É PRECISO POR O DEDO...!.

A questão social foi, é e será sempre palco de grandes e importantes confrontos, que não se limitam à sociedade brasileira, mas em todas as civilizações antigas e contemporâneas do mundo.

Por ser o homem um ser social, é impossível falar desse sem levar em consideração a sociedade e, nem o contrário, pois não haveria sociedade se não houvesse homens e mulheres dispostos a viver em conjunto. Mesmo entre os indígenas, que possuíam uma organização social invejável, deixava de haver confrontos, pois constantemente enfrentavam os grupos considerados rivais.

É quase impossível falar duma sociedade igualitária, justa e fraterna, pois como sabemos, o mal de todas as coisas encontra-se nas raízes – concepção e formação do povo brasileiro. Como falar, hoje, de um Brasil com essas qualidades citadas, se ele desde a sua origem sofreu um processo de invasão, por meio de sério abuso de ordem civil, moral, religioso, ético e cultural.

Nossa sociedade, apresentada por Aluísio de Azevedo, João Cabral de melo neto, Gregório de Matos, Castro Alves, Ferreira Gullar, dos poetas marginais e de Gianfrancisco Guarnieri, é fruto de uma grande mazela, provocada principalmente pela invasão portuguesa, escravidão e morte de indígenas e negros, pela exploração mineral e vegetal, pela má distribuição de terras e por muitos outros fatores.

Cada autor em sua respectiva época tem cantado não só a arte, mas em especialmente cantado uma crítica à sociedade. Embora cada um tenha tido diferentes focos trabalhados ou defendidos.

O “cortiço” trabalha com a crítica a sociedade que corrompe o ser humano (burguesia e proletariado); “Morte e Vida Severina”, o drama vivido pelos nordestinos e por que não dizer do ser humano, que busca a vida acima de tudo; A poesia de Gregório critica toda s sociedade colonial, figura na Bahia; a poesia social de Castro Alves, a luta pela liberdade dos escravos; “O poema sujo” apresenta-se como um posicionamento frente às reações da ditadura e canta a valorização da sua terra; A poesia marginal, como resposta à normalização do poder político e literário; por fim “Eles não usam Black-tie”, a luta entre operários e patrões.

O conflito sempre houve, quem tem mudado são os personagens, pois o enredo e a temática são quase sempre o mesmo – embate entre o dominado e o dominador ou entre o pobre e o rico. Embora tenhamos consciência e desejemos acabar com tais confrontos, não dá para negar a importância do conflito, (in)felizmente ele é necessário. É por meio desse que a sociedade cresce e evolui, pois é por meio do erro que se chega à verdade, a justiça e a paz.

Porém, para que isso aconteça é preciso que em cada época surjam “profetas” dispostos a denunciar e anunciar pondo realmente “o dedo na ferida”, assim como bem tem feito a literatura, por meio desses poetas e escritores.

(2003)