Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 21
Não há ser humano que, em sã consciência, não deseje melhorar a vida em todos os aspectos, mas são raros os que de fato conseguem. Isto deveria ser regra e não exceção. Todavia, Copiam-se as ações dos homens considerados felizes pelo que eles apresentam externamente. Não que isto seja totalmente errado. O problema está na auto avaliação. Por que o outro é feliz e eu não? Por que não me aceito como eu sou? Será que ele está se aceitando do jeito que é? São questões cruciais que precisam ser respondidas. Nota-se que, a partir daí, a felicidade deixa de ser conceituada para ser apenas vivenciada. É a forma com que as pessoas veem a felicidade que a faz se tornar tão misteriosa, quando não há mistério algum nela. Ela existe e não existe ao mesmo tempo. Existe porque a mente que a reconhece jamais deixará de sentir a felicidade por ser ela inerente ao fato de já se estar vivendo. E não existe porque não há razão de existir, pois simplesmente já é; não há ninguém que, compartilhando a existência, não usufrua essa misteriosa felicidade.
Dor e prazer parecem ser a ambiguidade permanente a permear a cabeça dos homens; assim tem sido em todas as épocas. Da mesma forma que não se deve procurar o prazer, não é bom que se fuja da dor ou do sofrimento. Deve-se simplesmente viver a vida tal qual ela se nos apresenta sem que situação alguma seja forçada. Isto exige desapego e este se consegue entregando-se à própria vida de corpo e alma e deixando-se por ela ser conduzido. Nada surge de bom ou de mal, sem que uma causa não tenha contribuído para este acontecimento. É onde entra a influência da mente no processo. Todo e qualquer acontecimento tem como origem um pensamento que, em algum momento do passado permitiu-se que dominasse o processo mental, criando, a partir daí, as condições favoráveis para que o mundo dos fenômenos o transformasse em realidade. É onde começa a fuga para evitar ou minimizar uma purificação que precisa ocorrer para trazer a mente novamente à estabilidade. É este círculo que, uma vez iniciado, transforma-se no que se convencionou denominar de carma que nada mais é que o disco mental dos acontecimentos: pensamentos que geram acontecimentos que vão gerar outros pensamentos e assim por diante. Para que isto seja interrompido faz-se necessária uma reeducação mental e um redirecionamento de todos os pensamentos que nela habitam. Isto não é fácil dadas as pressões do mundo moderno, mas não é de tudo impossível e, como tudo, exige vontade e persistência.
Cada um é responsável pelos seus próprios atos e ninguém mais. Culpar Deus ou o vizinho ou quem quer que seja por causa de um fracasso na vida é não compreender como funciona o processo mental. Há, sem dúvida, uma força superior que governa o mundo físico, mas é uma força que age no sentido que a ela for dado. Direcionando-a para o lado bom da existência, surgirão, como resposta a esse direcionamento, as coisas boas, que geram felicidade e harmonia; direcionando-a para o lado negativo surgirá como consequência tudo que for negativo. Em tudo há uma lógica; agindo-se de acordo com ela o mundo se torna suave e prazeroso. Busca-se a felicidade em coisas que não fazem, verdadeiramente, parte dela, mas um acessório a mais para torná-la mais evidente. Sendo ela um estado de espírito, alcançá-la ou não se torna relativo de acordo com o ponto de vista do interessado. O conceito de riqueza ou de pobreza difere, em inúmeros aspectos, em relação a quem o emite e avalia; isto porque não há, na realidade, um conceito eficaz que possa diferenciar uma da outra. Se formos usar como exemplo um rei que viveu há quinhentos ou mil anos, por mais rico que ele tenha se tornado não foi tão rico como qualquer cidadão que vive nos dias atuais. É só olharmos as modernidades que existem hoje à disposição de cada um e compararmos com o que existia naquela época.
Pensemos em tudo que a tecnologia tem colocado ao nosso dispor e que qualquer um, por mais pobre que seja, pode usufruir. Pensemos no rádio, na televisão, na geladeira, no aparelho de celular, coisas básicas, que chegam a ser indispensáveis e que um rei ou um imperador do passado sequer sonhavam em possuir por maiores que fossem suas riquezas.
Baseando-se nisto, o que vem a ser a riqueza ou a pobreza? Não passam de termos utilizados para se fazer comparações. Compara-se as posses de um com a de outros e tira-se daí a conclusão de quem é pobre e quem é rico. Mesmo que a posse do rico não tenha a utilidade prática, não há problema, isto não faz diferença porque, o que conta é o que ele tem a mais, não importa se, no momento aquilo não serve para nada. De que me serve um casaco de couro ou da pele mais valorizada se eu estiver no meio do deserto transpirando de calor e quase a morte? Com que prazer eu não trocaria aquela peça caríssima, avaliada pelo senso comum, por um simples copo com água para que eu não morra de sede? Quanto de suas peças de ouro não daria um rei ou marajá que viveram há séculos em troca de uma geladeira para conservar os seus alimentos ou de um aparelho de celular para se comunicarem com os seus? Por aí podemos fazer ideia do que vem a ser riqueza. Ela não é quantidade, mas aquilo que se necessita para suprir determinada carência.
Criou-se na mente do homem a ideia de posse e de ostentação. Vivemos no eterno mundo das comparações e chega-se a tirar a vida de um irmão para obter aquilo que ele possui. O termo ‘riqueza’ está arraigado no subconsciente da humanidade como posse de bens materiais, dinheiro e respeitabilidade. Riqueza, contudo, é qualquer coisa em abundância; seja dinheiro, saúde, amor e amizades. A riqueza é um termo positivo para designar a aquisição de coisas positivas. Todavia, não adianta ter a riqueza material em abundância e viver cercado de outras coisas negativas, como doenças e inimigos. O estado de vida que traz contentamento é aquele em que a busca da felicidade da alma anda par a par com o esforço de adquirir a riqueza. Pautar a vida exclusivamente na busca frenética de riqueza material está em desacordo com a verdadeira lei do amor. A lei do amor é a lei do equilíbrio; transgredir a lei do equilíbrio facilita a ocorrência de desgraças porque vai sempre imperar o egoísmo. É por isso que a procura da riqueza é, por muitos, abdicada, porque traz em si o germe do egoísmo. Destarte, a compreensão do que é, de fato, riqueza é primordial a uma vida abençoada com a paz de espírito.
A sabedoria está na frente de toda riqueza, pois é ela que vai discernir o certo e o errado das coisas. O acúmulo de todas as posses do mundo sem a luz da sabedoria faz da vida um risco constante ao permitir que o egoísmo se instale. O medo de perder aquilo que foi acumulado; de sair da existência, abandonando o palco de glórias; o desejo de superar o outro na quantidade e na qualidade dos bens adquiridos, mesmo que sejam esses supérfluos, tudo isto junto vai formar o elenco de diabinhos a perscrutar as intenções do afortunado materialmente. Se ele não estiver fortalecido pelo escudo protetor da sabedoria seus dias serão de desafios e sua vontade o gládio na arena da vida. A pobreza honrada é o disfarce do incapaz, mas a riqueza material é uma arma nas mãos do inescrupuloso. O meio termo disto é a busca da riqueza plena, fomentada pelo amor e não forjada através de uma ambição cega. Ao longo de todas as épocas a totalidade dos esforços do ser humano tem se inclinado à busca do conforto material e da aquisição de bens e pode-se dizer que todas as tragédias, todas as guerras e todas as desgraças humanas têm, como origem, a cobiça por bens palpáveis, o acúmulo de valores. Muito se matou; cidades foram destruídas, populações dizimadas. Rios de lagrimas ainda cobrem a face da Terra como resultado da imposição da vontade do mais forte sobre o mais fraco. E não há outra explicação para isto além da preferência do homem pela vida que ele entende, erradamente, regida pelo materialismo.
Se o dinheiro fosse a raiz de todo o mal, como querem sustentar alguns, não teriam existido, como ainda existem, os grandes homens que deixaram suas marcas nas rochas da eternidade; e seus nomes serão exaltados enquanto durar o tempo. Tiveram dinheiro e riqueza material em tal abundância que foram capazes de legar à humanidade tesouros de sabedoria e um caminho seguro, através de uma estrada pavimentada por provisões de toda espécie, espiritual e materialmente falando. É só esquadrinhar, nos anais da história, para verificar os rastros deixados por estes homens. Conscientes de que, dentro de cada um de nós, existe, embrionária, a força do amor ao próximo, dedicaram suas vidas ao propósito de expandir esse amor e, superando as barreiras comuns a essa intenção, chegaram ao topo de seus objetivos; tudo porque uniram, à sabedoria que souberam buscar, a atitude de enriqueceram, porque sabiam que, assim, seriam ainda mais úteis ao seu meio social e, por extensão, à humanidade.