Grandes mudanças à vista
Embora quase negligenciado pelos meios de comunicação, a economia chinesa superou a americana, um dos fatos mais significativos das últimas décadas.
Com a quebra da hegemonia norte americana após quase um século de domínio inconteste sobre o mundo inteiro, estamos prestes a presenciar uma das maiores mudanças na história da humanidade. O mundo está trocando de mãos, seus donos logo serão outros. Tal mudança se refletirá em tudo, será drástica! Nossos valores mudarão, nossa visão de mundo, nossos desejos, gostos, tudo! Essa revolução extraordinária ocorrerá em uma velocidade espantosa, nos surpreenderá, será como a fragmentação de um espelho, em um momento tudo parecerá diferente.
Dada a importância do fato, pode-se facilmente prever consequências drásticas; mais difícil é imaginar quais serão elas, ou melhor, quais serão os rumos das alterações. Tentemos.
A primeira mudança drástica será o término do consenso. Temos vivido uma imensa farsa montada pelos meios de comunicação. O mundo nos chega através desse filtro; as notícias são selecionadas e interpretadas sob o mesmo ângulo. Temos todos, conjuntamente, uma mesma visão equivocada do mundo; quando os novos detentores do poder assumirem as rédeas, quando determinarem uma alteração de rumo, o solavanco será percebido; nesse momento todos acordarão perplexos, como se de um sonho.
Ao despertar do sonho fantasioso embalado pelos meios de comunicação perceberemos as drásticas mudanças ocorridas, os novos rumos do mundo, e perguntaremos como podemos deixar de ter notado a ocorrência de um fato tão significativo. Perceberemos, de imediato, termos sido enganados, distraídos pelos meios de comunicação; a mudança no eixo do poder vem sendo escamoteada por eles.
Notaremos em seguida, já guiados pelas novas diretrizes, o amontoado de mentiras que nos vinham sendo contadas, jogaremos no lixo um enorme acúmulo de memórias deturpadas, fantasiosas, inúteis, alimentadas longamente pelos meios de comunicação.
Durante esse breve instante de perplexidade viveremos, quase todos nós, um momento de enorme consciência conjunta, individual e coletiva. Teremos despertado de um pesadelo maligno, e descobriremos um mundo sujo e fragmentado ao redor, desleixado, abandonado aos cuidados dos poderosos que nenhum interesse tinham em toda aquela sujeira.
Desesperada, a maioria de nós se sentirá francamente incomodada com o caos aparente, clamará por uma nova ilusão que lhe angarie certa tranquilidade; a maioria buscará algum outro sonho, alguma nova ilusão onde mergulhar; haverá muitas.
Muitos mergulharão em viagens místicas, sucedâneos da ilusão consensual atual. Grassarão as seitas de todos os tipos e matizes, elas darão certo conforto aos órfãos do consenso.
Ainda que fictício, o consenso nos acalenta com a ilusão de conhecimento, com delírios sobre a verdade. A fragmentação nos fará sentirmos nus: não conhecemos a verdade, temos que nos contentar com conjecturas. As variadas seitas criarão quistos consensuais, unirão e confortarão pequenos grupos.
Assim, o despertar revelará, de imediato, a mudança no poder, nas regras do jogo, de todos os jogos; tal constatação exporá a farsa teatral construída pelos meios de comunicação, a profusão de mentiras na qual temos estado imersos. A revelação será incômoda, angustiante. Apesar disso, muitos tentarão manter a consciência e a sanidade, encararão o novo mundo, anteriormente encoberto por mentiras e efeitos especiais. Tentarão se precaver de novas farsas, se unirão no propósito de tentar manter o foco sobre o mundo, ainda que imersos na babel dos novos tempos.
A fragmentação do consenso nos legará a angústia da solidão; estaremos por nossa própria conta, não existirá mais um ninho para o qual voltar.
Angustiados, mas cônscios, observaremos a catastrófica situação de nosso mundo já à beira do colapso total; cortejados pelo desespero contemplaremos a imensa lixeira na qual temos transformado nosso mundo. Sabemos o que vimos fazendo com nosso planeta, mas despertaremos para seu real significado, para a rota suicida em que nos vemos em altíssima velocidade. Conhecemos o problema, não foi possível ocultá-lo; mas fomos levados a pensar que se trata de algo brando, superável. A ameaça ao nosso mundo é gravíssima, talvez já não haja mais volta. A consciência desse fato gritará alto e agudo em nossas mentes, ferirá. Como podemos ter sido levados a fazer tamanha bobagem? A consciência de que o fizemos por mera vaidade não abrandará nossa aflição.
Perplexos com a percepção das mudanças nas regras do jogo, irados ao despertar da ilusão do consenso, aflitos pela destruição iminente do planeta, confrontaremos nossos antigos valores; perceberemos com nitidez as consequências de nossa vaidade e da estruturação atual de nosso mundo. Nossas vidas atuais parecerão vãs, absurdas e insustentáveis, tentaremos negá-las, diremos: não, não éramos nós! Mas estaremos demonstrando apenas nossa impotência.
Buscaremos saídas. Atônitos, construiremos novos valores tentando negar os antigos pilares. Tentaremos nos desvencilhar do poder corrupto que nos iludiu, que nos levou a viver sob o encantamento de um delírio irreal que repudiaremos. Tentaremos nos despojar da vaidade que nos leva á glutoneria nojenta do consumo desenfreado, e nossas vidas atuais parecerão ridículas.
Parecerá ridículo um idiota exibindo-se a conduzir um veículo imenso, dimensionado para transportar vacas, impulsionado por um motor sedento e poluente. Assim como as imensas perucas empoadas de outros tempos, os babados e outros tantos enfeites incômodos nos parecem caricatos; a mim a exibição em carros desproporcionais se mostra ainda mais ridícula, mas tudo parece ser questão de costume.
Toda essa vaidade idiota parecerá sumamente ridícula nos novos tempos. Temos sido induzidos a desejar tais tolices; nem nossa vaidade nem nossa sandice têm limites, mas isso ficará claro.
Também nos veremos muito cruéis por tratar os bichos como o fazemos hoje. Será inaceitável para a maioria cuidar dos animais para depois abatê-los, atividade sumamente vil. O que pensaríamos de quaisquer criaturas que fizessem o mesmo? E temos feito outras atrocidades cada vez mais cruéis com as pobres criaturas que cativamos, podendo antever iniquidades ilimitadas perpetradas contra os seres dos quais, ao final, nos alimentamos. A consciência advinda do choque das descobertas permitirá avaliarmos o mundo despojados da sensação anestésica provocada pelo costume; perceberemos com clareza uma boa parte do absurdo incorporado aos nossos hábitos diários. O hábito de devorar animais será tido como selvageria extrema. Incidentalmente, o ambiente receberá forte alento com o fim de nossa carnivoria selvagem. Teremos clara consciência, também, que a ânsia ilimitada por lucros está na raiz de todos os grandes males. O poder sedento por lucros será visto como o grande vilão, quereremos nos desvencilhar dele, mas sem troca. Não vamos querer trocar nossos patrões, nossos donos, tentaremos nos libertar de todo jugo.
A história, essa ficção sempre reinventada pelo poder, será recontada, nosso passado também mudará.
A possibilidade de estarmos vivendo em um mundo virtual ficará explícita, a sensação de mudança na fase do jogo será bastante familiar.
Haverá também o temor de uma guerra iminente. Os antigos donos do poder não abdicarão de sua posse sem protestos, continuarão querendo dar as cartas, continuarão tentando impor seus desejos, sua visão de mundo, talvez lutem para manter antigos privilégios já solidificados.
Tudo isso é iminente, será impossível encobrir por muito mais tempo o gigantismo da maior economia do planeta, cada vez mais imensa; não tarda, cairá o pano.
Mais ainda que o mundo, mudarão serão nossos olhos; veremos o mundo sob novas cores, sob novos padrões, por vezes apavorantes; a ruptura é próxima, quase imediata. Terá sido como acordar de um imenso pesadelo.