Pequeno Ensaio Sobre Questões de Filosofia - parte 7 - O valor da vida
Não deve haver respostas para todas as nossas inquietações. O homem ainda é um ser em evolução. Passa do estado de ignorância ao estado de sabedoria como resultado de muitas eras de guerras, sofrimentos, a maioria dos quais teria sido totalmente evitada se tivesse seguido por outro caminho. A sede de poder é a maior responsável pelas tragédias porque já passou a humanidade. É dado ao homem questionar sobre os seus fracassos e rever os atos falhos, mas ele sempre recai no erro e acaba sofrendo ainda mais. Todos esses séculos e séculos de dor ainda não foram suficientes para despertá-lo de seu pesadelo. Tudo seria muito mais fácil e muito menos doloroso se ele desse a si uma chance de conhecer-se a si mesmo.
Estamos acostumados a seguir o convencional em quase todos os aspectos da vida. Não há como seguir por diferentes trilhas quando se olha para trás na história e se constata o tempo transcorrido desde que o mundo é mundo e desde que o homem existe sobre o planeta. As situações tendem a se repetir sempre, acompanhando o mesmo desenrolar de séculos anteriores. Isto não é mal de todo. O fato crucial pode ser largamente entendido ao notarmos, por exemplo, a postura do homem em querer viver de conquistas. É sabido e indiscutível que grande parte do desenvolvimento da humanidade veio em função da sua procura por aperfeiçoamento em virtude da guerra. As melhores invenções, as grandes descobertas advindas de estudos forçados por situações adversas surgiram como forma de preparar o ser humano para a guerra. Se, por um lado, isto é positivo, por outro, não deixa ser um fator de destruição que superou e tem superado todas as vantagens que podem ter acarretado.
Ninguém, em sã consciência, deseja que um filho seja enviado para um campo de batalha a fim de perecer, que é o que quase sempre acontece, porque é honroso morrer pela pátria. Quaisquer que sejam as razões a vida está acima de tudo. Analisando-se globalmente, quantas vidas não foram ceifadas na flor da idade e do desenvolvimento porque dois chefes de estado não se entenderam? Por maiores que sejam os motivos da guerra, a paz é ainda mais importante que eles. A vida está acima de qualquer valor. Olhando por esse prisma concluímos que o homem ainda não se desvencilhou de suas características selvagens; ele é ainda metade homem e metade bicho. Voltando muito atrás dos primórdios das civilizações poderemos imaginar um mundo em que, sem haver invasões, guerras ou outros tipos afins de conflito, o homem procura e consegue se desenvolver pela cooperação mutua, pela confiança e pelo entendimento.
Achar utópico ou impossível um mundo de paz verdadeira é admitir, mesmo que não queira, que ainda possui valores de animal irracional. A racionalidade não pode admitir que a solução para o desenvolvimento e progresso de uma nação seja através da criação de armas e reforço do poderio militar. Não há, dentro da racionalidade sadia, a mínima razão para duas nações guerrearem entre si, não importam quais sejam os argumentos que uma ou outra deem como motivo para esta tomada de atitude. Isto porque o que está em jogo é a própria e não há o que seja mais valioso do que a vida.
Falar sobre vida é atirar no escuro. Isto porque nem mesmo a ciência conhece com exatidão o que vida significa. Se pedirmos a três cientistas que definam o que vem a ser a vida cada um dará uma explicação diversa. Não se pode negar que as plantas possuem vida; que existe vida na água, no ar, em baixo da terra e existe vida também no interior do ser humano. Contudo, isto não é suficiente para que possamos defini-la com precisão.
Vida animal, vegetal e mineral compõem os reinos da natureza; isto seria ampliar o conceito de vida. No entanto, estamos presos ao que diz respeito à vida humana no sentido egoístico do termo. Quando matamos outro animal com vistas a nossa subsistência alimentícia estamos desprezando o esforço da natureza em preservar uma vida. Há uma diferença crucial em tirar a vida por não haver outra escolha em função da sobrevivência, como acontece na cadeia alimentar e fazê-lo visando o lucro, a vaidade e as vantagens de uma espécie sobre outra.
Dominar sobre o planeta significa, em ultima instância, ser o responsável por sua evolução. O homem é um ente espiritual por natureza. A responsabilidade que lhe cabe em colaborar com o planeta é inimaginável; é para isto que ele se encontra aqui. Afirmam os estudiosos que qualquer forma de vida existente em outros sistemas planetários é, de longe, superior a nossa. O estudo da vida precisa abranger todo o universo e, para isso, é super essencial usarmos, além de nossa capacidade científica e de nossos instrumentos mais precisos, o máximo de nossa intuição e de nossa imaginação.
Que não esqueçamos a enorme contribuição que têm prestado os grandes escritores de ficção científica. Homens como Júlio Verne, H. G. Wells, Isac Asimov e outros, deixaram legados que revolucionaram o meio científico. Muito do que escreveram como ficção tornou-se realidade e continua como tema de estudo e de pesquisa. São, portanto, a intuição e a imaginação duas ferramentas imprescindíveis na evolução do mundo e do indivíduo.
É por isso que a imaginação não pode nunca ser descartada. Muito mais do que criatura é o homem um ser criador. Para que desenvolvesse ao máximo essa capacidade foi-lhe outorgado um poder extraordinário que vem a ser o uso da mente. Nenhum outro ser possui, como o homem, esta capacidade. É através dela que ele chegou à evolução em que se encontra agora. Mas isto acabou por lhe acarretar um efeito colateral que vem a ser a causa de sua evolução incompleta: o materialismo.
Quanto mais complexa a organização mental mais dificuldade se apresenta na aquisição da harmonia final. O homem pensa, raciocina; isto o coloca de frente para inúmeras opções de desenvolvimento; quando a escolha é mal feita o resultado é a desarmonia. Se colocarmos em escala global essa proposição acabaremos por entender porque é conturbado o nosso progresso.
Então insisto no uso da imaginação controlada como meio infalível de harmonizar a vida. Temos a tendência de fugir das ponderações que mais dizem respeito a nossa natureza como um ser criado. Que fomos criados isto não deixa a menor dúvida. Saber que o homem, que é um ser criado, é também criador é ter a chave para descortinar outras formas de vida. E o que vem a ser essas outras formas de vida? São aquelas que dizem respeito a nossa própria evolução. Criamos a pobreza, a riqueza; criamos a saúde, como também a doença; tudo através do poder da mente que nos foi outorgado por quem nos criou. Se temos condição de tornarmos realidade um mundo infernal, repleto de guerras, doenças e sofrimento de toda espécie, temos, igualmente, o poder de criar a paz verdadeira, a saúde total e a felicidade infinita. Isto vem a ser um cálculo matemático, por ser lógico e irrefutável tal como: 2+2=4.