Andar em Labirinto

Andar em labirintos é a primazia da busca por uma saída, porém, qual saída? Não há saída errada nem certa, somente saída. Mas, se ao sair concluir que não escolheu a porta certa, quem sabe tentar voltar pode ser uma outra saída. Sair para chegar, eis, o paradoxo, eis a incansável busca, e a luta, que nos condena a andar em ziguezague.

A louca saída que cada um busca não se esgota no primeiro encontro, nem nos outros tantos que virão. Essa saída demanda tempo de conhecer-se mais a si próprio, ao passo que o outro, sem saber, ou porque não parou para pensar sobre isso, pode ser a possível saída desejada àquele que o procura. Não há Crime nem Castigo que deva ser aplicado; a busca pela saída nos impõe tantas e inumeráveis portas, que querer acertar aquela que nos parece adequada, às vezes, nos indica o abismo. E uma vez em queda livre, não lhe restará nada além da certeza de aceitar a realidade como o prenúncio da perda definitiva. E quando já se tornar impossível a volta ao estado anterior, a turvalidade da vista com o quadro desenhado, não restará alternativa senão conformar-se e lamentar.

Já faz tempo que o Homem se busca, porém, nunca se encontra, afinal, nadá é mais doloroso do que se deparar com nossos enganos, com nossas fraquezas, com nossas dúvidas. Não é sem sentido que nos muitos tempos, a indústria farmacêutica tem crescido. Também não à toa que investimentos em novas drogas tem ocupado cifras astronômicas, mesmo porque, a ansiedade, a insonia, as síndromes, todas essas "patologias" servem de anteparo para que a busca pela felicidade seja comprada na primeira farmácia. E então, vem o desespero, o medo de olhar-se no espelho e não se reconhecer. E quando já ter chegado a hora de ir para a cama, tudo gira como se estivese num redemoinho. Pensamentos difusos adquirem tamanha força que nada o faça dormir. E como no seguinte terás que trabalhar, produzir para sua Vida tenha mais sentido, um comprimidinho ajuda. Parabéns!! você buscou o descanso, você venceu a insonia, você dormiu. A saída que encontrou o levou para outra dimensão. Porém, quando o efeito já tiver se esgotado, o transcorrer do dia será o mais longo de todos os dias.

Mas não é dessa saída que estamos falando. Falamos daquela saída que nos empurra, que nos pressiona para que nos encontremos conosco mesmos. Essa saída não é única, nem nunca será a primeira. Outras tantas serão testadas, outras tantas terão que ser testadas para que a vida seja vivida, para que a vida tenha como sua referência a possibilidade do encontro, do novo. Então, mesmo que tenha a sensação de que já vivera tudo, mesmo que pense que todas as possibilidades foram testadas, lamento em dizer, mas, não se engane. Não espere que a vida lhe dê de mão beijada o que deve ser conquistado. Não pense e não se (auto)engane que já tenha vivido tudo plenamente. Nunca se vive tudo por inteiro, nunca se vive tendo a falsa crença que não há mais espaço; sempre haverá espaço, sempre haverá outra parte para ser preenchida, sempre haverá o fio de Ariadne para lhe mostrar a saída. E então, em posse desse fio, em posse da certeza de que há um mundo a ser conquistado, em posse do voluptuoso desejo de que todos os amores foram únicos e verdadeiros enquanto vividos, não tenha medo, não tenha nenhum receio do que já vivera, nem, tampouco, não tenha medo de correr riscos; aventura-se à Vida e sejas feliz. Mesmo porque, o abismo não está no passo em falso, mas, na escolha adiada.