A ditadura do espelho e o decreto da balança

É um tema difícil para se comentar, mas qualquer pessoa que estiver em pleno gozo de suas faculdades mentais compreenderá que este fato está cabalmente inserido em nossa sociedade, subjugando, em maioria, nossas queridas mulheres e até muitos homens na luta pela aparência ideal.

Devido aos constantes “bombardeios” que todos os dias os nossos sentidos recebem da mídia através de seus “mísseis” estereotipados, ser bonito, ou melhor, estar bonito, tem ficado cada vez mais difícil e cada vez mais caro.

Não há como sabermos até onde tudo isto pode chegar, a que limites a vaidade levará as pessoas a se submeterem à superficialidade do ser humano. Embora muitas pessoas declaram que após um procedimento estético tiveram a auto estima elevada, que estão felizes quando o espelho ou a balança “dizem” o que elas querem ''ouvir'', o desejo por estar dentro do visual adequado parece insaciável, há sempre o que aumentar, diminuir, levantar, definir, por, tirar, esticar. É uma vasta lista de verbos que aumenta na proporção em que inserem no mercado da moda e da estética uma nova opção de “up” no visual.

Dizem que um bom soldado pode ser conhecido pelo numero de cicatrizes que possui pelo corpo. Por outro lado, nos dias atuais, já é possível classificar uma boa celebridade ou madame pelo numero se cirurgias plásticas que fizeram (sem cicatrizes, claro!). Imagine o quanto isto modernizou o dialogo entre elas:

– Querida quantas plásticas você já vez

– ah! já perdi a conta sabe.

– Acabo de fazer uma Lifting.

– Estou precisando de uma nova aplicação de botox.

– E eu preciso marcar uma lipo urgente.

– não sei se coloco 500 ou 700 ml.

– Nos EUA descobriram uma nova técnica para combater a celulite. Ainda esta semana estarei viajando para lá.

Se Mary Shelley tivesse publicado seu famoso romance nos dias atuais, possivelmente ele seria encarado como uma pesada crítica a essas pessoas. Quem já não ouviu coisas do tipo:

– Eu quero os lábios da Angelina Jolie; as pernas da Gisele Bundchen; os olhos da Sophia Loren; o nariz da Ana Hickmann; Etc...

Parece até que a autora de Frankenstein estava prevendo que as pessoas, metaforicamente, chegariam ao ponto de formar um ser com partes de outros. Entretanto, a maior semelhança entre este assunto que abordamos e o romance é que as pessoas de hoje, assim como o Monstro, buscam a aceitação, aceitação de si mesmas, das outras pessoas, do espelho, da balança e da mídia. A diferença, é que muitas dessas pessoas querem ser iguais àquelas que foram colocadas como o modelo ideal. No caso do Monstro, ele queria apenas uma criatura semelhante a ele para amar. Que solidão!

Talvez digam: “ O monstro de Frankenstein? Que exagero!” Mas já Ouviu falar em Michel Jackson? Ou então na socialite Jocelyn Wildenstein (o final do nome é apenas coincidência) que ficou conhecida como a mulher gato ( acredite, este apelido é pejorativo)?

O espelho, assim como a balança, podem se tornar os piores inimigos de uma mulher, mas a pior guerra ela trava consigo mesma. O espelho e a balança são sempre sinceros em suas funções, podem demonstrar os despojos ou os custos de cada batalha. Mas o que parece desleal nesta luta são as exigências do verdadeiro inimigo, a mídia. É ela quem diz às pessoas o quanto devem pesar, como devem vestir-se, com quem devem parecer, o que é bonito, o que é feio, o que esta na moda, o que não está. Por varias vezes nos deparamos com matérias do tipo “Os mais bonitos do mundo”, “Saiba como se vestir nesta estação”, “Saiba o que as celebridades estão usando”, tudo enfatizando apenas a aparência, subjugando psicologicamente a muitos a investirem pesado nesta “batalha”. E o mercado “bélico” da aparência tem oferecido muitas opções, como as já citadas cirurgias plásticas, pílulas emagrecedoras, aparelhos que prometem maravilhas sem esforço físico – exceto na hora de levar a mão ao bolso – cremes, sopas, próteses de silicone para tudo quanto é parte do corpo. Da maneira em que andam estas coisas corremos o risco de surgirem pessoas que serão verdadeiros cyborgs, a única coisa humana é a pele por fora. Isto se não inventarem a prótese de pele, imagine só como seria uma propaganda disto: –“Não envelhece, não enruga, não dá espinhas, tem em diversas cores, ideal para quem quer fugir do preconceito ou reafirmar suas cútis, pode satisfazer até mesmo a ideologias neonazistas e proporcionar um design nos padrões da Eugenia...”

A mídia costuma usar como estratégia a frase: –”Você precisa estar bem consigo mesma”. Sendo que a própria mídia é quem dita o que é “estar bem”. Raramente vemos ela lançar algo com teor de motivação ou paz de espírito, e o porquê disto é simples, não dá ibope, não vende, não é o que as pessoas procuram, mas isto não quer dizer que não precisam.

O que todo mundo quer é ser feliz e alguns procuram nesses meios o segredo, mas será que encontram? Parece que não, porque, em se tratando de aparência, ninguém termina esta busca. O que se vê são pessoas solitárias em seu mundo psíquico, se sentirão excluídas se não estiverem de acordo com o mundo que percebem, típico do Monstro de Frankenstein, seu mundo não é bom para si mesmo.

Falar de anorexia e bulimia, nem é necessário, elas são efeitos da desolação causadas por esta “guerra”; sequelas, feridas que ainda causam dor.

Se na esfera deste assunto precisarmos citar outro romance, talvez o mais apropriado seria o clássico A Bela e a Fera, pois, precisamos nos preocupar mais com os valores morais. Assim como a Fera aprendeu e a Bela demonstrou, a verdadeira beleza está no interior das pessoas.

É claro que em alguns casos existe uma questão de saúde. Não é bom para ninguém estar muito acima de um peso saudável e não fazer nada, ou aceitar naturalmente as sequelas de um grave acidente. Mas em quase tudo há sempre a opção correta. O problema é que a maioria prefere àquelas opções que são mais rápidas e que não demandam esforço físico, e por assim fazerem, acabam colocando a saúde em segundo plano.

Depois que descobri o significado da palavra temperança, aprendi que ela é uma das mais sábias virtudes que um ser humano pode ter. É como dizia Sócrates: "A virtude está no justo meio", afinal, quando uma pessoa age ou faz escolhas com equilíbrio e moderação, faz um bem a si mesmo, aos seus próximos e à sociedade.

Enquete:

Existe um ditado que diz: “Somos o que comemos”. Mas devido a crescente e acelerada evolução do mercado da Estética, esta frase poderá ser substituída a qualquer momento. Na sua opinião, qual das opções a seguir é a melhor frase para substituí-la:

a) Somos aquilo que podemos pagar.

b) Nem todos somos celebridades, mas todos podemos parecer uma.

c) Narcisista sim! E daí?

d) Sou um organismo cibernético. ( frase do exterminador do futuro)

e) O Ministério da Cirurgia Plástica adverte: “Não usar silicone pode causar queda de auto estima e exclusão social.”

f) Graciiinha! (Bordão da Hebe Camargo)

g) Outra, qual? Deixe sua sugestão:________________________________________