Ser poeta

Ser poeta é ser louco. Não no sentido de que o poeta perde o uso da razão, mas no sentido de que não há limites para a criação poética. "O poeta é um fingidor", disse um grande criador de heterônimos. Talvez seus heterônimos tenham sido apenas as diversas faces de Fernando Pessoa, e ele precisasse assinar com outro nome o que não teria coragem de assinar como próprio. Eu não sei se alguém já fez essa interpretação; sei que eu a faço.

Se alguém quiser me interpretar, caso eu seja digno de interpretação, deve olhar para todos os meus aspectos, mas não deve confundir esses aspectos. Cada um mostra uma face do meu ser, mas todos convergem para o bem e para o mesmo ser que eu sou. Numa sala de aula, eu poderei assumir várias posturas, depende dos alunos. Com os vários amigos, eu terei posturas diferentes, pois cada pessoa é diferente. Alguns amigos gostam de certo tipo de brincadeira; outros, não. Até os níveis das brincadeiras são diferentes.

Eu não posso, por exemplo, falar com a minha mãe como falo com os meus alunos, independentemente do tipo de aluno. Eu não posso dar aula de filosofia para um senhor de 80 anos que nunca frequentou a escola.

Assim sendo, a minha escrita tem várias faces. Isso não significa que eu seja hipócrita. Os seres humanos são complexos, e não simples. Eu vejo o mundo com vários modos de olhar. A minha poesia não tem apenas uma face. Há poemas que mostram apenas a minha intelectualidade; outros mostram o meu ser, os meus princípios, os meus valores, os meus ideais. Saber quais poemas são traduções da minha interioridade e quais representam apenas o meu intelecto é um trabalho para quem deseja saber quem sou, até para mim mesmo, que também busco saber quem sou eu.

Após essa explicação, eis um poema que eu fiz na manhã do dia 6 de junho de 2015, em Pastos Bons/MA. A interpretação é livre. É a liberdade de interpretação que faz com que as pessoas vejam o que nem o poeta conseguiu ver ao escrever sua obra. Às vezes é apenas o eu lírico que se manifesta na poesia de alguém. Em outros momentos, é a voz do próprio autor. Mas isso é tarefa para quem tem tempo de ler um poema e de mergulhar nas mentalidades loucas dos poetas. Às vezes, fazendo uso da racionalidade ao extremo, eu chego a dizer que eu sou o único poeta no qual eu confio, sem menosprezar os outros poetas. Mas é que poeta é um bicho muito estranho! Imagine um poeta com formação filosófica: segundo muitas pessoas, "todo mundo que faz filosofia é louco". Seguindo esse pensamento, eu não tenho mesmo a possibilidade de ser um sujeito normal.

Todavia, o meu jeito de ser depende da pessoa com quem eu estabelecer comunicação ou relação. Você encontrará o que quiser em mim, menos ódio, raiva, rancor, violência, imoralidade, desonestidade e outros sentimentos mesquinhos. Fique, pois, com este poema! Você é um leitor inteligente. Por isso chegou até este ponto da leitura. Eu tenho admiração por você. Antes da leitura do poema, eu lhe envio um abraço. Boa leitura!

RELATO DE UM SONHO

Sonhei que fui chamado de querido

Considerado o doutor de um coração

E que fui apaixonadamente defendido

Além de ter sido uma bela inspiração.

No sonho, eu fui chamado de perfeito

Eu era provocador de admiração

Alguém dizia que gostava do meu jeito

Eu vivia no mundo da imaginação.

A pessoa tinha certeza de me conhecer

Falava sobre mim sem medo de errar

Admirava a essência do meu ser

Eu ficava, pois, o tempo todo a associar.

Sonhei que eu era muito estimado

Fui chamado até de encantador

No sonho, eu era curiosamente exaltado

Era bonita a minha relação com o Criador.

Eu era onde alguém encontrava carinho

Além de ser o google desse ser humano

Eu me sentia estar num belo caminho

Tudo o que eu fazia parecia ser soberano.

Eu era confundido até com um anjo

Uma pessoa queria um lugar no meu coração

Eu já estava me sentindo até um arcanjo

Por receber tanta admiração.

Essa pessoa agradecia a Deus a minha vida

E desejava, no mundo, outras pessoas iguais a mim

Sonhei que chamava essa pessoa de querida

O meu sonho era exatamente assim.

Essa pessoa me dedicava a mais constante atenção

Fui chamado até de professor lindinho

Tudo em mim lhe causava admiração

Eu sonhava que nunca mais ficaria sozinho.

No sonho, eu recebia os maiores elogios

Estava gostando de ser notavelmente elogiado

Eu me sentia um homem de grande brio

Sonhei ter todos os elogios arquivados.

Tudo me parecia muito familiar

Incluindo o fato de ser chamado concidadão

Eu não podia deixar de associar

Era fértil a minha imaginação.

Eu me considerava um exímio detetive

Pensava estar certo em uma de duas suposições

O meu desejo investigativo eu não detive

Pareciam reais as minhas divagações.

Era muito bom ser o poeta querido

Ser chamado poeta do coração

Eu me sentia muito bem sendo enaltecido

Eu me sentia alvo de grande admiração.

Talvez no meu sonho tenha vindo à tona

Um desejo inconsciente de ser admirado

Algum desejo reprimido e cafona

Nada digno de ser exaltado.

Cheguei a esta indubitável conclusão:

Um homem maduro não acredita em sonho

Os fatos nos dão a confirmação

De que sonhar é ilusoriamente risonho.

Finalmente, acordei das minhas divagações

É muito bom ter o privilégio de acordar

Mas não devo deixar de fazer suposições

Enxergando o mundo, eu preciso continuar.

Ninguém deve confiar em palavras enganosas

O mundo está repleto de gente mal-intencionada

Há pessoas que se comprazem sendo maldosas

A vida virtual é uma grande palhaçada.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 06/06/2015
Código do texto: T5267981
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