Por que temo a ocorrência próxima de uma grande guerra?
Vejo 3 fortes tendências levando uma grande guerra iminente.
A economia americana foi, recentemente, superada pela chinesa, fato de extrema importância ainda que retirado da pauta dos meios de comunicação. Dada a ausência de notícias sobre o assunto, isso pode nos parecer inverossímil, ou pouco relevante; a importância dessa superação, no entanto é extrema.
A economia americana é gigantesca mas inflada por inúmeras bolhas, como um balde de água e sabão soprado com um canudo. Se tiver dúvida sobre esse fato, compare o valor real das companhias cujas ações são vendidas em bolsas de valores, e o valor total das ações, verá, claramente que não há estofo para os valores de venda. Ações são bolhas de ar, têm o valor dos sonhos. Uma parte considerável do mercado financeiro não passa disso, de sonhos. Funciona assim: cria-se uma nova companhia, sonham-se com seus lucros imensos, e colocam-se ações da companhia à venda na bolsa: serão comprados os sonhos, pagarão preço alto por eles.
Note que a parte real da companhia, a fábrica, por exemplo, estará na Ásia; a parte realmente lucrativa, inflada, nos EUA. Quando as bolhas começarem a estourar, procurarão pelo estofo, pelo que há de real naquele sonho, e o encontrarão na Ásia.
As rédeas do poder estão mudando de mãos. Um resultado imediato disso será a redefinição da arbitragem e das regras econômicas que exporão claramente as debilidades americanas. Tais mudanças, desfavoráveis aos EUA desencadearão uma nova crise antes que a de 2008 tenha sido superada. A explosão de uma nova bolha deixará claramente exposta a existência de inúmeras outras, sustentáculos da economia americana.
A crise sobre a crise, iluminando outras tantas crises iminentes geradas pela explosão de outras tantas bolhas, induzirá enorme apreensão, e insatisfação geral, fermentando o ambiente para a ascensão de um louco que resolva o problema mágica e imediatamente. A solução proposta será a destruição do inimigo. Caso isso ocorra antes do próximo governo americano, ouviremos clamores pedindo o ataque durante a campanha pela eleição presidencial americana no ano que vem, 16. O grande risco está em 2017, com um novo governo. O estouro de uma nova bolha antes da eleição teria um efeito devastador. Tal risco, embora real, depende dessa contingência, torçamos para que ela não ocorra.
O segundo grande risco decorre ainda mais diretamente da mudança de poder. Tendo dominado o planeta há décadas, os americanos estão acostumados a determinar as regras do jogo, de todos os jogos. O novo poder imporá novas regras, inaceitáveis aos antigos donos do mundo que responderão com a força. Não será fácil para aqueles que sempre determinaram todas as regras ver sua ordenação ruir, seu mundo desmoronar, abrindo espaço para a construção de um novo universo, estranho e desagradável para eles. Uma nova ordem se impõe, e os antigos donos do mundo deverão se submeter; nunca foram obrigados a isso, talvez se insurjam, ameaçarão usar o porrete. Talvez o usem.
O terceiro risco é tradicional, bem conhecido: a indústria bélica é poderosíssima, movimenta uma parte considerável da economia mundial e necessita de guerras constantes para se justificar e continuar existindo. Em um mundo pacífico a indústria bélica perderia o sentido e deixaria de existir, grave golpe na economia americana, o que impõe aos atuais donos do mundo a necessidade constante de cavar novos conflitos. Mas a abalada economia americana não permite mais os gastos astronômicos decorrentes das guerras. O mergulho em uma nova guerra afundaria ainda mais a economia americana favorecendo a vantagem econômica chinesa, levando os americanos, assim, a um impasse: ruirão com, ou sem, guerra.
A solução para o dilema consistiria num ataque à própria China: isso justificaria a necessidade da indústria bélica, seus gastos estratosféricos, e ao mesmo tempo ocasionaria a destruição do rival econômico, mantendo assim, da maneira usual, a antiga ordem vigente no século anterior.
As 3 razões acima me parecem fortíssimas; tenho certeza que viveremos um clima de enorme apreensão nos próximos anos, sob riscos imensos e iminentes. Uma única grande força, creio, pode, efetivamente, se contrapor a essa tendência.
Compreendemos relativamente pouco os fenômenos climáticos, mas sabemos que a explosão concomitante de muitas bombas nucleares pode, a exemplo dos vulcões, ocasionar o escurecimento do céu e desencadear um inverno nuclear.
A falta de luz teria efeito contundente nas colheitas, sendo difícil prever sua extensão, mas fácil deduzir a consequente escassez de alimentos ocasionando fome, morte e distúrbios generalizados por todo o planeta. Essa catástrofe seria seguida por outra, inversa, o aquecimento global e seus efeitos imprevisíveis. Difícil imaginar alguém que pudesse sair ganhando em circunstâncias tão bizarras.
Assim, devo resumir o absurdo da situação contemporânea no seguinte: 3 fortíssimas tendências convergem para a ocorrência de uma grande guerra, mas suas consequências tenebrosas ameaçariam os próprios vencedores do conflito. O ano de 2017 é crucial em razão do ritmo de crescimento chinês; em uns 10 anos a economia chinesa será o dobro da americana e sua força bélica será inexpugnável.
O imenso absurdo contemporâneo se revela no fato de que nossa esperança se sustenta apenas na bizarria consequente dos caminhos mais óbvios. Ou seja: os resultados do caminho mais óbvio, a guerra iminente, são tão dramáticos e nefastos para todos que não poderão ser desejáveis para ninguém. Resta-nos torcer para que a sensatez supere os violentos rancores.