SEM NUNCA PERDER A TERNURA

Luciana Carrero

Lendo um texto lírico de Joaquim Moncks, vejo a marca registrada deste escritor. O fluir é natural e encadeado, como que a não admitir nenhum percalço no deslizar da palavra, a fim de manter a calmaria necessária para o andar mavioso, alisando docemente a vaga impetuosa, como Alencar, no vernáculo cuidoso e sereno dos verdes mares de Iracema. Nos oceanos da arte em que navega, nos oferece este passeio modulado deliciosamente, com vistas à fraternidade nas Letras, que pretende trazer ao mundo. Todo o irmão poeta que vem como lenitivo responsável em meio à nação enfurecida que a todos lança como ondas bravias contra os rochedos do justicialismo exacerbado, deve ser ouvido e respeitado. Os poetas estão perdendo a lavra e esbravejando como brutos incultos nas redes sociais. Na contramão de turbas de militância que atinge a literatura, surge o verdadeiro vate, semeando em searas da alma, ao plantio ameno de encantos verbais, porque rodeados pelo tumulto, difícil é tomar decisões em níveis populares ou governamentais, com a ponderação sem a qual não chegaremos a um porto seguro. A nação parece desagregar-se. Mas, de alguns pontos do Mar Brasil, timoneiros viajam a libertação dos males pelo poder da palavra. Aos escritores não cabe trocar a pena pelas armas ou fazer coro com a insanidade popular. Sabemos que nas redes sociais manifesta-se um sentimento de inconformidade com o que se espera de uma pátria realmente livre e democrática, onde esperamos o anátema dos culpados que violam sistematicamente os direitos consagrados e surrupiam nossas riquezas, arremetendo contra os ideais benignos, materiais e culturais do país. Precisamos de uma justiça responsável para viver a normalidade. Para isto temos que parar os gritos e pensar de modo claro, porque quanto mais esperneamos, mais afundamos no solo movediço. A imprensa tem se tornado alcoviteira e irresponsável, encaminhando-nos a uma ideia de caos que nos paralisa em pânico. Assim ficamos vulneráveis; e já não mais sabemos onde nos posicionar. Se a poesia puder entrar na alma, será permitido, neste intervalo, pensar no melhor que possa nos dar esta arte que instiga a pensar com calma, que deve cada um fazer a sua parte. A fraternidade lírica é um momento para respirar fundo e organizar os pensamentos, de forma a enfrentar este clima devastador, dentro dos parâmetros de civilidade, já que perdemos muito e temos mais a perder ao dar ouvidos à baderna institucionalizada do povo, e quando não mais é possivel aceitar à crueldade de governantes e representantes ditos nossos, no festival de insanidades impostas pelo materialismo funesto de facções políticas. A fraternidade preconizada por Joaquim Moncks, que tem o respaldo de um conhecimento e vivências com as armas e com a pena, vai ao encontro do ideal da máxima de Che Guevara: “Hay que endurecer, pero sin jamás perder la ternura”.