Vindas do Messias

A Bíblia nos dá conta de duas. Uma para nos resgatar, culminada com a paixão e a ressurreição, e outra pra uma última chance nos dar, julgando vivos e mortos. Uns dizem que está próxima e volta e meia lhe estipulam uma data, como se recebessem mensagens antecipatórias do céu; outros somente se atêm à confirmação da formidável novidade.

Mas o meu Messias era mais frequente. Pontual, e regular. E vinha mensalmente, aos fins de tarde, sem alarde, quando o sol menos arde. E pelo chapéu, nem parecia que vinha do céu. Mas era aquela macieza, tratando-nos com fidalguia, embora, a dureza - e a voz doce ainda lhe escuto - vinha atrás dum tributo. E que não era pagável de imediato. A conta viria num segundo ato.

Messias contudo significava luz e energia, e sua presença, mesmo sem halo, lhes falo, a todos magnetizaria. Nunca porém passava do alpendre, e suas estadas eram breves. Fazia um simples apontamento, trocava uma poucas amáveis palavras, mas de si próprio pouco falava, senão, que viúvo estava. E por uma prima distante, com quem veio a se unir mais tarde, às vezes, alguma pergunta arriscava.

Um dia, entretanto, Messias deixou de vir. Trocou-se o relógio pelo padrão, e à CEMIG passamos a pagar a conta então.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/03/2015
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