Fundamentos de hiperecologia

Costumamos ver os artefatos como seres inertes, atribuindo apenas a nós a possibilidade de atividade, de ação. Mas o mundo pode ser visto sob vários ângulos, todos eles complementares, esse é um deles.

A ecologia trata das relações entre os seres vivos. Podemos generalizar esse conceito e pensar em uma hiperecologia que trate das relações entre todos os replicadores.

“Replicadores” são todos os seres que, de algum modo, se replicam. Seres vivos são replicadores. Seres que se replicam comportam-se como seres vivos, e, assim como estes, competem pela energia disponível no ambiente e necessária para a replicação.

O parasitismo é a relação mais comum entre duas espécies. Parasitas podem controlar o comportamento do hospedeiro induzindo-o a agir com o propósito de garantir a replicação do parasita, relação descrita por Richard Dawkins e denominada fenótipo estendido.

A exemplo dos vírus, pequenos formas cristalinas inertes que necessitam usar o aparato replicador de um hospedeiro para efetuar sua própria replicação, os artefatos humanos não se replicam autonomamente. Utilizam para isso a atividade humana. Somos nós que, efetivamente, construímos as réplicas desses replicadores, assemelhados assim a parasitas.

Também, a exemplo dos vírus e de outros parasitas microscópicos, os artefatos podem alterar nossos comportamentos, induzindo-nos a agir com o intuito de promover seus propósitos replicativos.

Para se replicar, mesmo dessa forma indireta, efetuada por nós, os artefatos necessitam de energia.

Induzidos pelos artefatos a replicá-los, temos gasto uma quantidade crescente de energia.

Induzidos pelos artefatos, dominados por nossas próprias criações, estamos destruindo o planeta e impossibilitando nossa condição de sobrevivência.

A energia necessária para nossa própria replicação é muito menor que a energia que gastamos para a replicação de outros seres, os artefatos em geral. Isso demonstra que os artefatos controlam uma quantidade maior de energia que nós mesmos. Tal consideração sugere fortemente que eles, e não nós, estejam controlando o mundo.

Se isso for verdade, se perdemos o controle, não conseguiremos mais controlar o crescimento desenfreado de nossas próprias criações. Elas, então, sugarão toda a energia disponível no sistema, gerarão uma infinidade de dejetos e destruirão, inexoravelmente, nossas condições de sobrevivência.

Replicadores tendem a se replicar, a se multiplicar. Deixados livres assim o farão e se tornarão cada vez mais poderosos.

Se ainda estamos no controle, logo o perderemos.