Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 19
Assim sendo, em relação à morte, por ser ela totalmente desconhecida, quanto maior a ignorância de sua verdadeira função ou do porquê de ela existir, maior serão a insegurança e a aflição todas as vezes que este tema ou acontecimento se fizer presente no dia a dia da vida. Entender a morte é entender a razão de o planeta ser habitado e preenchido hora por uns, hora por outros tipos de seres, todos dentro de uma missão comum e necessária. Se não precisássemos morrer será que a constituição do universo seria essa que conhecemos? Ou, por outro lado, será que conhecemos, de fato, a constituição do universo? É uma questão por demais complicada e só o fato de pensarmos sobre ela já deixa, no fundo da alma, um vazio e uma interrogação somente preenchida pela esperança da busca e da invasão desse mistério.
As dúvidas se multiplicam cada vez que tencionamos ponderar sobre os mistérios do universo. A filosofia em si é um amontoado de dúvidas em cima de dúvidas. Se conseguíssemos imaginar um mundo ou uma condição de mundo em que jamais morrêssemos, instantaneamente descartaríamos o padrão de vida que engloba o todo da humanidade. Impossível, se não inimaginável, seria conceber a vida que levaríamos, já que esta não convém a mais do que uma mera centena de anos. Aí entra a loucura das ponderações filosóficas querendo encontrar respostas que atendam, ao menos em parte, aos anseios dos cidadãos do mundo. Se ela não esclarece totalmente, ao menos abre um canal de investigação que vai além do precioso e do prático.
O que pensar de um inseto ou de outras formas de vida que não vão além de dias ou de horas; que sentido teria, para o propósito universal, um simples ato de surgir e desaparecer em seguida sem que, o próprio contemplado com esse alento efêmero se dê conta do que aconteceu com ele? Não haveria sentido então existir. Se não partirmos da compreensão de que esse fenômeno passageiro é parte de um processo super inteligente e que esses estágios são indispensáveis à harmonia e à continuidade do todo, jamais entenderemos as coisas da vida e nem da morte. Será que seria acertado denominarmos de morte ou de vida esse acontecimento? É sensato admitirmos que não há então diferença em se viver cem anos ou 30 minutos? Isto faz sentido e vai além de uma conjectura. Atentando-se por esse ângulo vê-se que não existe vida e que não existe morte verdadeiramente, senão um intervalo de aperfeiçoamento e de adaptação a essas transformações.
Onde estaria a individualidade dentro desse processo? Será ela extinta com o fenômeno morte ou vem a ser ela também uma forma de ilusão? A passagem entre os estados conscientes e os de inconsciência são de tal forma sutis e imperceptíveis que não são raras as vezes em que não conseguimos distinguir uns dos outros. Provam isto os estados de sonolência breve, os sonhos, os cochilos, os ataques de epilepsia, entre inúmeros outros em que não se teve a certeza do patamar em que se encontravam.
A individualidade, como o nome já diz, vem do individuo em si. É, portanto um termo ligado ao egoísmo. Seria maravilhoso que cada ser que parte para outro estágio de existência pudesse manter em si as recordações da individualidade, já que foi ela que o distinguiu de todas as outras coisas, diferenciando-o de todas as demais criaturas; e não é impossível que assim seja. Até acho mais lógico e sensato que esse quinhão de conhecimento, adquirido a peso de tantos esforços e de tantos sofrimentos não venha a se perder com a morte do corpo físico.
A mente é intangível, é invisível e, sob todos os aspectos, imponderável. É, portanto extremamente viável que não se extinga, que sua sobrevivência ao desaparecimento do corpo seja um fato mais do que natural. Se é na mente que está contida a individualidade é ela que precisamos trabalhar enquanto nossas ferramentas físicas permitirem esse processo. O aprendizado e o aperfeiçoamento mental são de importância maior e muito mais vital para o ser humano do que o ato de dormir e se alimentar. Por aí percebemos a urgência de não se desperdiçar a oportunidade que nos está sendo dada de evoluir espiritualmente e que vem a ser esse o grande objetivo da vida e o fator de felicidade, tanto agora quanto depois de morrermos.
Em tudo há o equilíbrio. Há uma preocupação generalizada em se pautar todo e qualquer comportamento em cima de um equilíbrio saudável, mas na prática isto quase nunca funciona. Somos criaturas de hábitos e tudo que acontece de bom ou de ruim vem como resultado de um hábito que tornou-se de alguma forma arraigado. A sutilidade dos pensamentos que atravessam nossa mente num espaço de vinte e quatro horas não nos permite uma avaliação perfeita do que é bom ou ruim para o nosso bem estar e felicidade. Melhor seria se não pensássemos em coisa alguma e vivêssemos o eu do momento constantemente, mas não é essa a natureza humana; temos que pensar; pensar sempre e sobre tudo, quer estejamos despertos, quer estejamos dormindo, através dos sonhos que são indispensáveis para a saúde mental.
É controlando essa mente, os seus pensamentos e suas tendências nocivas que se adquire a verdadeira saúde, pois somos o que pensamos constantemente. Se quisermos uma vida elevada, tanto material quanto espiritualmente, não há outra forma além da vigilância interminável dos pensamentos.
Havendo um objetivo final, sincero, e uma vontade de evoluir além da mediocridade de uma vida comum, os próprios atos do cotidiano começarão a se enquadrar no padrão ideal de comportamento.