Um texto sobre alma irmãs!

Sobre a poesia: Disse-me um poeta, certa feita, que ela não pode ser compreendida, apenas num olhar sentimental. E que só um poeta doente pode produzir uma poesia meramente romântica, sem ater ao lado da semântica ao estudo da língua, à uma construção estética regular, e, sobretudo à contemplação das formas vivas que nos cercam, que apriori, a poesia deve ser entendida como um modelo superior de filosofia natural, pela percepção de mundo e não só de sentimentos. Eu penso que não pode existir poesia sem sentimento.

Sobre o amor entre duas almas: tenho a dizer que é realmente possível. Vivemos por isso, em busca dessa parte que nos foi tirada, para darmos mais valor a existência. Todavia, ela só tem valor de fato, quando encontramos alguém com quem repartimos nossos sonhos, tristezas e alegrias... Não precisa ser poeta para entender isso: a leitura do óbvio, que o amor existe por termos criado esta possibilidade, que de sonho torna-se real. O desejo dá a luz a imaginação, a imaginação por sua vez produz o pensamento e a busca prossegue. Ao nascer já nos sentimos ligados à essa força inconsciente que nos conduz ao mundo dos sonhos, a um estado perfeito, onde tudo nos é possível, é como se ao chegarmos ao mundo sensível, à primeira vista nos sentíssemos só. Como se a nossa cara-metade tivesse nos deixado em alguma parada do universo. Na verdade não temos certeza em que lugar possa se encontrar essa “entidade” que mais nos parece um ser de outro mundo, que passamos a adorar mesmo sem conhecer, e para os iluminados que a conheceram em carne e osso, não há divindade que supere a devoção que esses lhe dedicam.

Escrever sobre sentimentos é tudo o que um ser humano deve fazer, é estudando a alma humana que podemos nos tornar mais humanos, mais nobres, sobretudo mais dignos dessa provisão celeste que é a vida. Toda filosofia se tornará inútil se não for recheada com um pouco de sentimento. Eis aí a importância do poeta dentro da alma do filósofo. Sua ‘alma gêmea.’

Evan do Carmo 24/08/06