada nação olhar a outra como sua aliada no combate às vicissitudes inerentes à própria vida e a ela juntar-se para ampliar a atuação de forças, não só no combate às coisas ruins, mas na expansão do bem comum, na educação e no progresso dos povos, começaremos a viver em um mundo muito mais confortável.

Entretanto, o que vemos são nações captoras de outras ou de parte de seus territórios com a intensão exclusiva de aumentarem seu poderio econômico e militar; ou aliando-se a outras, potencializadas e emergentes, para que, juntas, combatam as que se mostram poderosas ou ameaçadoras. Como produto dessa intenção para o combate, por já estar plantado, na mente dos seus dirigentes o vírus da belicosidade, a desarmonia se instala e vai vencer o mais bem preparado e inteligente. Mas toda ação tem sua consequência e, mais cedo ou mais tarde, paga-se o preço da ignorância.

O homem é espírito; essa é a compreensão fundamental que pode fazer mudar a trajetória do destino planetário. Não é um mero tratado de filosofia, tampouco palavras bonitas que farão a mudança de que o mundo carece, mas a sincera conscientização dos seus governantes. Por que olhar tudo pelo ângulo material, já que ele é cheio de limitações? Por que a teimosia em manter métodos retrógrados e ultrapassados de lidar com os problemas cruciais que se insurgem nas tentativas de desenvolvimento, quando salta aos olhos sua ineficiência? Se tudo isto é claro e existe a consciência de que uma tentativa é válida e pode se tornar solução e, mesmo assim, não se vê a mudança no lado prático, é para pensar que o que está impedindo esta iniciativa é a falta do amor.

Cristo foi um exemplo gritante da necessidade de se expandir o amor; e mesmo assim foi crucificado. Todavia, se compararmos à época em que viveu Jesus Cristo a nossa, de inigualáveis conquistas em todos os campos e pararmos para analisar a razão disto, sobrarão conclusões e uma delas é de que existe um Deus que é bondade e perdão e que houve uma razão para o fato e que pode estar ainda desconhecida. Se tudo segue adiante é porque há ainda um caminho a ser percorrido e o destino pode ser glorioso se o homem mudar, a tempo, a sua concepção da vida.

Nunca deveria haver conflito entre e ciência e religião. Não é que haja conflito, mas uma indiferença de uma contra a completude e eficiência da outra. A raiz da desarmonia encontra-se na falta de confiança. Mas ciência e religião de mãos dadas seria a união da força dos ventos com a força das águas. Nada de negativo ou impertinente se oporia ao trabalho dessas duas potências ao alcance do homem, pois tudo que é sujo e contaminável seria eternamente purificado, como toda e qualquer inutilidade varrida para bem longe, fora do alcance da nossa esfera terrestre. A sensação de perda, de ver ideias confrontadas com outras, a não aceitação de interferências ou a falta de credibilidade em outra instituição, no auxílio a questões chaves, que emperram o crescimento; a perda de terreno, de simpatizantes; tudo são insignificâncias diante da incrível melhoria das condições de vida de um planeta inteiro.

É crível e lógico que esta imagem verdadeira do mundo far-se-á real e atuante no futuro que nos espera. Tudo vai depender do esforço do próprio homem em cultivar e expandir o amor, pois é esta a alavanca da evolução humana. As forças do bem sempre superaram a maldade aparente. O mal, sendo criação do próprio homem em função de sua visão delusória da vida, extinguir-se-á por si mesmo; é apenas uma questão de tempo. Fomos criados para vivermos em terreno paradisíaco, que é a nossa essência e a nossa origem. As cabeças pensantes, que decidem o futuro físico do mundo, uma vez depuradas de suas convicções ilusórias farão girar a roda do desenvolvimento ideal; aí teremos adentrado uma era de paz e amor eternos.

Na época atual em que vivemos, entrada do terceiro milênio, parece ainda mais flagrante a preferência do homem pelos benefícios advindos da matéria. É alarmante a perda de vidas, a decrepitude da dignidade em decorrência de um modo deturpado de encarar a vida. Grande parte do sofrimento tem por causa o próprio homem, por achar que o bem estar e a felicidade só podem ser obtidos pelo desfrute das coisas palpáveis, do estímulo dos cinco sentidos. Quando ele reconhecer que é justamente à partir desse controle que se adquire a sabedoria e a verdadeira percepção espiritual, um passo grandioso e fundamental terá sido galgado para a evolução planetária. Não é nem uma questão de controle, mas de reconhecimento; de que a missão humana está muito além de mero crescimento material. Alcançamos desenvolvimento inacreditável para os padrões de um mundo que engatinhava há pouquíssimos séculos. Isto vem da permissão do poder maior que a todos governa. Do teste necessário ao despertar para o mundo real. A realidade é o oposto do que convencionamos chamar. Ela é a vida plena, que não tem começo e nem fim; que não morre e nem desaparece; é a eterna criação, o que existe de fato e sempre irá existir.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 26/06/2015
Reeditado em 26/06/2015
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