O Cheiro

Hoje teu cheiro estava pela rua. E eu, que há tempos tentava desesperadamente esquecer este cheiro, sentei-me ali, na calçada mesmo, apenas para sentir mais aquele cheiro. Não sei por quanto tempo fiquei assim. Talvez minutos. Talvez horas. Podem ter sido segundos, eu não lembro.

A recordação daquele cheiro, do teu cheiro do começo, no inicio, quando éramos só eu e você e você era completamente meu, incendiou minha mente com lembranças e sensações vividas. Eu vi seu rosto como na primeira vez em que, timidamente, fui até seu ouvido e baixinho, acanhada, sussurrei: “eu quero um beijo”. Sorri com a lembrança do seu olhar tímido, me admirando, me olhando atentamente enquanto eu falava. Quase pude sentir o toque de tuas mãos por meu corpo como na primeira vez.

Chorei. Ali mesmo, sem pudor algum. Sem vergonha alguma, mesmo quando algum desconhecido passava e me encarava, um confuso telespectador de minhas lágrimas. Chorei por saber que jamais sentiria aquele cheiro em você de novo. Por saber que você jamais, seria novamente a pessoa detentora daquele perfume.

Boba, eu, não havia percebido que aquele “até alguns meses” que você havia me dado naquela manhã fria, de “até logo”, de nada tinham. Você estava me dando adeus, mesmo que sem percebêssemos, e deixando um estranho no teu lugar. Ingênua, eu, que acreditei por tanto tempo que aquele estranho com a tua cara, tua fala e tuas manias, era você.

Como que em despedida, me permiti mais dois segundos daquele cheiro que a rua me trazia. E então, me levantei e fui embora. Nunca mais senti aquele cheiro de novo, e, se o senti, aceitei que meu olfato e coração não o reconhecessem mais.

Beatriz C Oliveira
Enviado por Beatriz C Oliveira em 26/02/2015
Código do texto: T5151382
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