Profundidade Superficial
Eu me sinto, espontaneamente,
excluída do convívio obrigatório
mesmo daqueles que me são
valorosos.
Observo as pessoas e as percebo,
claramente, insatisfeitas na profundidade
de seus interiores.
Parecem leves exteriormente, todavia, na troca de
meia dúzia de palavras, se mostram
alteradas, se mostram desestabilizadas.
A insatisfação manifestada por quem a sente
é demonstrada impulsivamente e a partir
de tal ato tudo se transforma e o que
poderia ser bom, se converte em
momentos tensos e desagradáveis.
Noto que as pessoas têm conversado
menos sobre coisas interessantes.
Aliás, não conversam nem sobre coisas
desinteressantes.
Parece-me que ficam felizes apenas por terem
a presença de alguém ao seu lado,
mas que na verdade se distanciam, absortos,
em seus aparelhos telefônicos.
Quando voltam à realidade, pegam
a conversa já iniciada e deduzem
o assunto do qual não estavam
participando, e quando se dão
conta estão ofendendo ou sendo
ofendidos.
A superficialidade me parece
que se transformou em uma nova
forma de vida.
Eu também tenho feito uso da
superficialidade, pois na realidade
sinto que não vale a pena qualquer
coisa com maior profundidade
do que sorrisos
e olhares asseverativos.
A exclusão opcional da
qual escolhi, deu-me tempo
e liberdade para me conhecer
melhor e aprender que é
gostoso me sentir inteira,
mesmo que incompleta.
Há sempre um modo de vida a ser escolhido.