Sobre a revolução contemporânea, dois pontos:
Os meios de comunicação têm dado pouquíssimo destaque às notícias mais importantes das últimas décadas:
1 O maior império global de todos os tempos está sendo superado economicamente.
2 O aquecimento global revela-se uma ameaça indubitável à espécie humana, impondo uma drástica alteração em nosso modo de vida.
A economia chinesa, provavelmente, já superou fartamente a americana, fenômeno que será evidenciado com a correção dos índices maquiados para minimizar esse evento. Isso impõe uma alteração no controle do mundo, que mudará de mãos. Os chineses estão assumindo a banca, dando as cartas; definirão, primeiro, os novos árbitros, em seguida, as novas regras do jogo. Os americanos estão sendo superados sob suas próprias regras e arbitragens, a alteração desses fatores lhes será um golpe contundente, sentirão.
Tendo dado as cartas por quase um século, os americanos não vão querer entregar os pontos com facilidade, lutarão. O risco de uma grande guerra é iminente, provavelmente, a última maneira de tentar manter o domínio sobre o mundo. A poderosa indústria bélica americana continuará exigindo alvos.
Uma guerra entre as duas grandes potências mundiais dividiria o mundo e se generalizaria, transformando-se em conflito entre os dois lados do mundo, ocidente e oriente. O maior impedimento a tal insanidade, creio, seja a expectativa de um inverno nuclear com resultados avassaladores e de proporções imprevisíveis.
Um conflito generalizado por todo o planeta poderia ocasionar, além da morte imediata de bilhões, vítimas diretas de bombas, o escurecimento dos céus cobertos pela poeira levantada por incontáveis bombas poderosíssimas. A escuridão esfriaria o planeta e impediria o crescimento dos vegetais. Sem alimentos, e sem estrutura para mobilização de ações organizadas, uma parcela enorme da população humana sucumbiria nos meses subsequentes. Os sobreviventes herdariam um mundo destroçado; sujo e vil; imprevisível quanto a todo o restante.
Um futuro tenebroso nos espreita. Temo 17.
Se formos sábios e muito menos insanos do que temos sido, no entanto, talvez consigamos evitar catástrofe tão medonha. Fartos e variados horizontes se abrirão, nesse caso. Contrariamente à direção globalizante empobrecedora das últimas décadas viveremos um período de florescimento da diversidade.
A globalização tem correspondido à homogeneização de todas as coisas, de todo o mundo. Concomitantemente ao aumento da produção, em geral, e à abundância decorrente disso, temos vivido um empobrecimento generalizado e absurdo, louvado em nome da globalização.
Vimos perdendo, avassaladoramente, todas as culturas locais, todas as diversidades. Temos perdido a variedade musical, literária, e artística, de modo geral; todas as danças são agora uma só, um único e mesmo estilo; todas as músicas têm a mesma roupagem. As comidas vão se tornando as mesmas no mundo inteiro, e até a sexualidade se torna homogênea. Temos reduzido toda a nossa diversidade cultural a uma única grande massa homogênea, um imenso hambúrguer gorduroso e insosso, um assombro lamentável. Contemporaneamente, ouvimos a mesma roupagem musical hamburguética onde quer que estejamos. Os temperos culturais locais que ainda resistem vão sendo eliminados constantemente, nesse sentido, impera o empobrecimento, a uniformidade.
A troca de poder imporá um novo ritmo, novas luzes. Os coloridos locais retornarão iluminados, agora, por diversos ângulos, e não mais pelo único ponto de vista empobrecedor dominante.
Os meios de comunicação serão cindidos, a fabricação do consenso eliminada. Haverá diversidade nas interpretações dos fatos, muitas luzes sobre cada um deles, diversos ângulos de iluminação. As artes recuperarão grande parte da diversidade prévia, do colorido local anterior, ganharão ainda enorme variedade adicional: diversidade é riqueza.
Duas novas ameaças se agigantarão tentando promover o empobrecimento homogeneizante: os mecanismos de busca na internet, e o controle das redes sociais, ambos terão que ser diluídos; serão.
Diversidade é riqueza, será esse o lema dos novos tempos, da nova era. As crenças científicas serão cindidas, estilhaçadas em mosaicos; o consenso nada tem de natural, tem sido imposto pelos poderosos. Os seres pensantes geram suas próprias ideias, suas próprias interpretações dos fatos, mentes livres só se permitem agir assim, livremente. Homens gnus os seguem, seguirão qualquer bandeira agitada à sua frente; tais criaturas pertencem ao passado, a um tempo que vai sendo enterrado.
A física será drasticamente cindida; o absurdo óbvio da adesão a teorias incompreendidas ficará explícito. O consenso é indicativo de manipulação, nossas mentes são diversas e inquietas; o consenso é sempre suspeito.
O mundo tem perdido o colorido da diversidade. Tem perdido, não apenas, o colorido dos pássaros e das florestas, não apenas a diversidade ecológica da natureza, mas toda a diversidade cultural humana. Temos sido transformados em uma massa homogênea como se liquefeita. Com a cisão do poder mundial as feições locais retornarão pungentes, será uma espécie de recuperação de nossa ecologia cultural. A música anglófona cederá lugar à música do mundo, a cultura anglófona dará espaço para a cultura de todo o restante do mundo. A pobreza pop homogênea cederá lugar à diversidade local, natural e prévia. A diversidade e o colorido estarão de volta.
Nossas mentes têm sido obviamente manipuladas, fato evidenciado nitidamente pelas preferências bastante homogêneas hoje, da mesma música, da mesmas manifestações culturais, no mundo inteiro, o fenômeno é recente.
Paira, no entanto, uma segunda forte ameaça. Nosso modo de vida predatório é insustentável, estamos gerando mais lixo do que o nosso mundo consegue reciclar; o resultado é óbvio: acúmulo de lixo por todo o planeta. Recipientes plásticos, restos de embalagens, pneus, e dejetos em geral emporcalham todo o planeta, mas é o ar que se altera de maneira mais drástica. A queima de derivados de petróleo, principalmente, joga na atmosfera, constantemente, uma enorme quantidade de gás carbônico e outros, em uma quantidade muito superior à capacidade de reciclagem, de modo que a atmosfera vai acumulando esse gás, além do metano, modificando assim sua composição; o resultado da modificação atmosférica é o aquecimento global, consistente no aumento geral de temperatura no planeta, e de alterações nos regimes de chuvas locais; alterações que podem matar as florestas, modificando ainda mais as condições climáticas. O derretimento do gelo polar consequente do aumento de temperatura também reduz a reflexão do calor irradiado pelo sol, além da liberação de metano aprisionado sob o gelo. As modificações ameaçam chegar em um ponto tal que causarão, inexoravelmente, mais modificações, gerando o caos, dificultando nossas condições de vida, deixando o mundo no limite de nossas condições de sobrevivência.
A solução para tal impasse é simples e bem conhecida, temos que reduzir nosso consumo, especialmente o de petróleo. Não sendo renovável, a queima de petróleo gera dejetos que não serão reciclados, que se acumularão.
Queimamos petróleo muito mais por vaidade que por qualquer necessidade. Utilizamos veículos imensos para o transporte individual, movidos por motores poderosíssimos, capazes de transportar dezenas de pessoas. Por mera vaidade são usados para transportar só um.
Também embalamos nossos produtos em plásticos chamativos frequentemente muito maiores e mais resistentes que os produtos, esses também, quase sempre desnecessários, ou excessivos.
Compramos garrafas d'água, cujo produto será consumido de imediato, mas cuja embalagem perdurará emporcalhando o planeta, provavelmente, por milênios.
A mania de consumo, inevitavelmente, destruirá nossa condição de sobrevivência.
Temos que mudar nossos hábitos, não há nenhuma dúvida sobre isso. O consumo crescente nos causará problemas insuperáveis, não há dúvidas. Os donos do poder têm, de maneira completamente irresponsável, estimulado um modo de vida devastador, predatório, insustentável.
Temos sido ridículos.
Por mera ostentação, por exibição, geramos, cada um de nós, montanhas de lixo. Creio que o maior símbolo de nossa tolice sejam os carros imensos, ridiculamente desnecessários. Estimulados pelos poderosos que garantem o seu poder impondo a nós esse tolo modo de vida, vamos comprando inutilidades por mera vaidade. Esse esbanjamento estúpido chegou ao limite, sua continuidade significará nosso fim. Teremos que mudar, ou sucumbiremos.
Entrelaçam-se, assim, os dois mais importantes fenômenos sociais contemporâneos, a alteração no eixo do poder, e a impossibilidade de continuação de um modo de vida absurdamente frívolo e esbanjador. Se conseguirmos evitar a guerra teremos que mudar nosso modo de vida, ambas as ameaças correspondem a grandes riscos para nossa sobrevivência. Os dois futuros sombrios são assim contrapostos aos ventos de mudança. Será a racionalidade que nos salvará, não o mergulho obtuso na escuridão da ignorância.
Temos sido manipulados e enganados. Temos sido tangidos, como gado, a um pensamento único, a um consenso generalizado e tolo, levados a um modo de vida destruidor e vazio. Lutamos por posições sociais, pelo enriquecimento, pela aquisição de bens inúteis, centrando nisso as nossas vidas para, ao final, perceber em algum momento de lucidez, o completo despropósito de toda a nossa vida. Torna-se claro que o imenso rebanho se dirige a um precipício.
Abrem-se à nossa frente vários caminhos, uns tenebrosos como a guerra e o suicídio ecológico, outros iluminados, como o colorido retorno à diversidade cultural em todos os níveis.