A morte do grito
Não!
Grita a minha consciência
Não, não, não
Não grito. Calo-me.
Tenho morrido com meus gritos
Tenho matado meus gritos
Aperto o pescoço
Dou marteladas em suas cabeças
Afoguei uma família inteira de gritos na banheira
Sufoquei alguns com o travesseiro
Outros eu apertei tanto em meus dentes
Que se rasgaram ao meio
Outros eu levo em meus bolsos no terno
Os gritos vão se acumulando
Alguns tem unhas e dentes enormes
Outros são tímidos e pequenos
Mas fazem uma bagunça gigante
Com o tempo tive que fazer um quarto para os potes de gritos
O quarto encheu, alguns potes quebraram na mudança
Os mais perigosos estão em potes resistentes
Não escapam com facilidade, algumas vezes conseguiram
Mas os capturei a tempo e eles não fizeram nada
Devem ter chegado ao ouvido de alguém
Esses são mais altos e tem maior poder de destruição
E podem se hospedar como um vírus na mente de quem ouve
Coloquei os gritos novos em coleiras no quintal de casa
Uns no freezer
Os gritos que quero esquecer estão enterrados no pomar
Os que eu quero entender estão presos em meu corpo
Alguns estão presos em textos
Os que quero gritar estão em minhas veias.