Breve Ensaio Sobre a Passagem do tempo
Hoje nem tudo tem o mesmo significado. Assim como promessas que não são cumpridas, também, o olhar, os gestos, e mesmo a palavra, com o tempo, parecem querer dizer coisas que não dizem. E fica a triste sensação de que a travessia, antes iniciada com jubilo, com a ansiedade da espera pelo outro, parece que não se completará. Tudo que se viveu ou sonhou se perdeu nesse mar de incertezas, ou foi o tempo que impôs novas perspectivas?
O pássaro precisa de asas para voar. Então que se lhe dê as asas, que se abram as gaiolas para que o voo aconteça. Não há horizonte com céu cinzento, nem sol com dia nublado e jardim sem flores, não é jardim.
Outros olhares, outros gestos, outros sinais terão que ser expressados. Será, quem sabe, a edificação de que tudo que se viveu ou sonhou, no seu tempo, e pelo tempo que durou, deu-se com a mais sublime certeza: tudo valeu a pena.
Um filme revisto pela enésima vez traz como descoberta, a possibilidade de novas leituras, de novas interpretações. Cenas que não foram assimiladas, diálogos que ficaram incompreendidos, e mesmo paisagens ignoradas, com essa revisitação, nos deparamos com uma nova possibilidade do encanto. Então, é isso que se dá quando o que antes era a essência da espera, com o tempo, a espera se apresenta na sua mais elementar cotidianidade. Não há mais encanto, não há mais surpresa. A repetição, sem que saibamos como evitá-la, torna o "inesperado" tão conhecido que já não há mais surpresa. O "novo" já está ficando "velho"
O verbo se conjugará no passado. Serão somente as lembras que se apresentarão, quem sabe, como um alegre momento nostalgia. Quem sabe algumas fotos serão retiradas do armário? Quem sabe à memória, imagens darão seu testemunho? E, quem sabe, nesse momento, alguma lágrima escorra? É, estamos ficando velhos.