O GIGANTE ADAMASTOR E OS PERIGOS DO MAR (Os Lusíadas)
A obra “Os Lusíadas”, produzida por Luís Vaz de Camões, narra a viagem de Vasco da Gama e sua tripulação ao Oriente, que implicava em cruzar os limites do mundo desconhecido. Em meio a essa jornada, o capitão conta a história de Portugal ao rei Melinde iniciando-se uma retrospectiva dos acontecimentos e personagens mais marcantes da cultura portuguesa até o então momento da aventura.
Representando as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade, Camões narra no canto V, que é o mais expressivo, os perigos do mar enfrentado por Gama e sua tripulação.
O episódio do Gigante Adamastor é o mais rico e complexo do poema de natureza simbólica, mitológica e lírica. Camões localizou este episódio bem no meio de sua epopeia, e geograficamente, eles estavam bem no meio de sua viagem, no Cabo das Tormentas. Ele se compõe de 24 estrofes (37-60) e tanto Vasco da Gama como Adamastor aparecem como personagens e como narradores, o que pode ser percebido nas seguinte passagens: [Estrofe 37] “Não acabava quando ũa figura/ Se nos mostra no ar robusta e válida...” (CAMÕES, 1980, p. 338). Nesses versos, Vasco apresenta-se como narrador. Já nestes outros [Estrofe 41] “E disse — Ó gente ousada, mas quantas/ No mundo cometeram grandes cousas...” (CAMÕES, 1980, p. 339), temos Adamastor como personagem dirigindo-se aos portugueses.
O Gigante Adamastor aparece na estrofe 37 como forma de uma nuvem tão grande que escureceu os ares “Ũa nuvem que os ares escurece,/ Sobre nossas cabeças aparece.” (CAMÕES, 1980, p. 337). Vasco da Gama aterrorizado lança voz à tempestade perguntando o que era ela: “— Que mor cousa parece que tormenta?” (CAMÕES, 1980, p. 337). Para que o leitor sinta a presença do gigante em forma de nuvem, o poeta usou nessa apresentação um apelo à atmosfera sobrenatural e à descrição exata de que as tempestades no Cabo das Tormentas são acompanhadas de densa escuridão.
No plano histórico, simboliza a superação dos portugueses do medo do “mar tenebroso”, das superstições medievais que povoavam o Atlântico e o Índico de monstros e abismos. No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois pontos constantes da lírica camoniana: o do amor impossível e do amante rejeitado.
Depois que o gigante fala das desgraças que iriam acontecer aos portugueses (interrompido por Vasco da Gama), ele começa a contar que se apaixonou por Tétis, esposa de Peleu, que o rejeitou porque era feio. Não correspondido, tenta tomá-lo a força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no Cabo das Tormentas, personificado numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico. Enganado por ela ao beijar e abraçar uma rocha, logo percebe o logro. Desesperado, perde a forma humana e vê-se transformado, ele também, em rochedo. Ao terminar a história, o gigante desaparece em meio a um choro medonho. E, por fim, Vasco da Gama levanta os braços ao céu pedindo a Deus que afastasse os desastres previstos por Adamastor.
Em suma, no plano geral da obra, Adamastor simboliza a vastidão marítima, que finalmente foi submetida pela perseverança e astúcia lusitana.
REFERÊNCIAS
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Editora Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro, 1980.
FELIPE, Cleber Vinicius do Amaral . O GIGANTE ADAMASTOR CAMONIANO: nexos entre memórias e profecias. Disponível em: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/viewFile/1887/1064. Acesso em 09 de outubro de 2013.