Escola: cerébro da sociedade
“Gente é pra brilhar
e não pra morrer de fome”
Caetano Veloso
I. Introdução
Este artigo tem por objetivo caracterizar a escola na dinâmica da sociedade, como sendo uma das responsáveis pela criação e manutenção da cidadania e da identidade do educando . É de fato verdade que os regulamentos sobre a boa convivência social, bem como as regras do agir politicamente correto são fruto dos costumes e das legislações, mas são nos colégios que tais preceitos são ratificados, trocados ou até mesmo destruídos.
Nesse sentido cabe dizer que a Escola está para sociedade assim como o cérebro para corpo. A função de gerir tarefas essenciais, indispensáveis para o funcionamento de todo o organismo, faz da Educação Escolar algo tão necessário para a sociedade quanto o oxigênio para um neurônio.
Aliás, nessa comparação fisiológica, não é outro o papel do educador senão esta: um neurônio – aquele que no processo vital é o mediador dos estímulos e sensações entre a fonte e seus terminais. No mundo da educação, professor é aquele que serve como mediador entre aquilo que a sociedade que legitimar (cultura, ritos,, costumes, protocolos, atitudes, civismo, leis etc) com aqueles que ainda são – ou podem ser – cidadãos em processo de formação (crianças, jovens, selvagens e marginalizados).
Para exercer bem suas funções, os neurônios precisam estar saudáveis, pois desta maneira podem atuar com bom desempenho no organismo. Um exemplo simples do bom funcionamento do cérebro está em alguém que pratica atividades físicas regularmente, tem boa alimentação e lê bons livros, pois possuindo uma mente saudável conseqüentemente terá um corpo saudável – mens sana in corpore sano. O mesmo acontece com os professores, que precisam de estímulos para que possam exercer as funções que lhe cabem satisfatoriamente.
Segundo Gilberto Xavier um alto nível de stress pode levar o cérebro a liberam muita corticosterona, o que prejudica o bom funcionamento cerebral. Ele observa ainda que, quando se restringe a estimulação em alguma parte do cérebro por muito tempo, o resultado é uma perda de células naquela região, especialmente se o indivíduo for mais jovem. Algo similar ocorre com os professores, que, sem estímulos do Estado, são muitas vezes compelidos a abandonar o ramo docente.
Falta à escola pública brasileira – esse crânio tão fraturado – as tecnologia de cura tão presentes nos modernos centros tomográficos de vanguarda tecnológica, pois os problemas do ensino estatal do país não recebem “tratamentos sofisticados” de que precisam tanto. Trata-se de uma “cabeça” que, negligenciada, apenas agoniza e dói, dói, dói...
II. A morte do cérebro.
O cérebro comanda as atividades do corpo desde o piscar dos olhos até o funcionamento do coração. Quando há morte cerebral, os órgãos do corpo humanos não resistem e falecem. A escola apesar de sua importância tão eminente, ainda não é valorizada como tal e por isso tem levado setores sociais que lhe são ligados à decadência também.
Para muitos a escola é um “órgão” falido, assim como a família e a igreja. O que acontece na verdade é que a escola está seriamente adoentada, sem recursos para que possa trabalhar de maneira adequada e sem condições de exercer suas funções com esmero e excelência ideais.
É estarrecedor que, num momento em que a informática permeia praticamente todos os setores da economia brasileira, estando presente até em padarias, haja dezenas de milhares de escolas em que o público sequer conheça um computador. Bastassem todos os tipos de exclusão possíveis, a modernidade trouxe aos estudantes pobres mais uma modalidade de marginalização: a exclusão digital. Na realidade muitas escolas ainda utilizam recursos obsoletos como, por exemplo, o Mimeografo ou “cachacinha”.
As novas leis de educação sugerem boas idéias para a melhoria dos quadros atuais, mais não viabiliza nem financia as transformações estruturais necessárias parai isso.Quando o Estado dá aparelhos não fornece treinamento; quando fornece treinamento não dão aparelhos e assim passam os dias...
De acordo com os Parâmetros Curriculares da Educação, os educadores têm que trabalhar as habilidades e competências dos educandos, levando-os a desenvolver sua identidade e cidadania. Porém estes mesmos não dão às escolas e aos professores uma idéia de como trabalhar com pouquíssimas e precárias condições.
III. A depreciação dos neurônios
De que forma os neurônios (educadores) podem enviar estímulos ao corpo (sociedade) se eles não recebem mais qualquer tipo de estímulos? A desvalorização do professor é tamanha, que apenas melhorias salariais não seriam capazes de solucionar a problemática em que a escola está inserida. A depreciação do profissional em educação chega a ponto de a Secretária de Educação ir à televisão, referindo-se ao professor como “picareta”, “irresponsável”.
Para que os neurônios possam transmitir as sensações ao corpo é necessário que estejam saudáveis e em pleno funcionamento de seus hormônios. Entretanto, como é que um professor pode atuar na criação da identidade e da cidadania do educando se este já esta perdendo sua própria.
IV. Cérebro: privilegiados x renegados
Mediante a experiência em sala de aula em escolas públicas. È possível observar que num país em que a educação não é tratada como capital humano, e onde ela passa a ser um privilégio conquistado pela minoria, ela passa a atuar como o principal instrumento de concentração de renda. As escolas mesmo pertencendo a um mesmo órgão, Secretaria do Estado de Educação, recebem tratamento diferenciado, ou seja, escolas públicas situadas no Plano Piloto demonstram possuir uma realidade totalmente diferente das escolas situadas nas satélites.
Os educandos das escolas “privilegiadas” possuem um maior acesso a informática, a shows e outro eventos culturais, enquanto os alunos da periferia não têm que apenas televisão de péssima qualidade.
V. Considerações finais
A sociedade não pode aceitar a falência da escola pública, uma vez que a educação é de grande importância na instrumentalização da cidadania e na formação da individualidade e identidade das pessoas que estão inseridas no ambiente escolar.
Caso a sociedade aceite que a escola faleça, estará por cometer suicídio. Afinal, a partir do momento que não houver mais o cérebro, o corpo deixa de funcionar e morre e então o ambiente onde o aluno pode exprimir seus pensamentos e obter conhecimentos necessários a sua formação com ser humano e como cidadão virará apenas mais uma tese vaga de filosofia.