POR ENQUANTO AINDA SEI
Escapar por um labirinto. Eis a grande fuga que desde que aqui aportamos, nós, os inventores do amor e da dor, temos caminhado por toda nossa existência.
A Triste figura do homem sobre seu cavalo, desbravando terras nunca antes conhecidas, nos dá a clara dimensão do quanto ainda somos crianças. Ainda estamos no jardim de infância. Ainda não rompemos o cordão umbilical; a sala de parto não está livre. Há muitos Bebês ainda para nascer, afinal, não se espera os retardatários; a bandeira da partida já foi freneticamente desfraldada. E nessa incansável corrida não se aceita o segundo lugar!
Brincamos com dados como se fossemos Deus frente ao espelho do clarão do novo dia. Nossa sutileza, nossa arrogância e nossa insaciável busca pela felicidade, não nos levou e nem nos levará para o outro lado da ponte. As frágeis estruturas com que a construímos, frágeis como uma casca de Noz, não aguentarão às primeiras gotas do novo dilúvio. Somos previsíveis. Nossos passos, mesmo que buscando atalhos, não conseguem sair da trilha já conhecida.
E quem sabe se no derredor de outros porvir, não cessem os gritos calados dos loucos que habitam as ruas e avenidas. E trafegam nus, e com chapéu às cabeças, possam eles serem alçados ao magnânimo posto de porta-vozes dessa humanidade perdida nesse oceano de sonhos esquecidos.
E quem sabe, a pomba que voará, voltará do mesmo jeito que alguém nos disse que isso já aconteceu. Pois que seja, talvez lá do outro lado da ponte, grita uma voz - ignorada pela sua aparente insignificância – que desperte corações cauterizados pelas incertezas de lutas traídas.
E então, para espera do beija-flor, façamos os jardins. Alimentemos cada ser, cada minúsculo ser desse torrão de terra suspenso no espaço. Não fechemos as portas, nem tapemos os buracos. Deixemos a luz entrar. Deixemos que a luz chegue e invada os espaços. Somente assim, nós, que nos achamos os donos do universo, deteremos o fim próximo.
E então, quando já não houver mais fresta, nem um breve raio de luz, é que saberemos o que nos cabe nessa aventura a que nos atiramos. E para sair do labirinto, talvez, sem que saibamos, lá, bem à porta, nos espera Ariadne. E Jasão seja ele todos nós perdidos como cegos tateando a parede numa sala redonda, sem que, ao menos, tenhamos a certeza de que o fio de novelo que nos salvará estará ali nos esperando. Assim, só nos resta a sorte. Joguemos os dados.
Porém, mesmo que não descobrimos ou não aceitemos nossos erros, pensemos as ações, até aqui empenhadas, como resultado de ações políticas. De ações necessárias para que o sonho universal de que não há diferenças, possa ser possível. Então, como um manifesto, um projeto inacabado que se constrói construindo, lancemos do topo da montanha nossas mais primárias vontades, mesmo que seja por um breve instante, mas lancemos. Ousemos ser insensatos. Ousemos trafegar nus. Ousemos.
Não deleguemos para a metafísica, nem para o sobrenatural, e menos ainda, para um certo determinismo, todos os fracassos que nos abateu. O projeto sagrado do Homem não vingou! É preciso reconhecer que para além do Éter; Nada! É preciso romper a casca de Noz.