Óperas, guia para iniciantes - O GUARANI
(IL GUARANY) - Histórico, Final.
(IL GUARANY) - Histórico, Final.
Talvez não seja exagerado dizer que a Ópera brasileira nasceu na noite de 19 de março de 1870* quando a sua produção mais célebre, “O Guarani”, foi apresentada pela primeira vez em um palco do “Primeiro Mundo”, mais precisamente, no suntuoso teatro Alla Scala, na cidade de Milão, Itália, recebendo efusiva consagração.
Com efeito, só a partir daí é que o País passou a ser visto como um produtor de música erudita de primeira qualidade. E, também, como um consumidor do gênero, graças, posterior e principalmente, ao “Ciclo da Borracha” na Amazônia que além de construir um magnífico teatro, trazia da Europa as melhores Companhias e os grandes talentos para a apresentação das novidades e dos clássicos operísticos.
Ademais a obra “O Guarani” marcou a presença inaugural no tradicional teatro lírico europeu, de um gênero musical que apesar de ser fortemente influenciado pela tradição europeia, apresentava traços genuinamente brasileiros.
Trouxe uma nova e até exótica linguagem para uma expressão artística que já estava soberbamente consagrada, pois, ainda que respeitasse milimetricamente os ditames, as marcas e as regras do gênero, Carlos Gomes acrescentou-lhe um cenário totalmente inusitado, para espanto e deslumbramento de plateias habituadas aos temas e paisagens locais, embora gostassem de se jactar cosmopolitas.
De acordo com as crônicas, críticas e noticias da época a ovação que a obra e seu compositor receberam na estreia, estendeu-se por toda a temporada europeia e, segundo alguns, o sucesso do jovem paulista do interior foi de tal monta que o próprio Giuseppe Verdi teria dito: “este jovem começa por onde acabo”. Para outros, talvez menos ufanistas, como o famoso crítico Artur Imbassahy, essa fala de Verdi nunca existiu, embora seja certa a admiração que o maestro italiano tenha lhe dedicado. Outro expoente da crítica especializada, Luis Heitor Correa de Azevedo, a propósito dessa admiração, cita uma carta que Verdi escreveu ao seu amigo Peretti, cerca de dois anos após a estreia, na qual diz: “assisti com grande e viva satisfação à Ópera do colega Carlos Gomes e posso lhe afirmar que a mesma é de bela fatura, e reveladora de uma alma ardente, de um verdadeiro gênio musical”.
Por isso, exageros ufanistas à parte, o certo é que a obra teve, sim, uma enorme repercussão no Exterior e isso tornou o maestro campineiro um verdadeiro “herói nacional” em sua volta ao Brasil, quando se apresentou para ninguém menos que o Imperador Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, em 02 de dezembro de 1870*, como parte das comemorações do aniversário de Sua Majestade.
Apresentação, aliás, que além de ser a consagração do artista em solo natal, foi, também, um agradecimento do compositor ao Imperador, que sempre foi o seu grande incentivador e financiador.
Todavia, como não poderia deixar de ser, a obra também recebeu algumas críticas, como, por exemplo, a que se refere ao Libreto (escrito pelo poeta Scalvini e baseado no livro homônimo de José de Alencar) que teria trazido o tema indígena de uma maneira muito superficial, sendo, apenas, uma tola idealização do “bom selvagem” de Jean Jacques Rousseau (sic).
Para outros, porém, o simples fato de se ter colocado em palcos europeus o “homem genuinamente brasileiro” foi antes de tudo, uma afirmação de orgulho étnico, já que Pery, dentre todos os personagens masculinos, é quem tem os mais elevados princípios éticos e morais, sendo, por isso, superior ao protótipo do colonizador branco que encarna todas as virtudes.
Contudo, em novo contraponto, principalmente da geração que fez ou acompanhou a famosa “Semana de Arte Moderna de 1922”, Pery não seria um homem íntegro, mas um simples “capacho” do colonizador que não hesitou em trair o seu próprio povo para receber as “miçangas” do Primeiro Mundo.
Aplausos, vaias, elogios, críticas etc. que sempre estarão associados aos grandes feitos, em qualquer campo da atividade humana. É da natureza do homem ter essas visões variadas sobre um só assunto e, talvez, seja precisamente esse o motor que impulsiona a humanidade para as novas realizações, mas, nesse caso específico, sem entrar no mérito das argumentações favoráveis ou contrárias, é importante ter em mente que a Ópera é um gênero que ultrapassa a realidade empírica e, por isso, lhe é permitido dar vazão as idealizações que o compositor julgar adequadas para contar a sua história.
Ademais, nunca será equivocado reverenciar ao ilustre maestro que apesar da distância geográfica e cultural com os grandes centros conseguiu romper a barreira que separava a “Grande Arte” do público brasileiro. A ele, pois, o reconhecimento devido.
Nota do Autor* – a famosa protofonia (Abertura) que anuncia o programa radiofônico estatal “A Hora do Brasil” só foi escrita em 1871, após as primeiras apresentações da Ópera, para a Exposição Industrial de Milão, Itália.
Com efeito, só a partir daí é que o País passou a ser visto como um produtor de música erudita de primeira qualidade. E, também, como um consumidor do gênero, graças, posterior e principalmente, ao “Ciclo da Borracha” na Amazônia que além de construir um magnífico teatro, trazia da Europa as melhores Companhias e os grandes talentos para a apresentação das novidades e dos clássicos operísticos.
Ademais a obra “O Guarani” marcou a presença inaugural no tradicional teatro lírico europeu, de um gênero musical que apesar de ser fortemente influenciado pela tradição europeia, apresentava traços genuinamente brasileiros.
Trouxe uma nova e até exótica linguagem para uma expressão artística que já estava soberbamente consagrada, pois, ainda que respeitasse milimetricamente os ditames, as marcas e as regras do gênero, Carlos Gomes acrescentou-lhe um cenário totalmente inusitado, para espanto e deslumbramento de plateias habituadas aos temas e paisagens locais, embora gostassem de se jactar cosmopolitas.
De acordo com as crônicas, críticas e noticias da época a ovação que a obra e seu compositor receberam na estreia, estendeu-se por toda a temporada europeia e, segundo alguns, o sucesso do jovem paulista do interior foi de tal monta que o próprio Giuseppe Verdi teria dito: “este jovem começa por onde acabo”. Para outros, talvez menos ufanistas, como o famoso crítico Artur Imbassahy, essa fala de Verdi nunca existiu, embora seja certa a admiração que o maestro italiano tenha lhe dedicado. Outro expoente da crítica especializada, Luis Heitor Correa de Azevedo, a propósito dessa admiração, cita uma carta que Verdi escreveu ao seu amigo Peretti, cerca de dois anos após a estreia, na qual diz: “assisti com grande e viva satisfação à Ópera do colega Carlos Gomes e posso lhe afirmar que a mesma é de bela fatura, e reveladora de uma alma ardente, de um verdadeiro gênio musical”.
Por isso, exageros ufanistas à parte, o certo é que a obra teve, sim, uma enorme repercussão no Exterior e isso tornou o maestro campineiro um verdadeiro “herói nacional” em sua volta ao Brasil, quando se apresentou para ninguém menos que o Imperador Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, em 02 de dezembro de 1870*, como parte das comemorações do aniversário de Sua Majestade.
Apresentação, aliás, que além de ser a consagração do artista em solo natal, foi, também, um agradecimento do compositor ao Imperador, que sempre foi o seu grande incentivador e financiador.
Todavia, como não poderia deixar de ser, a obra também recebeu algumas críticas, como, por exemplo, a que se refere ao Libreto (escrito pelo poeta Scalvini e baseado no livro homônimo de José de Alencar) que teria trazido o tema indígena de uma maneira muito superficial, sendo, apenas, uma tola idealização do “bom selvagem” de Jean Jacques Rousseau (sic).
Para outros, porém, o simples fato de se ter colocado em palcos europeus o “homem genuinamente brasileiro” foi antes de tudo, uma afirmação de orgulho étnico, já que Pery, dentre todos os personagens masculinos, é quem tem os mais elevados princípios éticos e morais, sendo, por isso, superior ao protótipo do colonizador branco que encarna todas as virtudes.
Contudo, em novo contraponto, principalmente da geração que fez ou acompanhou a famosa “Semana de Arte Moderna de 1922”, Pery não seria um homem íntegro, mas um simples “capacho” do colonizador que não hesitou em trair o seu próprio povo para receber as “miçangas” do Primeiro Mundo.
Aplausos, vaias, elogios, críticas etc. que sempre estarão associados aos grandes feitos, em qualquer campo da atividade humana. É da natureza do homem ter essas visões variadas sobre um só assunto e, talvez, seja precisamente esse o motor que impulsiona a humanidade para as novas realizações, mas, nesse caso específico, sem entrar no mérito das argumentações favoráveis ou contrárias, é importante ter em mente que a Ópera é um gênero que ultrapassa a realidade empírica e, por isso, lhe é permitido dar vazão as idealizações que o compositor julgar adequadas para contar a sua história.
Ademais, nunca será equivocado reverenciar ao ilustre maestro que apesar da distância geográfica e cultural com os grandes centros conseguiu romper a barreira que separava a “Grande Arte” do público brasileiro. A ele, pois, o reconhecimento devido.
Nota do Autor* – a famosa protofonia (Abertura) que anuncia o programa radiofônico estatal “A Hora do Brasil” só foi escrita em 1871, após as primeiras apresentações da Ópera, para a Exposição Industrial de Milão, Itália.
São Paulo, 07 de março de 2015.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.