O TANGO DO ESPÍRITO

Chega a comunicação literária, em remessa original pelo Facebook, via "in box". Peço que a autora a publique no Recanto das Letras e ela o faz. Vamos ao entendimento dela através da fixação do texto. Estudemos!

“AMANTE DISSIMULADO

Ângela Green (Angeluar)

“Outono brinca de primavera

Sensualizando... Tal verão

O verão debruça-se...

Sobre lágrima do outono

Espelhando... seu amor próprio

Entre cântaros e ciprestes;

Diz enamorar-se dos belos olhos de outono

As flores outonais murcham em lamentos

Porque sua carência transcendeu o tempo

Ingênua e perdidamente se apaixonou...

Pensando que namorava o caloroso verão.

Pois o verão não sabia amar...

Além de si mesmo.”

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdetristeza/5222877

Querida confreira! Imagino que desejas que eu diga algo sobre o texto remetido. Fico me perguntando, de pronto: por que registrar formalmente em versos, já que é um escrito em prosa e não um poema? Prosa poética se escreve em frases, margem a margem, linha a linha, Ok? Bem, mas para que tenhamos um poema (com Poesia) seria necessário ter utilizado uma linguagem mais codificada, menos derramada, menos direta. E a este resultado se chega com a utilização de METÁFORAS, na peça escrita. Sem estas e outras figuras de estilo que perfectibilizam a linguagem CONOTATIVA, não há a se falar em Poesia como gênero literário. Como prosa poética, o texto em voga está razoável, sendo que o seu final é interessante, porque inusitado e de conteúdo com algum laivo de poeticidade contemporânea, enxuta, seca, como é da tônica verbal atual, especialmente entre os jovens escribas. Porém, esta finalização destoa da linguagem plena de lirismo que o restante do texto contém. Parece dizer, mas não diz com o tônus nem o corpus poético que a Poesia exige como gênero único. Observe-se o excessivo uso das reticências, que é um cacoete do lirismo clássico, muito forte até meados do séc. XX. A par das palavras – que deveriam fazer valer a Poética – o recurso de pontuação timidamente sugere o que a figura de linguagem (a metáfora é a mais usual) teria de haver dito, no verso em exame. Agradeço haveres confiado em mim para opinar. Espero que continues a tua experimentação. O tempo sempre premia os persistentes. Parabéns, estimada poeta, pela válida busca da Poesia. Um dia, sem avisos, ela encontra-nos e a palavra ganha o seu vestido de festa. Fazendo meneios de mulher que deseja ser vista por todos os presentes. E de salto alto pra vir a ser melhormente aquilatada. Não só pela sua silhueta... E sair bailando nos tangos inconsúteis do espírito.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5223660