Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 17
Orar, meditar nas verdades contidas no universo, conceber a vida como sendo a maior das dádivas e a morte a maior das oportunidades prepara o espírito para todo e qualquer estado inerente à vida. Aprender que morte é vida, que a diferença entre um e outro estado é uma questão relativa; que nada é pré estabelecido a não ser pela nossa interferência é alcançar a independência, é ser dono do próprio destino. Não está fora do alcance de nenhum ser humano a programação de um destino feliz antes e depois de morrer. Quem acalenta esta esperança poderia ser chamado de iluminado, pois visualiza o universo como um todo. Estamos dentro da sabedoria e ela dentro de nós.
Tudo é responsabilidade do próprio homem. A escola é única, o aprendizado é múltiplo, mas o fim é um só. Nada deixa de evoluir, apenas o homem. O que ele faz em vida será a sua morte; encará-la como o fim é a maior das ignorâncias, o que pode gerar para o espírito um tormento inenarrável. O fato de desconhecermos o nosso futuro não nos dá o direito de negá-lo peremptoriamente. É-nos negada a experiência passada, mas não a futura. O homem foi projetado de maneira tão sábia e abrangente que presente e futuro não se confundem de forma alguma. Deixamos para trás um passado que nos dá a impressão de nada ter existido, mas permanece em nós, tão nítida quando manifestante, a intuição sobre todas as coisas.
O mundo está farto de experiências que comprovam a eternidade da vida. É uma questão de aceitá-la definitivamente ou descartá-la com humildade, mas é o que raramente acontece. Tudo vem da experiência de cada ser individualmente. Quem não ama a própria vida tende a criticar a de terceiros. A vida eterna é um dom divino; crer em Deus é entender e aceitar que Ele jamais destruiria um ser criado. Por isto, a possibilidade de a morte ser vida é grandiosa diante do grandioso amor de um criador.
Seria uma total falta de amor de Deus para com Suas criaturas descartá-las, de todo, de suas qualidades adquiridas. Se a vida tem um sentido não deve ser diferente com a morte. É de difícil aceitação a ideia de que Deus não teria um objetivo para as suas criaturas que não fosse além de viver alguns anos e em seguida desaparecer completamente. Quando se fala em egoísmo querer viver além da morte física o fazem conceituando o planeta como receptáculo de seres que vem e que vão, uns dando chance aos outros de também viverem, de passarem pelas mesmas experiências que concernem aos humanos, já que é preciso dar vez aos novatos. Viveríamos então sobre um palco de representações com tempo limitado e hora marcada.
Isto faz sentido até certo ponto. E a enorme ânsia de querer continuar a existir, o terror da extinção, também contribuem para toda e qualquer manifestação de opiniões em relação à possibilidade ou não de vida após a morte.
Resta saber o que seria viver. Se é gozar prazeres e ser amado e ser compreendido isto é apego à vida física. Se o medo da morte passa pela renúncia aos benefícios carnais, então esse conceito precisa ser avaliado. Vida espiritual e física não se correlacionam nesse sentido. Quem julga conhecer os mistérios da vida e da morte está entre aqueles seres especiais, em missões especiais para a melhoria do planeta como um todo. Resta acreditarmos neles ou não. Se são humanos como nós, possuem os mesmos anseios, as mesmas ansiedades de um desejo de imortalidade.
Mas, por que então divergem as opiniões? Se consideramos especiais essas pessoas, e elas realmente o são, é porque deve haver um motivo. E esse passa, invariavelmente, pela espiritualidade. Definitivamente, não dá para estudarmos ou opinarmos sobre algo mantendo nossa forma única de conceber a vida; ela é muito mais do que a nossa capacidade de avaliação limitada. É por isso que a expansão mental é tão profundamente estudada hoje em dia.
O cérebro está acima dos interesses que deveriam convergir para a mente como prioridade máxima. E isto vem do materialismo exacerbado pela ciência. Conceber a possibilidade de não haver morte é extremamente importante para uma vida plena. Deixamos de ser limitados quando ampliamos a visão além do convencional. A vida não é tão complexa quanto a imaginamos. Temos por hábito encarar morte como o fim derradeiro de tudo. É necessário enfatizar que a mente é criadora e que o destino não se restringe à matéria. É muito difícil incutir certas verdades; diria mesmo que isto é impossível. Mas, se a dúvida é companheira isto é culpa de quem não a expõe à luz.
Os iluminados, a quem respeitamos como detentores de uma sabedoria diferenciada não fizeram mais do que ir um pouco mais longe em suas interrogações; eles não se restringiram a simplesmente acreditar ou deixar de fazê-lo porque um outro disse o que disse e é por causa disso que fizeram a diferença no mundo. Se nos sentimos tristes ou desolados porque a vida não deu a chance que merecíamos por nossos esforços contínuos, resta saber qual era a direção desses esforços. O tempo passa como um meteoro e o fenômeno ‘morte’ se aproxima, deixando ansiedades e outros sentimentos inclassificáveis. Toda essa miscelânea de pensamentos se confunde na mente despreparada, por isso é preciso ir mais além nas perguntas e muito mais além nas respostas prováveis, numa busca incessante até o máximo da satisfação.
A vida não é para ser pensada sem um objetivo específico. A preocupação restringe a eficiência e encurta o tempo de quem poderia viver muito mais. Gozar ao máximo cada minuto que foi concedido para crescimento, desprendido do egoísmo e da preguiça, insuflando de alegria e sonhos todos os momentos apresentados; isto pode ser considerado o remédio para todos os males não encontrados em farmácias abarrotadas de químicas entorpecentes. Saber viver exige paciência acima de tudo, exige ações voltadas para o todo. Tudo que destoa da harmonia universal um dia pesará sobre a balança do destino.
O amor é o grande motivador, seria o combustível para as ações de melhoria da vida. A Terra está impregnada de amor em cada milímetro e é ele que faz viverem todos os seres. Infelizmente há uma carência extrema do amor em todos os escalões. O medo exagerado da morte passa indiscutivelmente pelo cenário que se apresenta no dia a dia da realidade. Descobrir as razões de os seres não conseguirem viver pacificamente deveria ser mais urgente do que lançar agrotóxicos nas lavouras que não precisam deles; tudo isso é falta de amor. Enviar jovens cheios de vida e de esperanças para perecerem em guerras descabidas e evitáveis é a maior e mais degradante demonstração da falta e amor que ainda existe no homem.