A morte do grito

Não!

Grita a minha consciência

Não, não, não

Não grito. Calo-me.

Tenho morrido com meus gritos

Tenho matado meus gritos

Aperto o pescoço

Dou marteladas em suas cabeças

Afoguei uma família inteira de gritos na banheira

Sufoquei alguns com o travesseiro

Outros eu apertei tanto em meus dentes

Que se rasgaram ao meio

Outros eu levo em meus bolsos no terno

Os gritos vão se acumulando

Alguns tem unhas e dentes enormes

Outros são tímidos e pequenos

Mas fazem uma bagunça gigante

Com o tempo tive que fazer um quarto para os potes de gritos

O quarto encheu, alguns potes quebraram na mudança

Os mais perigosos estão em potes resistentes

Não escapam com facilidade, algumas vezes conseguiram

Mas os capturei a tempo e eles não fizeram nada

Devem ter chegado ao ouvido de alguém

Esses são mais altos e tem maior poder de destruição

E podem se hospedar como um vírus na mente de quem ouve

Coloquei os gritos novos em coleiras no quintal de casa

Uns no freezer

Os gritos que quero esquecer estão enterrados no pomar

Os que eu quero entender estão presos em meu corpo

Alguns estão presos em textos

Os que quero gritar estão em minhas veias.

Rodama Junior
Enviado por Rodama Junior em 02/06/2015
Código do texto: T5263223
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