Livro "O beijo do tango 2" de Camila de Almeida
O inverno havia chegado, e como se não bastasse todo aquele frio, uma grande tristeza atingiu a família Queiroz e os De Carlo, a morte de Roberto D’Ávila de Queiroz, pai de Epídius, abalara os familiares e amigos da família. O conceituado advogado, de carreira imensuravelmente brilhante, era estimadíssimo dentre os colegas de profissão, em seu enterro, fora lembrado por seu nobre coração e seu zelo pela bela família que constituíra. O funeral fora breve, Epídius não conseguiu disfarçar tanto quanto desejava a dor da perda do pai, Pôncio ficou ao seu lado por todo o tempo, como amigo que era. Elza conformou-se, pois sabia que não havia nada que poderia ser feito, como Deus determinara, aquele tempo em que Roberto viveu ao seu lado, fora o tempo dele, e agora, cumprida sua tarefa, ele partira. O fato precisava ser aceito e se possível compreendido, afinal, do que adiantaria deprimir-se, revoltar-se com o céu, com os santos? O que Elza precisava saber, é que o tempo que lhe foi concedido ao lado dele fora o tempo certo, não houve injustiça, não houve separação, Roberto apenas havia partido, e ela sabia que ele a estaria esperando do outro lado da vida. Ela viveu seu luto e rezou para que o marido estivesse em paz, após, guardou sua melancolia em alguma parte dentro do seu coração, aquela onde tentamos não tocar muito, a qual onde só visitamos de vez em quando, e então, voltou a viver os dias que lhe restavam a sorrir com os netos.
Os anos passavam um tanto depressa para Pôncio e Catarina que viam a pequena Luize crescer correndo com seus pequenos pés entre a grama, seus cabelos haviam crescido, o que a fazia se parecer muito com a mãe, e os olhos amendoados clarearam um pouco, ficando quase esverdeados. A curiosidade tornava-se um problema, Luize fazia perguntas sobre tudo para Pôncio, e sempre mexia nas coisas as quais lhe diziam para não mexer, mas ainda assim, a menina conservava grande senso de humor e uma enorme paixão pelo pai. Quando Luize completou cinco anos, Pôncio e Catarina retornaram para a cidade tomando suas obrigações. A menina desenvolta estudava em casa pela manhã com uma professora particular, e a tarde fazia aulas de dança com a mãe que a incentivava prometendo levá-la a sorveteria em frente à academia. Catarina era exigente com a filha, tratava-a como uma adulta quando se falava de disciplina e postura, agia assim, pois seguia os passos da mãe que fizera o mesmo com ela. Mas Luize parecia não se deixar convencer pelo jeito como sua mãe se dirigia a ela, sempre brincava com alguma coisa entre uma distração e outra. Todos os dias Pôncio passava por lá nos finais de tarde e aguardava o término dos ensaios.
Pôncio acabando de subir a escada chegando ao segundo piso avistando Catarina a ensinar Luize;
- Vejo que minhas meninas estão indo muito bem.
Luize correndo para abraçá-lo gritou:
- Papai!