Ciclo II (Da falsa ideia dos tempos de paz, ou da crítica social)

O que há de mais complexo na atualidade, é destinguir a verdade, das fantasias propostas pela tradição e pela dominância da elite. Fomos habituados a crer que podemos afirmar a máxima de que "vivermos em tempos de paz", porém ao analisarmos em profundidade essa afirmação, logo nos deparamos com sua natureza vazia e banhada em ambiguidade. Ora, podemos de fato estabelecer uma afirmativa como essa como sendo verdadeira, se na simples observância das interações diárias não encontramos correspondência de tais palavras com os fatos? É tácito o sentimento de insegurança e incerteza que nos toca todas as manhãs os abrirmos os olhos. Lemos o jornal e este nos mostra que vidas são ceifadas todos os dias, pela brutal guerra às drogas, ou mesmo pela manutenção do que se convencionou a se chamada de ordem, são incontáveis os casos em que jovens e policiais são assassinados no caos gritante das periferias esquecidas. Onde se enquadra o conceito de ordem para os que estão em contato continuo com a violência diária? A grande mídia intensifica o sentimento de medo, noticiando lastimáveis e repetitivos eventos de violência e difundido mesmo que de forma sutil, a certeza de que a única alternativa que nos resta é sentir medo, seguido de ódio a todo e qualquer ser que nos seja diferente em classe ou mesmo posição social. Pois este é um inimigo, e certamente nos causará danos.

A linguagem utilizada pelos indivíduos assume aspectos tão violentos como os atos dos sujeitos tidos como os mais bárbaros e perigosos, as palavras deixaram de cumprir seu papel como forma de expressão da realidade, transferência de conhecimento e via de entendimento e concílio de idéias possivelmentes divergentes, em prol de pontos voltados ao progresso tanto individual como coletivo, para serem usadas como facas que dilaceram qualquer possibilidade de interação profunda e união entre os membros de nossa sociedade. A palavra é hojé a forma mais sutil de agressão e o meio pelo qual se cria um mundo de medos e princípios superficiais usados para turvar a visão da massa, impedindo o avanço intelectual e a privando de acessar o mundo, o conhecimento do mesmo e de si. Ou será que elas não tomam frente nos discursos egocêntricos, e com certa prepotência intelectual tão arraigados nos moldes engessados do academicismo? Isso por sua vez não transforma o que outrora deveria funcionar como centro de investigação da realidade e do conhecimento em meros recantos doutrinatórios, de idéias que engendram mais e mais divisões sociais ao invés de sua proposta original de elevar a sociedade a um nível mais amplo de esclarecimento do mundo em que habitamos e de nossos papeis enquanto seres indivíduais?

Podemos sem muitos esforços constatar que a violência verbal que logo será refletida como violências dais mais diversas naturezas que permeiam nossa sociedade tem sua origem na camada social constituida pela "superestrutura", qual cria um conceito de pensamento que tende a alimentar a figura do povo como servente de sua realidade, e através das leis, notícias, programação do entretenimento, elaboração de esteriótipos e até mesmo pelas intituições religiosas criam canais que visam o fechamento do conhecimento para as camadas mais basais da nossa estrutura, tornando-nos escravos de nossa própria ignorância, egoísmo e medo, sendo essa hipotese verdadeira isso nos levaria a não aceitação do outro como fim em si mesmo? ou possibilitaria o respeito à vida do outro, acima de nossas nececidades e desejos? Essas impossibilidades geram a gerra silenciosa que nos alcança dia após dia, se camuflando numa falsa ideia de paz.

Well Calcagno
Enviado por Well Calcagno em 19/05/2015
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