Por que fazemos coisas idiotas e inexplicáveis?

Alguns dos problemas que nos afligem ocorrem inexoravelmente, e pouco dependem de nossas ações. Assim, não temos nenhum controle sobre algumas doenças e acidentes que eventualmente nos acometem.

Não é o caso, no entanto, de inúmeros dos problemas que incomodam uma boa parte das pessoas. São os problemas cuja solução é conhecida por todos, juntamente com a incapacidade inexplicável de resolvê-los.

Um dos mais comuns entre esses é a gordura excessiva. Todos sabem conhecem a solução para o problema: comer menos. Inexplicavelmente, no entanto, uma vasta parcela da população, absurdamente, ingere uma quantidade imensa de comida, não apenas desnecessária, mas prejudicial.

Outros gastam um tempo absurdo assistindo TV, ou em conversas de chat, sentem-se infelizes com isso, decidem reduzir esse tempo, mas sempre adiam para o dia seguinte o cumprimento da promessa.

A preguiça pode justificar, em parte, a dificuldade na mudança de hábitos como o sedentarismo. Tendemos a considerar a imobilidade normal e a pensar na necessidade de esforço para a execução de exercícios, justificando assim a manutenção de hábitos nocivos. Justificativas como essa talvez ocultem estranhas tendências.

Sob o ponto de vista da análise dos replicadores, todos os ângulos de visão contribuem para a apreciação da situação. Sob esse ponto de vista, a ingestão excessiva de comida contribui não apenas com a replicação da gordura, mas de inúmeros alimentos, remédios, propagandas, dietéticos em geral, e, em suma, todo um mundo girando em torno das dietas de emagrecimento.

Sob esse mesmo ponto de vista, todos os vícios podem ser analisados como ações de replicadores.

Se considerarmos que não estamos no controle de, por exemplo, nossos corpos; se considerarmos que outros replicadores estão a controlar nossos movimentos quando nos empanzinamos excessivamente de comida, ou quando perdemos um tempo absurdo em frente à TV, podemos descobrir uma explicação para procedimentos tão absurdos.

É a necessidade de replicação de certos replicadores que nos compele a agir estupidamente. Uma enorme parte do discurso enganador que finge amenizar nossa idiotice frente a tais problemas participa desse mesmo processo de replicação. Assim, médicos, comerciantes, industriais, propagandistas, e todos os que lucram com a gordura, contribuem para sua replicação.

Assim, generalizando-se a idéia de fenótipo estendido, fatos corriqueiros, mas estranhamente inexplicáveis, são esclarecidos de uma maneira bem natural; fazemos coisas idiotas porque estamos parasitados por replicadores que controlam nossas ações com a finalidade de se replicarem.

Assim como um parasita pode induzir seu hospedeiro a atrair um mosquito para levá-lo, de carona, até um outro hospedeiro, os replicadores que infestam nosso mundo nos induzem constantemente a ações idiotas com o propósito de replicação deles próprios. A sociedade de consumo é o ambiente ideal para o cultivo de replicadores nocivos; construímos e cultivamos uma enorme profusão de “moscas artificiais” que agora infestam todo o nosso mundo.