Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 18
Baseados nisto passamos a entender o real significado da vida. Não vale a pena viver por viver como uma planta ou um animal que só come e respira. Se o homem possui uma mente que o distingue dos outros seres, seu destino antes e depois de morrer estará em conformidade com o uso que fizer do seu universo mental. Então não é preciso temer a morte além de uma dosagem saudável e bem vinda desse temor. Compreender o que é o homem resume-se em amar a vida em primeiro lugar e mostrar, a si e ao mundo a que veio. Se a intenção ao viver resume-se a um passeio, no sentido de desfrute máximo das coisas perenes, a consequência será, inevitavelmente, o medo da morte, o medo de perder aquilo que achava durar para sempre. Mas se, por outro lado, a visão se ampliar além das fronteiras do materialismo e do gozo carnal, a morte será bem vinda como o foi a vida e o medo extinguir-se-á porque não terá razão de ser nem de existir. Deu-se à vida o que ela esperava. Participou-se da festa e desfrutou-se das iguarias, sem se esquecer de que as luzes irão se apagar e que cada convidado terá que seguir o caminho de casa, uns satisfeitos e outros não porque nenhuma festa agrada a todos.
Fica fácil compreender porque não existe a morte. Fica ainda mais fácil o entendimento da vida como um todo. Compartimentar as ideias: viver é existir e morrer é deixar de ser cria, além de uma angústia corrosiva e desnecessária, a sensação de impotência diante das imposições da matéria. A questão não é forçar a crença de que o homem não é matéria, mas sentir isto de fato. Vivemos embaixo de conceitos arraigados ao longo dos séculos. Muitas religiões espalharam e ainda espalham doutrinas exprobratórias; acoimaram, ao longo dos séculos, a liberdade de pensamento e de conduta em nome de um deus vingativo que não existe.
O Deus verdadeiro é amor incondicional. Não pune e nem discrimina, mas dá a sabedoria aos que procuram por ela. Temer a morte em demasia é não acreditar na sabedoria universal. Há uma saída. Se morrer é inevitável, então que se morra com dignidade, consciente de que a vida valeu a pena. Quanto maior o egoísmo e quanto maior a inação espiritual, maiores serão as dúvidas. Se a filosofia não esclarece, o viver imbuído de um ideal valoroso é a maior compensação para os não esclarecidos. O desapego é o maior desafio e a maior benção para quem quer evoluir.
Queremos respostas para as coisas mais difíceis de compreender. Mais do que querer respostas, por que não buscar essas respostas? A sensação de completude advinda de uma busca consciente e incessante da verdade é fator de felicidade. Uma conversa entre dois religiosos define bem essa insegurança em relação ao desconhecido. Um deles afirmava que não haveria nada mais além da morte, enquanto que o outro, discordando, afirmava que a vida não tinha um fim, que continuaremos existindo mesmo depois de morrermos. Como não conseguiam chegar a um entendimento por não haver como provar a verdade, um deles, o crente, sugeriu que ambos se matassem, pois seria essa a única maneira de esclarecer a questão.
Diante deste argumento o outro, recusando o desafio, deu por encerrada a discussão. Por aí temos uma ideia de como é difícil o acesso a certas verdades. Mas que isto não nos impeça a realização da busca. Poderemos não encontrar respostas definitivas, mas é certo o apaziguamento do medo, da incerteza e mesmo do sofrimento em relação a esse mistério denominado morte.
A vida está repleta de exemplos de criaturas especiais que dedicam seus dias à preparação do espírito para a jornada eterna. Para entendermos o potencial mental privilegiado desses seres especiais seria preciso aproximar nosso modo de vida ao deles, o que não é nada fácil. Nossa conduta no que se refere à evolução espiritual encontra-se ainda em patamar muito abaixo do mínimo necessário a algum conhecimento do mundo transcendental. Não é que entender a morte seja o prioritário dentro das buscas essenciais. Mas chega a assustar a discrepância entre ânsia material e evolução espiritual. É muito mais prático para nós e serve muito mais ao nosso imediatismo, acumularmos bens palpáveis, crescermos financeiramente e mostrarmos ao mundo a nossa aparência.
Os anos continuarão passando inexoravelmente e, em algum ponto da vida, o vazio acaba por incomodar nosso modo de proceder. Não são absolutamente raros os casos de suicídios, loucuras e outros tormentos mentais que acometem seres insatisfeitos com a própria vida. Não é difícil esclarecer esse ponto. O mundo é feito de equilíbrio. Se prestarmos atenção na dualidade de todas as coisas iremos concluir que o negativo não existe de verdade por não passar de um desvio daquilo que existe verdadeiramente. O mal seria um desvio do bem ou o um despropósito.
Sabendo-se que o bem é a realidade e que só ele existe no mundo da harmonia verdadeira, por que então praticar o mal? Para que criar infelicidade num mundo criado para alegrar, satisfazer e igualar todos os homens? A conclusão a que se chega é que vem a ser culpa do próprio homem o seu sofrimento. Não precisamos ir longe para descobrirmos o propósito da criação; é olharmos em direção às criaturas que vivem com o objetivo exclusivo de extraírem de cada segundo de suas existências o néctar da felicidade. Ao observarmos um animal irracional – dentro do nosso conceito de irracionalidade – vamos entender o objetivo da criação. O pássaro que voa livre de uma ponta a outra do horizonte não faz outra coisa além de usufruir da felicidade que lhe é inerente; para isto colocou-o no mundo o seu criador. O conceito de felicidade não pode variar de um ser para outro. O fim precisa ser único e é exatamente o desvio dessa finalidade o causador daquilo a que chama o homem de dor ou de sofrimento. Existe o conceito do pecado arraigado na mente humana desde os primórdios da criação. Isto não deixa de ser um entrave ao alcance da paz de fato.
Como vinha falando, as diferenças entre tudo que é positivo e tudo aquilo que entendemos como negativo são totalmente relativas se as analisarmos profundamente, procurando alcançar a essência por trás da nossa realidade. Um vem a ser o desvio, a não compreensão ou a negligência em relação ao outro. Não deixa de ser óbvio reconhecer o baixo por trás do alto, como o grande por trás do pequeno e mesmo o feio em oposição ao belo. Se encararmos despreocupadamente esse conceito do belo entenderemos o que vem a ser ele. Cada um o define a sua maneira; o que é para um não o é para outro. A mais feia das mulheres pode encantar o seu conquistador e não haverá sobre a face da Terra quem discorde do apaixonado afirmando haver fealdade naquilo que, no entender dele é a própria encarnação do belo e da formosura.
Assim seriam todas as diferenças entre o positivo e o visto como sendo o negativo. Na eletricidade ambos são indispensáveis às realizações plenas de suas funções. No relacionamento homem mulher, ela sendo a porção negativa e ele a positiva acabam por se completar harmoniosamente e formar, num só ser, a união perfeita, a felicidade verdadeira.