Mentiras

Quando alguém conta uma mentira, logo tem que contar outra para justificar a primeira, depois mais outra para sustentar essa, e em seguida mais outras e outras com o mesmo propósito.

O dinheiro é uma mentira!

Explicarei.

Conhecemos bem as coisas com as quais lidamos cotidianamente; compreendemos bem a existência de mesas, cadeiras, garfos, canetas e de muitas outras coisas ao nosso redor.

Também conhecemos bem as moedas e as notas de papel, mas tais objetos só constituem dinheiro quando simbolizam um valor. Notas antigas, sem valor, não constituem dinheiro. Quase todo o dinheiro existente hoje não tem existência material, corresponde apenas a um número numa conta bancária.

Mas, o que é essa coisa, o dinheiro, que tem governado nossas vidas, mas que não tem existência material?

O dinheiro é, apenas, um número em uma conta, nada mais que isso.

Assim sendo, em princípio, um banco pode gerar dinheiro, simplesmente, criando um número em uma conta. Só isso. Pressiona-se uma tecla em um computador, surge um número em uma conta e... mágica! Surge dinheiro!

Isso é, de fato, dinheiro.

Mas os bancos são proibidos de fazer dinheiro desse modo, isso mataria a galinha dos ovos de ouro. Eles fazem isso de outro modo, assim:

Para impedir que os bancos criem trilhões de trilhões de uma vez os governos inventaram a seguinte regra restritiva:

O banco só pode criar dinheiro num valor correspondente a parte do que tiver sido depositado nele, assim:

Quando alquém deposita R$ 100,00 no banco, esse valor é acrescentado na conta da pessoa, e o banco é autorizado a emprestar R$ 90,00 para outra pessoa. Perceba que esses R$ 90,00 foram criados pelo banco, já que o valor R$ 100,00 permanece na conta do primeiro. Em seguida, a pessoa que pegou o empréstimo de R$ 90,00 paga esse valor para alguém. O que recebeu o dinheiro, então, deposita esse valor em um banco que, então, cria mais R$ 81,00. Dessa maneira os números vão se multiplicando nas contas, isso é o dinhero sendo criado. E assim, cem reais depositados em um banco podem acabar gerando R$ 900,00.

Ou seja, o dinheiro é apenas, e literalmente, um número numa conta, nada mais. Trata-se de uma ilusão, uma mentira.

Mas, se é assim, por que os bancos não criam logo muitos trilhões de uma vez deixando todos trilhonários? (Permitam-me a grafia). Porque o dinheiro não é riqueza, é só um símbolo de riqueza. Se todos possuíssem trilhões de reais o dinheiro não valeria nada, perderia a seriedade. Para que a galinha dos ovos de ouro funcione, as pessoas devem acreditar nela, por isso ela deve ser mantida sob certa restrição.

Séculos atrás, possuir dinheiro equivalia a possuir ouro, por isso todos passaram a acreditar no dinheiro de papel, não foi fácil convencer o povo do valor do diheiro de papel. Mas desde 1971 o dinheiro é só um número numa conta.

Desde então, obviamente, os bancos vêm gerando mais e mais dinheiro; agora basta conseguir um depósito e digitar um número numa conta. A criação de dinheiro virou uma festa, muitos trilhões têm sido criados.

Temos gastado nossas vidas a correr atrás desse número. (Fico imaginando a cara dos que têm a autorização para fazer dinheiro, os donos do mundo, a observar o gigantesco rebanho humano lutando por esse delírio).

Então, o dinheiro é uma mentira.

Ocorre que o nosso mundo está, quase todo ele, (parte da vida dos fazendeiros e os índios estão fora disso) estruturado sobre a crença nessa mentira. Acreditamos não só nessa mentira, mas em todas as outras contadas para sustentar a mentira de que dinheiro é riqueza. Vivemos imersos em um amontoado de mentiras, vivemos por elas.

Como todos sabemos, no entanto, a mentira tem perna curta. Essa mentira, o dinheiro, logo será desmascarada por uma razão simples. Os donos do mundo, e da galinha dos ovos de ouro, naturalmente, foram ficando cada vez mais gulosos, inventando cada vez mais dinheiro.

O dinheiro inventado gera um débito futuro que algum dia tem que ser pago. Mas esse débito tem sido usado para gerar novos débitos, e assim mais dinheiro, rolando a bola de neve, cada vez maior, para o futuro. Bem ou mal, esse débito tem que ter uma garantia. O débito, a dívida crescente, já engoliu quase tudo que existe, não há quase mais nada a oferecer como garantia por novos débitos. Quando não houver nenhuma garantia possível, a imensa bolha, a grande mentira, estourará.

Temos vivido nossas vidas a correr atrás do dinheiro, mas, nesse dia, o dinheiro se revelará apenas um delíro. Ficará explícito se tratar de um mero número em uma conta. Perderá todo o interesse, as notas virarão lixo.

Suspeito que isso ocorrerá em 2017.

O dinheiro será zerado.

Os donos do mundo possuirão uma parte imensa do planeta.

Nesse momento os líderes políticos, os encarregados de cuidar do rebanho, explicitarão finalmente o escrito acima e contarão nova mentira. Insistirão na necessidade de mudanças drásticas para que tudo continue do mesmo modo, e na criação de uma nova moeda (dessa vez, talvez, ancorada em algum valor real, como antes de 71).

Haverá uma crise mundial sem precedentes. Todo o comércio mundial sofrerá um colapso. Será difícil, inicialmente, fazer ou cumprir qualquer contrato, comprar comida, por exemplo. (Será como um plano Collor mundial, a economia do ocidente, mais agudamente, vai parar).

As mudanças serão drásticas (Oh, fortuna), haverá muita miséria e fome onde esses fantasmas já não assombram há séculos. Haverá revoltas.

Não haverá empregos. Haverá pouca comida. Os idosos perderão suas gordas pensões, padecerão nas filas dos sistemas médicos públicos. Muitos dos que sempre dirigiram carros de luxo entrarão na fila de almoço caritativo. Uma parte enorme dos salários está sendo paga pelo dinheiro recém criado.

As mentiras ruirão. Novos cenários, quase todos sombrios, se descortinarão.

Sobre todos eles o mais funéreo e macabro: a grande guerra.

Temo a guerra; será avassaladora e funesta como nenhuma outra catástrofe. Sobrarão poucos em um mundo irreversivelmente esfrangalhado.

Temo esse fantasma crudelíssimo, esse ponto sem retorno.

Afora a possibilidade de uma guerra arrasadora, sou otimista ante toda a tragédia avassaladora. Trata-se de amaríssimo remédio, de dolorosa terapia, como uma lavagem intestinal para expurgar toda a mentira que os poderosos nos empurraram goela abaixo, vermes que nos corroem as entranhas; para expor todo o embuste pelo qual temos aceitado o jugo da canga.

Mas o que terá sido o pesadelo? O que terá acontecido? Será melhor voltarmos à ilusão? Mergulhar novamente em outra mentira?

Enquanto acreditávamos no dinheiro, enquanto dávamos nossas vidas por ele, trabalhávamos por ele, os poderosos simplesmente criavam números, e se apossavam, dessa maneira simples, do dinheiro suado conseguido por nós. Sorrateiramente, se apossaram de quase tudo no planeta inteiro. Sem empregos, sem salário, as multidões famintas contemplarão as imensas propriedades dos poderosos praticamente vazias e sabendo que toda aquela fortuna lhe foi surrupiada junto com suas vidas, com seus sonhos; com o passado e o futuro de cada um. As revoltas se propagarrão entre as hordas de ociosos irados. As penitenciárias abarrotadas serão pequenas para conter os revoltosos, mas fermentarão ideias revolucionárias, projetos de um novo mundo. Desvelada a grande mentira, inúmeras outras virão à tona. Ficará visto que o poder é o grande vilão.