Cozinhando feijão
Quando deixei a pensão do Nelson em junho de 68, acho que pagava oitenta mil cruzeiros por mês. O Corgozinho, meu ex-colega de ginásio e residente no frio e úmido subsolo de um hotel Santo Antonio, pirtim de mim e da rodoviária divinopolitana convidara-me para dividir com ele e mais três outros muchachos um barraco quase em cima da via férrea, no iniciozinho da Avenida Primeiro de Junho, de uma portuguesa, fundos do lote, não da portuguesa, - pois a boa lusa além de fartos fundos e seios próprios tinha buços profundos.
Topei. Ia gastar a metade. E fui todo alegre pros lados da igreja Nossa Senhora da Guia encomendar cama e colchão. A cama era um estrado, até bem armado, mas o colchão era novo, de capim, bem durim. Dez mil pela cama e cinco mil pelo colchão, mais cinco mil pelo carreto, que foi de carroça. com o gosto adicional de se pegar a carona pra economizar.
O problema inicial da convivência, foi fazer o travesseiro parar na ponta do catre. sem cair ao solo, comigo no sono. Logo eu que andava tão acostumado com cama de cabeceira...
E outros vieram, desde a questão de se compatibilizar o tempo de manutenção da luz acesa no quarto à de se cozinhar o feijão com serragem de madeira para economizar gás. Mas era só por um semestre, que nos faltava para a formatura no colegial que cursávamos. E quando eu ia me acostumando, era o tempo que ia tique-taqueando - e a serragem fumegando.