MAÇONARIA- O SIMBOLISMO DA INICIAÇÃO
A atração do ritual
É inegável a atração que o espírito humano tem pelos chamados ritos de passagem. Na verdade, todos os grandes acontecimentos da nossa vida, se não são marcados por algum tipo de ritual, eles perdem o seu valor emocional e são facilmente esquecidos.
Dessa forma, o ritual funciona como uma âncora que fixa em nosso sistema neurológico os fatos marcantes da nossa existência, razão pela qual, quanto mais exuberantes, exóticos e interessantes forem, mais impressionam o espirito daqueles que são submetidos a ele.
Alguns exemplos de rituais de passagem são o batismo, a comunhão, a festa da debutante, o casamento, o trote da faculdade, e principalmente o último e definitivo, que é o funeral.
Os amantes que ritualizam seus momentos de romance tem mais chance de prolongarem seus relacionamentos do que aqueles que não o fazem. Refeições á luz de velas, comemorações de datas importantes, noites de amor com teatralizações, são tipos de ritualização que tem o caráter de ancorar o amor com mais força do que o mero relacionamento diário e o compartilhamento de uma vida em comum.
De qualquer forma, todo processo ritualístico está vinculado á algum tipo de iniciação, na qual a pessoa está passando de uma etapa á outra, em sua vida. Nesse sentido, o ritual de iniciação também é um arquétipo de compartilhamento coletivo, que tem sido cultuado por toda a humanidade, em praticamente todos os tempos, pois esse comportamento já foi recenseado em todas as civilizações, desde as mais antigas á mais modernas.
O ritual de iniciação
A iniciação se define como o ingresso de um noviço em um determinado sistema de conhecimento, ou em um processo de aculturação no qual ele deixa uma etapa da sua vida para ingressar em outra. Em se tratando de conhecimento é uma forma de eliciar os sentidos da pessoa que participa do ritual para o conteúdo da sabedoria que se quer transmitir; em se tratando de cumprir etapas da vida, o que se pretende é marcar essa passagem com o registro psicológico de um fato, que doravante será a marca do seu novo status. É o que acontece com a criança batizada, que passa a fazer parte de uma comunidade religiosa, com uma adolescente que participa de um ritual de debutantes, que deixa, por assim dizer a sua condição de criança para se tornar uma jovem mulher, do jovem que participa do trote da sua faculdade para mostrar a sua condição de universitário, da pessoa que faz uma festa de casamento para mostrar á sociedade a sua condição de casado, etc. [1]
Assim, não são somente as sociedades secretas, ou as instituições religiosas, que se valem da tradição iniciática para recepcionar novos membros nos seus quadros. Muitos grupos laicos também usam variantes desse instituto em seus rituais de recepção e elevação dos seus associados. Também em certos clubes de serviços e algumas empresas, é uso comum algum tipo de ritual de iniciação na recepção de novos membros ou colegas de serviço.
Porém, é na liturgia das religiões que o rito iniciático encontra a sua maior aplicação. Toda religião têm o seu ritual de admissão, que se configura como sendo uma forma bastante peculiar de o grupo recepcionar o novo membro, compartilhando com ele o espírito da egrégora que se forma naquele momento singular da sua vida.[2]
O batismo como ritual de iniciação
O exemplo mais comum de um ritual de iniciação é o batismo. Através desse ato ritual, o neófito é admitido no sistema de crenças da religião em ele está sendo iniciado. Por isso, o batismo, na maioria das religiões, se reveste de pompa e cerimônia, sendo o ato litúrgico da mais alta importância no cerimonial que a ela se atrela.
Toda religião tem uma forma de batismo como ritual de iniciação o sistema de crenças por ela professado. O catolicismo é, talvez, a religião que vincula á esse rito de passagem a maior carga de significação.
Na religião católica há três sacramentos indispensáveis: o batismo, a comunhão e a crisma, que são rituais representativos da comunhão entre o católico e a divindade patrona dessa religião, ou seja, Jesus Cristo. Embora esses três sacramentos sejam importantes do ponto vista litúrgico, o batismo é o mais significativo, pois sem a realização desse primeiro e fundamental ato não é permitida a realização dos dois seguintes.
O batismo representa uma verdadeira iniciação á religião católica. Os demais são ritos de passagem de uma condição á outra. Embora nem todos os católicos de coração e espírito se submetam á todos esses ritos, eles continuam, ainda hoje, sendo muito importante para aqueles que professam essa crença.
Entre os evangélicos o batismo é uma opção que deve ser escolhida pelo adepto quando ele, finalmente, se convence da sua fé nos preceitos da religião que vai adotar. Então, conforme o ritual, que consiste, na maioria das seitas, na imersão do adepto na água, á semelhança do que João Batista fez com Jesus e com os crentes que aderiam á sua doutrina, o neófito é batizado perante os fiéis e passa a fazer, efetivamente, parte da congregação. [3]
Embora tenha sido popularizado pelos cristãos, a partir do ato simbólico realizado por João Batista com Jesus, o batismo é um ato ritual anterior ao surgimento do cristianismo. Esse termo vem do grego "βαπτισμω" (baptismō) que significa "imergir". Ele já era utilizado pelos judeus, em tempos anteriores ao cristianismo, como ato ritual destinado a purificar os indivíduos em diversas ocasiões em que estes se comunicavam com a divindade, ou praticavam algumas ações consideradas sacras pela sua religião. A prática de imergir os seus adeptos em água, como símbolo da sua purificação foi institucionalizada principalmente entre a seita dos essênios, e dessa fonte o costume foi absorvido pelos cristãos, pois embora não haja concordância com a informação veiculada por alguns autores, de que Jesus era adepto da seita dos essênios, não parece haver dúvida de que João Batista, o iniciador de Jesus, o era, dado a semelhança da doutrina que ele pregava com aquela defendida pelos chamados “filhos da luz”.[4]
Na religião islâmica não existe um ritual de batismo como ato litúrgico praticado num templo, mas sim um comportamento específico que caracteriza a iniciação do jovem muçulmano nos mistérios da religião. A palavra de Deus, na forma de um azan (versículo do Alcorão recitado na forma de um salmo, contendo os fundamentos da religião do Islã) deve ser dito no ouvido do bebê. Depois, raspa-se o cabelo da criança, o qual é pesado, e o valor correspondente ao seu peso, em prata, distribuído aos pobres.
Durante essa cerimônia, o nome do bebê deve ser escolhido. Nessa ocasião, as famílias que têm posses podem realizar o cerimonial do akika, que é uma espécie de banquete ritual, do qual participam parentes e amigos próximos, que consiste no consumo de um carneiro em ágape. Esse ritual simboliza os animais que Abraão sacrificou em lugar do seu filho Isaque, de acordo com a história relatada em Gênesis 22.13.[5]
Já no judaísmo, a cerimônia de batismo inicial é bastante ritualizada. Essa ritualização, que consiste principalmente na circuncisão, segundo se lê na Bíblia, teria sido instituída por Abraão, por instrução de Deus. Com efeito, lê-se em Gênesis,17:10:11“ Todos os homens entre vós sereis circuncidados. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio, como sinal da aliança entre mim e vós.” Segundo ainda o texto bíblico, o próprio Abraão tinha noventa e nove anos de idade quando se circuncidou.[6]
A circuncisão tornou-se o principal ritual de iniciação do judaísmo, sendo ainda hoje praticado pelos naturais desse povo, em relação a todas as crianças do sexo masculino, as quais devem circuncidadas perante uma assembleia de dez homens, ocasião em que também recebe um nome. Quanto ás meninas, o ritual consiste em apresentá-la junto aos membros da sinagoga, e dar-lhe um nome.
A iniciação religiosa, porém, dá-se aos treze anos para os meninos e aos doze para as meninas. Essa cerimônia, chamada bar-mitzvá, para meninos, ou bat-mitzvá, para meninas, é a ocasião em que eles são chamados a ler a Torá pela primeira vez perante os membros da sinagoga.[7]
No budismo a iniciação se dá em um ritual chamado ordenação leiga, que é quase sempre desenvolvido na fase adulta. Geralmente, o neófito é preparado durante um ano, no qual lhe é ensinado os fundamentos da religião. Depois, o iniciando passa por uma cerimônia na qual recebe, de um mestre que lhe foi indicado, ou de um superior do templo em que vai se ordenar, um novo nome e a indicação da sua ordem na linhagem de Buda. Como o budismo é uma religião metafísica, não existe nela a idéia de unidade entre a divindade e o adepto, pois para os budistas todo ser humano já possui em si mesmo os atributos que o conduzem ao um estado de beatitude. Esse estado de beatitude consiste na natureza de Buda, ou seja, a capacidade de atingir a iluminação. E esse estado pode ser atingido através de uma conduta específica na vida pessoal e na prática da liturgia ritual que a religião prescreve para os seus adeptos.
O batismo nas sociedades iniciáticas
Nas sociedades iniciáticas, o batismo se confunde com o ritual de iniciação. Aqui sempre se pressupõe a existência de um Mistério, no qual o neófito vai ser admitido. Difere, pois, das religiões oficiais, cujas doutrinas são abertas e não necessitam de uma linguagem particular para que dela se possa participar.
Essa é uma diferença fundamental entre uma sociedade iniciática e uma igreja oficial. Nesta última qualquer pessoa pode entrar e assistir suas reuniões, embora nem sempre possa participar de todos os ritos oficiais. Não há, propriamente, um Mistério a ser compartilhado apenas pelos membros da congregação, ao passo que nas sociedades iniciáticas, esse é o elemento fundamental que a distingue.
Mistério (do grego mystérion) é um termo que vem do verbo myéin, que significa calar. Assim, o termo mýstes se aplica a tudo que se fecha, e por derivação temos o místico, (mystikós), que se refere a quem conhece e guarda os Mistérios. E por derivação, também, temos o termo myesis, que designa os ritos que se ligam a essas tradições, ou seja, o que chamamos de iniciáticas.
Em latim temos as palavras initiare e initiato, para indicar o ato de iniciação em si, e aquele que é iniciado. Assim, a iniciação se define como sendo o primeiro passo em um caminho que tem a pretensão de levar o iniciado a uma sabedoria de grau superior, que lhe possibilitará conhecer o verdadeiro sentido da vida. E para que isso seja possível, o iniciado precisará enfrentar o mistério da morte, como primeiro e fundamental conhecimento, para que ele possa seguir nessa senda. Morte e renascimento espiritual constituem, portanto, o fundamento de toda iniciação onde crenças de fundamento espiritual estejam envolvidas.
Rituais de iniciação são elementos arquetípicos que habitam na fauna inconsciente da humanidade desde priscas eras. Derivam de intuições humanas sobre a possiblidade da existência de uma vida além-túmulo, intuições essas que já estavam presentes nas civilizações pré-históricas, como atestam as escavações arqueológicas feitas em sítios onde habitaram vários grupos dos chamados homens de Neanderthal, tidos como antecessores do Homo sapiens que deu origem á nossa espécie. Em suas sepulturas há uma clara intenção ritual na forma como os mortos eram sepultados, a indicar que esses nossos ancestrais mais remotos já cultivavam algumas crenças na existência de vida após a morte.
Destarte, já na alvorada das primeiras civilizações da época histórica, iremos encontrar os ritos iniciáticos como uma prática constante, ligadas ás crenças professadas por esses antigos povos. Com o desenvolvimento dessas civilizações essas tradições alcançaram um alto nível de sofisticação, e os ritos que originalmente tinham um aspecto religioso, passaram a compor uma importante função sociológica na cultura desses povos. Incorporou-se a eles uma mística própria, no sentido de destacar certos membros do grupo social, como compartilhantes de um “segredo”. No fundo, tudo isso nada mais era do que uma formulação que visava criar uma elite intelectual e política, pois não havendo, nessas antigas civilizações, um saber universal institucionalizado, cabia á religião oficial do país a criação de um kitch cultural que servisse de elemento de ligação entre esses “eleitos” da divindade, os quais, sendo detentores do “saber secreto”, deveriam ser, naturalmente, os guias da nação. [8]
Nascia, assim, a face política dos ritos iniciáticos. Enquanto isso, ela ia também ganhando terreno como fórmula de distinção social, aplicável aos grupos econômicos que iam se desenvolvendo dentro da sociedade. Profissionais das mais diversas atividades começaram a adotar a mística da iniciação para a admissão de novos membros, e a utilizar sua liturgia também nos rituais de passagem de grau. Iremos, destarte, encontrar essa tradição sendo praticada pela grande maioria das escolas filosóficas da antiguidade. Nessas instituições, o costume de compartilhar a vida social, as relações pessoais e o próprio conhecimento apenas com os companheiros do mesmo grau, bem como o desenvolvimento de uma linguagem particular para o reconhecimento dessa condição, feita de toques, sinais, símbolos e outros elementos de passe passou a ser uma marca distintiva delas, uma linguagem do grupo, propriamente dita.
O desenvolvimento dos ‘Mistérios’
Todas as grandes civilizações da antiguidade desenvolveram seus Mistérios como forma de preservação de conhecimento e distinção de seus quadros sociais. Assim, iremos encontrar nas civilizações do Egito, da Mesopotâmea, da Índia e da China, rituais de iniciação elaborados com extrema sutileza. Na Grécia, por exemplo, as iniciações eram processos já incorporados no próprio sistema político e social das cidades-estado, que as patrocinava e administrava, como parte das suas tradições. Não se tratava apenas de uma liturgia aplicada no campo das coisas sagradas, mas também nas organizações sociais de caráter laico, como as escolas filosóficas e as corporações obreiras. Pitágoras, por exemplo, bem como Tales de Mileto e Epicuro, administravam suas escolas como se fossem verdadeiras sociedades iniciáticas.
O rito iniciático, como se disse, é um elemento arquetípico compartilhado pelo inconsciente coletivo da humanidade desde os tempos mais remotos. Mesmo entre as mais primitivas tribos indígenas da África, América e Oceania, sempre se encontrará em suas culturas algum ritual de iniciação, ou de passagem, a simbolizar as etapas da vida do indivíduo, nas suas conquistas sociais ou espirituais. Os quatro arquétipos do psiquismo humano, segundo as tradições desses povos, que são o guerreiro, o xamã, o visionário e o sábio, são ecos dessa tradição longínqua, nas quais a intuição dos povos mais ligados á natureza nos dão uma formidável lição de sabedoria.[9]
A iniciação maçônica
Na maçonaria é o caráter esotérico do ritual que impressiona o espírito do iniciado, pois nele se manteve o simbolismo dos antigos cerimoniais que celebravam os chamados Mistérios. É nesse sentido que o neófito é submetido á uma “morte ritual”, representada pela sua imersão na “câmara das reflexões”, onde ele encontra todos os símbolos dessa passagem pelo mundo dos mortos, experiência que ele terá que enfrentar para renascer, glorioso, para a luz que a maçonaria irá lhe conferir.
Como bem viu Mircea Eliade, todas as provas iniciáticas, de uma maneira geral, resumem um processo escatológico que simboliza a morte e o renascimento do homem, seja em que sistema de crenças for. É uma intuição que deriva das próprias características da natureza, que passa por ciclos de morte e ressurreição, anualmente, simbolizados pelas estações do ano.[10]
Esse fato foi observado por James Fraser em sua obra clássica “O Ramo de Ouro”. Nessa obra ele associa os ritos de iniciação praticados pelos povos antigos com os ciclos de produção da natureza, e daí a derivação que se faz, em termos simbólicos, para uma imitação anímica desses processos. Fraser mostra que os mitos da criação, em todas as lendas antigas que versam sobre esse tema, têm uma mesma estrutura arquetípica. Então ele conclui que a própria humanidade, e as sociedades que nela se formam, desenvolvem alguma noção psíquica desse processo e acabam criando alegorias, mitos, lendas e rituais que se destinam, de alguma forma, a recompô-los. Explica-se, dessa maneira, que a grande maioria das sociedades antigas tenha desenvolvido uma mitologia que utiliza a figura de um deus, ou um heroi morto, que é regenerado por processos miraculosos, semelhante ao que a terra faz com a semente que nela é lançada.[11]
Esse tema estava presente em todas as antigas iniciações, desde os Mistérios de Ísis e Osíris, praticados pelos egípcios, quanto nos Misterios Eleusinos dos gregos.[12] E aparece, como vimos, também na doutrina do cristianismo, nos chamados Mistérios Cristãos, que se refere á Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Á iniciação representa, portanto, uma participação simbólica do neófito nesse processo regenerativo que a divindade, através da natureza, ensina ao homem. Ao praticar o ritual de iniciação, o homem, por imitação, penetra no âmago desse processo.
A iniciação maçônica, conquanto seja conduzida com elementos místicos, herdados dos Antigos Mistérios gregos e egípcios, na verdade ela é uma corruptela dos costumes adotados pelos grupos praticantes das artes e ofícios que, na Idade Média, os usavam para recepcionar em seus quadros novos membros por eles admitidos.
Nesse sentido, vinculado ao caráter esotérico que lhe foi impregnado, a iniciação maçônica se reveste de um caráter simbólico que significa que o neófito maçom que está sendo admitido como aprendiz está, na verdade, sendo admitido em uma “ profissão moral” que lhe permitirá construir “templos á virtude e cavar masmorras ao vício.” Essa é a função do maçom como “pedreiro da construção universal.”
É nesse sentido que lhe são aplicadas as provas simbólicas que acontecem durante a cerimônia de iniciação. Elas consistem principalmente em “viagens” de integração junto aos quatro elementos da natureza (água, terra, fogo e água), que são reminiscências de antigos rituais. Em seguida lhes são informadas algumas obrigações e posturas que ele deverá assumir como maçom e indagado se ele tem disposição e condições para honrar essas obrigações. Essas disposições faziam parte dos regulamentos observados pelos profissionais da antiga maçonaria operativa. Só após cumpridas toda essa liturgia poderá o iniciando fazer o seu juramento como maçom, cumprindo assim a tradição de toda sociedade iniciática, que é compartilhamento de um “segredo” ritual que dali para a frente lhe será comunicado aos poucos. Por isso é que, antes de neófito receber a “Luz” da iniciação, ele deve ser conservado vendado e no escuro, pois até então ele ainda é um profano.[13]
Cumprida todas essas etapas, o iniciando torna-se de fato um iniciado, recebendo, em presença dos Irmãos, a “Luz” da maçonaria, após o que ele é revestido com o avental do Aprendiz e está em condições de receber as suas primeiras instruções.
Eis assim, cumprida a tradição iniciática, que na maçonaria ainda encontra, nos diversos ritos e liturgias que desenvolvidos, o ideal dessas antigas manifestações do espírito humano. Eles representam, como diz Van Gennep, a “porta de ingresso” do neófito, na sua passagem do mundo profano para o mundo sagrado.[14]
Daí em diante, cada elevação de grau implicará num “rito de passagem”, na qual o iniciado subirá uma escada que lhe permitirá penetrar na esfera mais sutil do conhecimento universal, que consiste na Geometria Sagrada, ou seja, aquela segunda a qual o Grande Arquiteto do Universo constrói o mundo. [15]
A atração do ritual
É inegável a atração que o espírito humano tem pelos chamados ritos de passagem. Na verdade, todos os grandes acontecimentos da nossa vida, se não são marcados por algum tipo de ritual, eles perdem o seu valor emocional e são facilmente esquecidos.
Dessa forma, o ritual funciona como uma âncora que fixa em nosso sistema neurológico os fatos marcantes da nossa existência, razão pela qual, quanto mais exuberantes, exóticos e interessantes forem, mais impressionam o espirito daqueles que são submetidos a ele.
Alguns exemplos de rituais de passagem são o batismo, a comunhão, a festa da debutante, o casamento, o trote da faculdade, e principalmente o último e definitivo, que é o funeral.
Os amantes que ritualizam seus momentos de romance tem mais chance de prolongarem seus relacionamentos do que aqueles que não o fazem. Refeições á luz de velas, comemorações de datas importantes, noites de amor com teatralizações, são tipos de ritualização que tem o caráter de ancorar o amor com mais força do que o mero relacionamento diário e o compartilhamento de uma vida em comum.
De qualquer forma, todo processo ritualístico está vinculado á algum tipo de iniciação, na qual a pessoa está passando de uma etapa á outra, em sua vida. Nesse sentido, o ritual de iniciação também é um arquétipo de compartilhamento coletivo, que tem sido cultuado por toda a humanidade, em praticamente todos os tempos, pois esse comportamento já foi recenseado em todas as civilizações, desde as mais antigas á mais modernas.
O ritual de iniciação
A iniciação se define como o ingresso de um noviço em um determinado sistema de conhecimento, ou em um processo de aculturação no qual ele deixa uma etapa da sua vida para ingressar em outra. Em se tratando de conhecimento é uma forma de eliciar os sentidos da pessoa que participa do ritual para o conteúdo da sabedoria que se quer transmitir; em se tratando de cumprir etapas da vida, o que se pretende é marcar essa passagem com o registro psicológico de um fato, que doravante será a marca do seu novo status. É o que acontece com a criança batizada, que passa a fazer parte de uma comunidade religiosa, com uma adolescente que participa de um ritual de debutantes, que deixa, por assim dizer a sua condição de criança para se tornar uma jovem mulher, do jovem que participa do trote da sua faculdade para mostrar a sua condição de universitário, da pessoa que faz uma festa de casamento para mostrar á sociedade a sua condição de casado, etc. [1]
Assim, não são somente as sociedades secretas, ou as instituições religiosas, que se valem da tradição iniciática para recepcionar novos membros nos seus quadros. Muitos grupos laicos também usam variantes desse instituto em seus rituais de recepção e elevação dos seus associados. Também em certos clubes de serviços e algumas empresas, é uso comum algum tipo de ritual de iniciação na recepção de novos membros ou colegas de serviço.
Porém, é na liturgia das religiões que o rito iniciático encontra a sua maior aplicação. Toda religião têm o seu ritual de admissão, que se configura como sendo uma forma bastante peculiar de o grupo recepcionar o novo membro, compartilhando com ele o espírito da egrégora que se forma naquele momento singular da sua vida.[2]
O batismo como ritual de iniciação
O exemplo mais comum de um ritual de iniciação é o batismo. Através desse ato ritual, o neófito é admitido no sistema de crenças da religião em ele está sendo iniciado. Por isso, o batismo, na maioria das religiões, se reveste de pompa e cerimônia, sendo o ato litúrgico da mais alta importância no cerimonial que a ela se atrela.
Toda religião tem uma forma de batismo como ritual de iniciação o sistema de crenças por ela professado. O catolicismo é, talvez, a religião que vincula á esse rito de passagem a maior carga de significação.
Na religião católica há três sacramentos indispensáveis: o batismo, a comunhão e a crisma, que são rituais representativos da comunhão entre o católico e a divindade patrona dessa religião, ou seja, Jesus Cristo. Embora esses três sacramentos sejam importantes do ponto vista litúrgico, o batismo é o mais significativo, pois sem a realização desse primeiro e fundamental ato não é permitida a realização dos dois seguintes.
O batismo representa uma verdadeira iniciação á religião católica. Os demais são ritos de passagem de uma condição á outra. Embora nem todos os católicos de coração e espírito se submetam á todos esses ritos, eles continuam, ainda hoje, sendo muito importante para aqueles que professam essa crença.
Entre os evangélicos o batismo é uma opção que deve ser escolhida pelo adepto quando ele, finalmente, se convence da sua fé nos preceitos da religião que vai adotar. Então, conforme o ritual, que consiste, na maioria das seitas, na imersão do adepto na água, á semelhança do que João Batista fez com Jesus e com os crentes que aderiam á sua doutrina, o neófito é batizado perante os fiéis e passa a fazer, efetivamente, parte da congregação. [3]
Embora tenha sido popularizado pelos cristãos, a partir do ato simbólico realizado por João Batista com Jesus, o batismo é um ato ritual anterior ao surgimento do cristianismo. Esse termo vem do grego "βαπτισμω" (baptismō) que significa "imergir". Ele já era utilizado pelos judeus, em tempos anteriores ao cristianismo, como ato ritual destinado a purificar os indivíduos em diversas ocasiões em que estes se comunicavam com a divindade, ou praticavam algumas ações consideradas sacras pela sua religião. A prática de imergir os seus adeptos em água, como símbolo da sua purificação foi institucionalizada principalmente entre a seita dos essênios, e dessa fonte o costume foi absorvido pelos cristãos, pois embora não haja concordância com a informação veiculada por alguns autores, de que Jesus era adepto da seita dos essênios, não parece haver dúvida de que João Batista, o iniciador de Jesus, o era, dado a semelhança da doutrina que ele pregava com aquela defendida pelos chamados “filhos da luz”.[4]
Na religião islâmica não existe um ritual de batismo como ato litúrgico praticado num templo, mas sim um comportamento específico que caracteriza a iniciação do jovem muçulmano nos mistérios da religião. A palavra de Deus, na forma de um azan (versículo do Alcorão recitado na forma de um salmo, contendo os fundamentos da religião do Islã) deve ser dito no ouvido do bebê. Depois, raspa-se o cabelo da criança, o qual é pesado, e o valor correspondente ao seu peso, em prata, distribuído aos pobres.
Durante essa cerimônia, o nome do bebê deve ser escolhido. Nessa ocasião, as famílias que têm posses podem realizar o cerimonial do akika, que é uma espécie de banquete ritual, do qual participam parentes e amigos próximos, que consiste no consumo de um carneiro em ágape. Esse ritual simboliza os animais que Abraão sacrificou em lugar do seu filho Isaque, de acordo com a história relatada em Gênesis 22.13.[5]
Já no judaísmo, a cerimônia de batismo inicial é bastante ritualizada. Essa ritualização, que consiste principalmente na circuncisão, segundo se lê na Bíblia, teria sido instituída por Abraão, por instrução de Deus. Com efeito, lê-se em Gênesis,17:10:11“ Todos os homens entre vós sereis circuncidados. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio, como sinal da aliança entre mim e vós.” Segundo ainda o texto bíblico, o próprio Abraão tinha noventa e nove anos de idade quando se circuncidou.[6]
A circuncisão tornou-se o principal ritual de iniciação do judaísmo, sendo ainda hoje praticado pelos naturais desse povo, em relação a todas as crianças do sexo masculino, as quais devem circuncidadas perante uma assembleia de dez homens, ocasião em que também recebe um nome. Quanto ás meninas, o ritual consiste em apresentá-la junto aos membros da sinagoga, e dar-lhe um nome.
A iniciação religiosa, porém, dá-se aos treze anos para os meninos e aos doze para as meninas. Essa cerimônia, chamada bar-mitzvá, para meninos, ou bat-mitzvá, para meninas, é a ocasião em que eles são chamados a ler a Torá pela primeira vez perante os membros da sinagoga.[7]
No budismo a iniciação se dá em um ritual chamado ordenação leiga, que é quase sempre desenvolvido na fase adulta. Geralmente, o neófito é preparado durante um ano, no qual lhe é ensinado os fundamentos da religião. Depois, o iniciando passa por uma cerimônia na qual recebe, de um mestre que lhe foi indicado, ou de um superior do templo em que vai se ordenar, um novo nome e a indicação da sua ordem na linhagem de Buda. Como o budismo é uma religião metafísica, não existe nela a idéia de unidade entre a divindade e o adepto, pois para os budistas todo ser humano já possui em si mesmo os atributos que o conduzem ao um estado de beatitude. Esse estado de beatitude consiste na natureza de Buda, ou seja, a capacidade de atingir a iluminação. E esse estado pode ser atingido através de uma conduta específica na vida pessoal e na prática da liturgia ritual que a religião prescreve para os seus adeptos.
O batismo nas sociedades iniciáticas
Nas sociedades iniciáticas, o batismo se confunde com o ritual de iniciação. Aqui sempre se pressupõe a existência de um Mistério, no qual o neófito vai ser admitido. Difere, pois, das religiões oficiais, cujas doutrinas são abertas e não necessitam de uma linguagem particular para que dela se possa participar.
Essa é uma diferença fundamental entre uma sociedade iniciática e uma igreja oficial. Nesta última qualquer pessoa pode entrar e assistir suas reuniões, embora nem sempre possa participar de todos os ritos oficiais. Não há, propriamente, um Mistério a ser compartilhado apenas pelos membros da congregação, ao passo que nas sociedades iniciáticas, esse é o elemento fundamental que a distingue.
Mistério (do grego mystérion) é um termo que vem do verbo myéin, que significa calar. Assim, o termo mýstes se aplica a tudo que se fecha, e por derivação temos o místico, (mystikós), que se refere a quem conhece e guarda os Mistérios. E por derivação, também, temos o termo myesis, que designa os ritos que se ligam a essas tradições, ou seja, o que chamamos de iniciáticas.
Em latim temos as palavras initiare e initiato, para indicar o ato de iniciação em si, e aquele que é iniciado. Assim, a iniciação se define como sendo o primeiro passo em um caminho que tem a pretensão de levar o iniciado a uma sabedoria de grau superior, que lhe possibilitará conhecer o verdadeiro sentido da vida. E para que isso seja possível, o iniciado precisará enfrentar o mistério da morte, como primeiro e fundamental conhecimento, para que ele possa seguir nessa senda. Morte e renascimento espiritual constituem, portanto, o fundamento de toda iniciação onde crenças de fundamento espiritual estejam envolvidas.
Rituais de iniciação são elementos arquetípicos que habitam na fauna inconsciente da humanidade desde priscas eras. Derivam de intuições humanas sobre a possiblidade da existência de uma vida além-túmulo, intuições essas que já estavam presentes nas civilizações pré-históricas, como atestam as escavações arqueológicas feitas em sítios onde habitaram vários grupos dos chamados homens de Neanderthal, tidos como antecessores do Homo sapiens que deu origem á nossa espécie. Em suas sepulturas há uma clara intenção ritual na forma como os mortos eram sepultados, a indicar que esses nossos ancestrais mais remotos já cultivavam algumas crenças na existência de vida após a morte.
Destarte, já na alvorada das primeiras civilizações da época histórica, iremos encontrar os ritos iniciáticos como uma prática constante, ligadas ás crenças professadas por esses antigos povos. Com o desenvolvimento dessas civilizações essas tradições alcançaram um alto nível de sofisticação, e os ritos que originalmente tinham um aspecto religioso, passaram a compor uma importante função sociológica na cultura desses povos. Incorporou-se a eles uma mística própria, no sentido de destacar certos membros do grupo social, como compartilhantes de um “segredo”. No fundo, tudo isso nada mais era do que uma formulação que visava criar uma elite intelectual e política, pois não havendo, nessas antigas civilizações, um saber universal institucionalizado, cabia á religião oficial do país a criação de um kitch cultural que servisse de elemento de ligação entre esses “eleitos” da divindade, os quais, sendo detentores do “saber secreto”, deveriam ser, naturalmente, os guias da nação. [8]
Nascia, assim, a face política dos ritos iniciáticos. Enquanto isso, ela ia também ganhando terreno como fórmula de distinção social, aplicável aos grupos econômicos que iam se desenvolvendo dentro da sociedade. Profissionais das mais diversas atividades começaram a adotar a mística da iniciação para a admissão de novos membros, e a utilizar sua liturgia também nos rituais de passagem de grau. Iremos, destarte, encontrar essa tradição sendo praticada pela grande maioria das escolas filosóficas da antiguidade. Nessas instituições, o costume de compartilhar a vida social, as relações pessoais e o próprio conhecimento apenas com os companheiros do mesmo grau, bem como o desenvolvimento de uma linguagem particular para o reconhecimento dessa condição, feita de toques, sinais, símbolos e outros elementos de passe passou a ser uma marca distintiva delas, uma linguagem do grupo, propriamente dita.
O desenvolvimento dos ‘Mistérios’
Todas as grandes civilizações da antiguidade desenvolveram seus Mistérios como forma de preservação de conhecimento e distinção de seus quadros sociais. Assim, iremos encontrar nas civilizações do Egito, da Mesopotâmea, da Índia e da China, rituais de iniciação elaborados com extrema sutileza. Na Grécia, por exemplo, as iniciações eram processos já incorporados no próprio sistema político e social das cidades-estado, que as patrocinava e administrava, como parte das suas tradições. Não se tratava apenas de uma liturgia aplicada no campo das coisas sagradas, mas também nas organizações sociais de caráter laico, como as escolas filosóficas e as corporações obreiras. Pitágoras, por exemplo, bem como Tales de Mileto e Epicuro, administravam suas escolas como se fossem verdadeiras sociedades iniciáticas.
O rito iniciático, como se disse, é um elemento arquetípico compartilhado pelo inconsciente coletivo da humanidade desde os tempos mais remotos. Mesmo entre as mais primitivas tribos indígenas da África, América e Oceania, sempre se encontrará em suas culturas algum ritual de iniciação, ou de passagem, a simbolizar as etapas da vida do indivíduo, nas suas conquistas sociais ou espirituais. Os quatro arquétipos do psiquismo humano, segundo as tradições desses povos, que são o guerreiro, o xamã, o visionário e o sábio, são ecos dessa tradição longínqua, nas quais a intuição dos povos mais ligados á natureza nos dão uma formidável lição de sabedoria.[9]
A iniciação maçônica
Na maçonaria é o caráter esotérico do ritual que impressiona o espírito do iniciado, pois nele se manteve o simbolismo dos antigos cerimoniais que celebravam os chamados Mistérios. É nesse sentido que o neófito é submetido á uma “morte ritual”, representada pela sua imersão na “câmara das reflexões”, onde ele encontra todos os símbolos dessa passagem pelo mundo dos mortos, experiência que ele terá que enfrentar para renascer, glorioso, para a luz que a maçonaria irá lhe conferir.
Como bem viu Mircea Eliade, todas as provas iniciáticas, de uma maneira geral, resumem um processo escatológico que simboliza a morte e o renascimento do homem, seja em que sistema de crenças for. É uma intuição que deriva das próprias características da natureza, que passa por ciclos de morte e ressurreição, anualmente, simbolizados pelas estações do ano.[10]
Esse fato foi observado por James Fraser em sua obra clássica “O Ramo de Ouro”. Nessa obra ele associa os ritos de iniciação praticados pelos povos antigos com os ciclos de produção da natureza, e daí a derivação que se faz, em termos simbólicos, para uma imitação anímica desses processos. Fraser mostra que os mitos da criação, em todas as lendas antigas que versam sobre esse tema, têm uma mesma estrutura arquetípica. Então ele conclui que a própria humanidade, e as sociedades que nela se formam, desenvolvem alguma noção psíquica desse processo e acabam criando alegorias, mitos, lendas e rituais que se destinam, de alguma forma, a recompô-los. Explica-se, dessa maneira, que a grande maioria das sociedades antigas tenha desenvolvido uma mitologia que utiliza a figura de um deus, ou um heroi morto, que é regenerado por processos miraculosos, semelhante ao que a terra faz com a semente que nela é lançada.[11]
Esse tema estava presente em todas as antigas iniciações, desde os Mistérios de Ísis e Osíris, praticados pelos egípcios, quanto nos Misterios Eleusinos dos gregos.[12] E aparece, como vimos, também na doutrina do cristianismo, nos chamados Mistérios Cristãos, que se refere á Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Á iniciação representa, portanto, uma participação simbólica do neófito nesse processo regenerativo que a divindade, através da natureza, ensina ao homem. Ao praticar o ritual de iniciação, o homem, por imitação, penetra no âmago desse processo.
A iniciação maçônica, conquanto seja conduzida com elementos místicos, herdados dos Antigos Mistérios gregos e egípcios, na verdade ela é uma corruptela dos costumes adotados pelos grupos praticantes das artes e ofícios que, na Idade Média, os usavam para recepcionar em seus quadros novos membros por eles admitidos.
Nesse sentido, vinculado ao caráter esotérico que lhe foi impregnado, a iniciação maçônica se reveste de um caráter simbólico que significa que o neófito maçom que está sendo admitido como aprendiz está, na verdade, sendo admitido em uma “ profissão moral” que lhe permitirá construir “templos á virtude e cavar masmorras ao vício.” Essa é a função do maçom como “pedreiro da construção universal.”
É nesse sentido que lhe são aplicadas as provas simbólicas que acontecem durante a cerimônia de iniciação. Elas consistem principalmente em “viagens” de integração junto aos quatro elementos da natureza (água, terra, fogo e água), que são reminiscências de antigos rituais. Em seguida lhes são informadas algumas obrigações e posturas que ele deverá assumir como maçom e indagado se ele tem disposição e condições para honrar essas obrigações. Essas disposições faziam parte dos regulamentos observados pelos profissionais da antiga maçonaria operativa. Só após cumpridas toda essa liturgia poderá o iniciando fazer o seu juramento como maçom, cumprindo assim a tradição de toda sociedade iniciática, que é compartilhamento de um “segredo” ritual que dali para a frente lhe será comunicado aos poucos. Por isso é que, antes de neófito receber a “Luz” da iniciação, ele deve ser conservado vendado e no escuro, pois até então ele ainda é um profano.[13]
Cumprida todas essas etapas, o iniciando torna-se de fato um iniciado, recebendo, em presença dos Irmãos, a “Luz” da maçonaria, após o que ele é revestido com o avental do Aprendiz e está em condições de receber as suas primeiras instruções.
Eis assim, cumprida a tradição iniciática, que na maçonaria ainda encontra, nos diversos ritos e liturgias que desenvolvidos, o ideal dessas antigas manifestações do espírito humano. Eles representam, como diz Van Gennep, a “porta de ingresso” do neófito, na sua passagem do mundo profano para o mundo sagrado.[14]
Daí em diante, cada elevação de grau implicará num “rito de passagem”, na qual o iniciado subirá uma escada que lhe permitirá penetrar na esfera mais sutil do conhecimento universal, que consiste na Geometria Sagrada, ou seja, aquela segunda a qual o Grande Arquiteto do Universo constrói o mundo. [15]
[1] Observei entre os irlandeses, por exemplo, o costume dos noivos percorrerem as ruas da cidade, ou do bairro onde moram, após a celebração do casamento, saudando os moradores e conhecidos, para que todos tomem conhecimento da sua nova condição.
[2] Egrégora, do Egrégora, (do grego egrêgorein) significa velar, vigiar. A teoria da egrégora fundamenta-se na existência das entidades denominadas egrégoros, que são centelhas de energia espiritual manifestadas pela mente das pessoas congregadas em estreita união, e na crença de que elas podem influenciar os acontecimentos no mundo físico.
[3] Na imagem, o profeta João batizando Jesus no rio Jordão. Foto Videoteca Católica.
[4] “Filhos da Luz” era o título que os essênios atribuíam a si mesmos, em oposição aos “Filhos das Trevas”, que eram aqueles que se opunham á sua doutrina.
[5] O ágape é uma antiga cerimônia, na qual o clã compartilha uma refeição ritual. Era, e ainda é, uma cerimônia praticada pela maioria das famílias de origem oriental. Um dos exemplos mais famosos de um ágape é a refeição pascal praticada pelos judeus e a famosa última ceia de Jesus com seus discípulos. A maçonaria também tem os seus ágapes, que consiste na prática do “banquete ritual”, e também nos chamados “copos d’agua”, ceias realizadas depois das reuniões da Loja.
[6] Gênesis, 17:24
[7] Provavelmente é a esta cerimônia de iniciação que o evangelista Lucas se refere quando narra a aventura do adolescente Jesus, aos doze anos, em Jerusalém, quando segundo sua informação, ele se perde de seus pais e é encontrado junto aos doutores da lei, na sinagoga do templo. Foi nesse ato que o menino despertou o seu espírito missionário, o que justifica as misteriosas palavras que disse aos seus pais quando estes o interpelaram: “ Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas do meu pai? E eles não entenderam o que ele disse.” Lucas, 2:49
[8] Na imagem Cena do documentário Pep Cahoc – Um Rito de Iniciação. Foto: Raissa Ladeira. Mostra um ritual de iniciação à vida espiritual que meninos e meninas da tribo dos Krahô, são submetidos quando entram na adolescência.
9. Vide, a esse respeito, o notável trabalho da professora Angeles Arrien, publicado sob o título de “O Caminho Quádruplo”, publicado pela Ed. Agora, São Paulo, 1997. Vide também a nossa obra PNL para a vida diária- O Poder dos Arquétipos, publicada pela Madras São Paulo, 2013, que trabalha com o mesmo tema, associando-a com as técnicas desenvolvidas pela PNL (Programação Neurolinguística.),
9. Vide, a esse respeito, o notável trabalho da professora Angeles Arrien, publicado sob o título de “O Caminho Quádruplo”, publicado pela Ed. Agora, São Paulo, 1997. Vide também a nossa obra PNL para a vida diária- O Poder dos Arquétipos, publicada pela Madras São Paulo, 2013, que trabalha com o mesmo tema, associando-a com as técnicas desenvolvidas pela PNL (Programação Neurolinguística.),
[10] Mircea Elíade- Iniciaciones Misticas- Ed. Taurus, Madri, 1958
[11] George James Fraser, o Ramo de Ouro, Zahar Editores, São Paulo, 1986.
[12] Sobre os Mistérios Eleusinos e os Mistérios Egipcios e sua conexão com a Maçonaria, veja-se a nossa obra “Tesouro Arcano”, publicado pela Ed. Madras, 2013.
[12] Sobre os Mistérios Eleusinos e os Mistérios Egipcios e sua conexão com a Maçonaria, veja-se a nossa obra “Tesouro Arcano”, publicado pela Ed. Madras, 2013.
[13] Fundem-se, nesse processo, os rituais praticados pelos antigos pedreiros medievais com aqueles praticados pelos iniciados nos antigos Mistérios das sociedades iniciáticas. Misto de esoterismo e prática corporativa, o ritual maçônico de iniciação é, ao mesmo tempo, um compromisso de ordem quanto uma profissão de fé.
[14] Vann Gennep- Ritos de Passagem, Ed.Vozes, Petrópolis, 1974.
[15] A noção de que o conhecimento sagrado se obtém subindo uma escada graduada é contemporânea das primeiras civilizações. Na imagem acima, o patriarca Jacó contempla, em sonho, uma escada que vai do céu á terra, na qual anjos sobem e descem. É a famosa “Escada de Jacó”, uma das principais alegorias maçônicas. Foto: Enciclopédia Barsa.