Sobre vacas furadas e outras barbaridades
a grande guerra?
Imagine que chegássemos em um planeta habitado por seres inteligentes, donos de cultura e tecnologia incrivelmente desenvolvidas, mas que descobríssemos que tais seres parasitassem outros, e de maneira cruel e repugnante; que criassem outras espécies para depois abatê-las e comê-las. Ao descobrir tal fato, talvez passássemos a temer tais criaturas, e a considerá-las sumamente vis.
Cenas de matanças costumam nos chocar. Tendemos a achar cruéis os predadores; tendemos a ver crueldade no leão asfixiando a zebra, na matilha de cães cercando e matando o gnu. O que pensaríamos desses seres se suas vítimas tivessem sido criadas, cuidadas, por eles mesmos?
Somos seres que parasitam e matam outras criaturas. Em nosso planeta somos os únicos assim, tão vis.
Mas podemos nos acostumar com qualquer coisa, e nossa moralidade, nossa visão do certo e do errado se, baseia fundamentalmente no costume; um dia, no futuro, seremos racionais. Hoje achamos natural criar bois, porcos, carneiros, cabras, galinhas e outros para depois matá-los e comê-los; a prática é imemorial.
Recentemente, no entanto, temos feito atrocidades muito maiores. Temos gerado animais doentios mas lucrativos, monstrengos horrendos mas apetitosos; desenvolvemos tais criaturas, as criamos e depois as comemos. Temos criado umas monstruosidades irreconhecíveis, repugnantes à vista, mas valiosas no mercado; o que importa é o lucro. Não há limites para tais aberrações, guiados apenas pelo lucro desenvolveremos e criaremos seres cada vez mais aberrantes, monstruosidades repugnantes idealizadas para a saciedade da nossa gula.
Hoje temos, além dos monstrengos aberrantes criados por nós, nascidos já irremediavelmente deformados, criaturas estranhamente vandalizadas (não encontro palavra para descrever a coisa). É o caso das absurdas vacas furadas. Sujeitas ao confinamento, e a uma dieta inadequada e barata, torna-se lucrativo abrir um buraco na barriga da vaca para facilitar o controle de bactérias.
Comemos hoje bois, aves e porcos monstruosos, mas há algo ainda mais assustador: a medida do lucro. Livres de restrições éticas, morais, ou de qualquer outro tipo, exceto o desejo de lucro, continuaremos criando monstros cada vez mais repelentes. Tolhidos apenas pelo lucro geraremos criaturas inimaginavelmente grotescas que serão tratadas de maneira hedionda.
Cerceados apenas pelo lucro, e movidos pela ganância, geraremos bizarrices mais asquerosas do que podemos imaginar, desenvolveremos seres repulsivos como que saídos de pesadelos de mentes doentias. Restringidos apenas pelo lucro não haverá limites para a geração de monstruosidades. Os monstros somos nós.